Woody Allen em Caracas, mas nao para uma comedia romantica, ao contrario...
Diplomacia e Relações Internacionais

Woody Allen em Caracas, mas nao para uma comedia romantica, ao contrario...


"Bananas" é, possivelmente, o PIOR filme do jovem Allen, ainda cheio de estereótipos sobre a América Latina, misturando Cuba, México, o resto da América Central, enfim, uma confusão dos diabos e um filme horroroso, para chorar de raiva, não de riso.
Pois bem, o filme "Bananas" ainda parece bem melhor do que a comédia horrorosa que se passa atualmente na Venezuela, para chorar de desespero, pelo menos os venezuelanos, coitados.
Um dia os venezuelanos ainda vão rir do ridículo que estão passando. Por enquanto é viver no desespero...
Paulo Roberto de Almeida

Uma farsa atrás da outra

06 de outubro de 2013 | 2h 08
Editorial O Estado de S.Paulo
Parecia uma cena copiada de Bananas, a clássica comédia de Woody Allen, filmada em 1971, sobre golpes e revoluções na América Latina, em que o autor interpreta um impagável Fidel Castro. O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, surge em rede nacional de TV para anunciar, em meio a um patriótico discurso comemorativo de uma batalha travada há 200 anos no norte do país, a expulsão de três diplomatas americanos. Ele os acusa de "fazerem ações (sic) para sabotar o sistema de eletricidade" nacional. E apela para o velho mote: "Yankees, go home!".
Na Venezuela chavista, diferentemente da máxima de Marx de que a história se repete primeiro como tragédia, depois como farsa, a história oficial é uma sequência interminável de farsas. Em março, pouco antes de comunicar a morte do caudilho a quem havia sucedido ainda em vida, Maduro mandou expulsar dois adidos militares dos Estados Unidos, sob a acusação de urdir "planos desestabilizadores". Na semana passada, deixou de participar da Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, alegando riscos à sua "integridade física".
O trio inclui a principal enviada de Washington a Caracas, a encarregada de negócios Kelly Keiderling. Desde 2010, as respectivas representações estão sem embaixadores, embora os EUA sejam o maior comprador do petróleo venezuelano. Antes de se ir, a diplomata tomou a incomum iniciativa de convocar uma entrevista para responder à delirante versão de que ela e seus dois colegas haviam instigado atos de sabotagem contra o sistema elétrico venezuelano, além de repassar fundos à oposição, tendo em vista as eleições municipais de 7 de dezembro próximo no país.
O governo americano reagiu conforme o protocolo. Repeliu a invencionice contra os seus representantes e expulsou igual número de diplomatas venezuelanos. Com isso, esfumam-se as irrealistas expectativas de que a morte de Chávez pudesse levar a uma distensão das relações bilaterais, depois de 14 anos de ataques do bolivariano ao "maldito império del dólar", com o qual nunca deixou de fazer negócios.
Mas, como sempre, tudo vale na tentativa de jogar areia nos olhos do povo e impedir que o partido do regime se saia mal no pleito que se aproxima - e que Maduro considera um referendo sobre a sua gestão. Ela tem sido um completo desastre. Nada, rigorosamente nada, melhorou para os venezuelanos desde a eleição encharcada de fraudes do antigo vice de Chávez, em abril último. A rigor, quase tudo piorou. Segundo o Banco Central da Venezuela, o desabastecimento subiu para 20%, puxado pelos bens de consumo cotidiano - do leite ao papel higiênico. A inflação é da ordem de 40%, a mais alta da América Latina.
No paralelo, o dólar vale 42 bolívares, ante 6,3 no oficial. O volume das reservas em moeda forte desceu ao menor nível em nove anos, amputando a capacidade do país de importar gêneros de primeira necessidade, pagando em dólar. A criminalidade, a corrupção e os apagões seguem o seu curso habitual. Assim também as farsas. Maduro fala em adotar "medidas especiais" contra os meios de comunicação que estimulariam a corrida aos supermercados ao abordar a crise de escassez no país.
Seria um caso típico da proverbial profecia que se cumpre por si mesma, não fosse por um detalhe que desmancha a teoria conspiratória da "guerra psicológica contra a segurança alimentar do povo", no dizer de Maduro. Vários periódicos, sobretudo no interior, tiveram a circulação suspensa ou simplesmente fecharam por falta de tinta e papel de impressão. "O governo acusa os empresários privados de provocar desabastecimento", protestou o presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa da SIP, o uruguaio Claudio Paolillo. "Mas omite a falta de insumos para a publicação de jornais, sendo o único responsável por permitir sua importação." Maduro quer evitar a todo custo que o desabastecimento se torne tema da campanha eleitoral, constata o sociólogo venezuelano Luis Vicente León. "Por isso, ameaça a imprensa com a censura ou a autocensura."




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