Brasília (DF) – O agravamento da situação na Venezuela foi duramente criticada nesta quinta-feira (20) pelo presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves. O tucano cobrou do governo brasileiro uma “posição firme e equilibrada” em favor da democracia e da busca pelo diálogo. Para ele, é fundamental que o Brasil e os demais países se esforcem pela paz na região.
“O agravamento da situação na Venezuela, com a violência da resposta das forcas oficialistas e o desrespeito aos direitos da cidadania, exige uma posição firme e equilibrada do governo do Brasil e dos lideres democráticos para que haja reabertura do dialogo e se restabeleça o clima de paz e confiança próprio dos regimes constitucionais”, ressaltou o senador.
Aécio lembrou que a Venezuela é um país-irmão do Brasil. “Nessa hora difícil para o país irmão, o PSDB acredita que a tomada sectária de partido em defesa do governo, como fez o presidente do PT, em nada contribui para a reconstrução da almejada concórdia [concordância] dos venezuelanos”, disse.
Segundo o senador, é essencial buscar o entendimento. “É hora para estabelecer pontos de entendimento, não para aumentar conflitos. Esperamos que o governo brasileiro atue em beneficio da paz e do fortalecimento da democracia na Venezuela”.
Desde o início dos protestos nas principais cidades da Venezuela, especialmente, Caracas seis pessoas morreram. Ontem (19) uma cena chocou o mundo: Génesis Carmona, de 22 anos, miss e modelo profissional, foi atingida com um tiro na cabeça e não sobreviveu.
A presidente Dilma Rousseff não se manifestou sobre a violência das manifestações na Venezuela.
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O silêncio do Brasil, por José Aníbal
Eu entendo que este governo nutra pela Venezuela chavista boa dose de admiração, além de respeitosa lealdade. Também compreendo as afinidades existentes entre os dois. Mas a condescendência do Estado brasileiro com a degeneração institucional da Venezuela e com a escalada da violência política atenta contra a nossa história e tradição diplomática.
Com relatos de truculência e prisões arbitrárias, lá se vão 15 dias de protestos ininterruptos. O maior deles, há uma semana, terminou com três mortos e quase 30 feridos. Milícias têm atuado contra adversários e manifestantes sob os bigodes do Estado. A imprensa foi dobrada. A oposição protesta contra a omissão de organismos multilaterais e de vizinhos, Brasil à frente.
O presidente Nicolás Maduro reagiu como de costume: criando factoides. Denunciou uma conspiração golpista e expulsou diplomatas americanos. Criminalizou os partidos de oposição e prendeu inimigos. Convocou e insuflou partidários para enfrentar os manifestantes. Por fim, solicitou aos governos amigos na região que fizessem vista grossa e que se calassem. E foi atendido.
O voluntarismo messiânico dessa escola política parece ser incapaz de entender e de tolerar o sistema de contrapesos da democracia. Se o governo é ruim, como é o da Venezuela, o sistema republicano não perdoa. À mercê de estruturas mentais superadas e portador de um heroísmo fraudulento e autoritário, Nicolás Maduro não é mais do que uma figura patética.
Que ele fale com Chávez por meio de passarinhos, é um problema do povo venezuelano. Que o Brasil abandone seus princípios e enxovalhe sua trajetória diplomática, é um problema nosso. Foi o nosso multilateralismo e a vocação para a resolução pacífica de controvérsias que fez de nós líderes do continente. Quando a gente acha que este governo não pode mais se rebaixar, ele se supera.
José Aníbal é economista, deputado federal licenciado e ex-presidente do PSDB.