Venezuela muda taxa de câmbio para turismo e setor de petróleo
O Globo, 23/12/2013
- Desvalorização de 44% do bolívar tenta atrair visitantes e investimento
CARACAS - O governo da Venezuela desvalorizou nesta segunda-feira sua moeda para turistas estrangeiros em 44%, após o bolívar atingir recorde no mercado paralelo. Agora, os turistas que visitam o país podem fazer câmbio na proporção de um dólar para 11,3 bolívares, em comparação com a taxa oficial de 6,3 para a maioria das outras transações. Investimentos no setor petrolífero também serão beneficiados pela nova taxa de câmbio, definida em leilões semanais de moeda. A taxa de leilão, porém, não foi divulgada nesta segunda.
Em fevereiro, o governo já havia desvalorizado a moeda em 32%, para 6,3 bolívares por dólar. Apesar das intervenções, o Banco Central tem sido incapaz de deter o declínio da moeda no paralelo, onde empresas e indivíduos chegam a pagar até 64 bolívares por dólar. O presidente Nicolás Maduro reiniciou os leilões de divisas paralelas, conhecidos como sistema Sicad, há dois meses, para reduzir a escassez de produtos de bens importados antes do Natal.
Crise de abastecimento
A partir de agora, os turistas vão poder vender até US$ 10 mil por ano pela nova taxa de câmbio. Para os venezuelanos, no entanto, o cenário é o mesmo. Com graves problemas de desabastecimento de uma série de produtos, que vão de papel higiênico a alimentos, passando por eletrodomésticos, o bolívar já perdeu 73% de seu valor no mercado paralelo este ano, de acordo com dados do site de rastreamento de taxa dolartoday.com.
A divulgação da nova faixa cambial, porém, foi recebida com ceticismo por economistas e analistas.
- Toda vez que eles (governo) anunciam uma nova taxa de câmbio para um setor é uma desvalorização para esse setor - disse o analista do Barclays Alejandro Grisanti.
- Nenhum turista com um mínimo de informação vai trocar dólar por bolívar pela nova taxa oficial, que ainda está muito abaixo do mercado paralelo - disse Asdrubal Oliveros, diretor da empresa de consultoria Ecoanalitica.
Uma década de controles cambiais tornou os dólares cada vez mais escassos no país, com reservas internacionais caindo para um mínimo de nove anos neste mês. A oferta restrita da moeda americana para as empresas tem levado à queda nas importações que vão desde pneus a carne. Compras menores do exterior empurram para cima o preço de bens, fazendo com que a inflação anual tenha atingido 54% em outubro, a maior taxa entre as 103 economias acompanhadas pela Bloomberg.
Maduro, por sua vez, nega o descontrole de preços e atribui a inflação e a escassez de produtos às ações do mercado paralelo e à sabotagem econômica promovida por seus adversários políticos.