Dilma: governo está pronto para agir no câmbio |
Cristiane Jungblut e Fernanda Godoy |
O Globo, 23/09/2011 NOVA YORK e WASHINGTON. A presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que o governo enfrenta a volatilidade do dólar com tranquilidade, e avisou que “ainda” não foram adotadas medidas extraordinárias para acalmar o nervosismo do mercado. Ela deixou claro que o governo está “completamente pronto” para isso, se necessário. A presidente, que encerrou ontem a viagem de cinco dias a Nova York, disse que o Brasil tem que se preparar para a nova fase da crise global, que será de recessão ou estagnação prolongada. Dilma disse não acreditar que a economia internacional sairá da crise adotando mais medidas recessivas e cobrou uma solução imediata para a Grécia. Sobre a inflação brasileira, reiterou que a preocupação é constante. Segundo ela, como o Brasil sofre as consequências indiretas da crise na Europa e nos EUA, o país tem o direito de discutir as saídas: — Não estamos tomando ainda nenhuma medida não usual. São as mesmas medidas de sempre, como swaps. Também ainda não compramos dólares em quantidade, porque acredito que as coisas vão se ajustar. Mas estamos prontos, completamente prontos. Não somos responsáveis pela crise e não somos aqueles que sofrem a crise diretamente, não há a menor dúvida. Mas também não se pode alegar que não soframos as consequências indiretas da crise — afirmou a presidente. Após conversar com os presidentes dos EUA, Barack Obama, e da França, Nicolas Sarkozy, e com o premier britânico, David Cameron, Dilma disse que a solução para a crise na Grécia não pode esperar até a reunião do G-20, em Cannes (França), nos dias 3 e 4 de novembro. — É importantíssimo que a prioridade seja dada à solução da crise soberana, que se constitua um processo de resgate ordenado da Grécia, que delimite os efeitos e as consequências da situação grega, impedindo que ela afete outras economias. A presidente criticou a política da União Europeia (UE) para a Grécia: — Não creio em uma saída que obrigue a Grécia, sistematicamente, a fazer cortes de 20%, cortar todo o seu funcionalismo público, vender o Parthenon. Além de vender o Parthenon, o que mais que ela pode vender? As ilhas gregas? Não acho que essa solução seja correta. Eu não posso te convidar para uma festa de debutantes e não deixar você comer o bolo. Dilma reiterou que o Brasil está sempre preocupado em combinar crescimento com controle da inflação. — Tudo indica que a tendência internacional é deflacionária. Mais cedo ou mais tarde, essa característica vai ocorrer no mundo. Nossa preocupação com a inflação é perene. Sempre o nosso olhar está divido entre olhar a inflação e, ao mesmo tempo, sustentar o crescimento. E combinar essas duas formas de perceber a questão. Para Mantega, alta do dólar é aversão a risco Segundo ela, o país “não pode ficar pregando receituários para o mundo”, mas quer assumir suas responsabilidades: — Uma das nossas responsabilidades é garantir que a economia internacional não tenha um crescimento muito baixo. É uma responsabilidade dos emergentes, porque somos o segmento hoje que segura o crescimento internacional e queremos participar da solução. Dilma afirmou que o Brasil está disposto a contribuir politicamente para a solução da crise, mas não dará dinheiro de suas reservas para um fundo de estabilização: — Vou muito claramente ao ponto: o governo brasileiro não acha que nós solucionaremos o problema europeu, por exemplo, colocando o dinheiro das nossas reservas no fundo de estabilização, porque não é esse o problema. Nós faremos qualquer medida que o mundo reparta entre si desde que fique claro qual é o caminho que querem adotar. Não achamos que a questão é falta de dinheiro, mas falta de recursos políticos. Ao falar sobre guerra cambial, Dilma voltou a criticar a falta de articulação internacional para a formulação de políticas macroeconômicas, e criticou as políticas monetária e de juros do Fed (o banco central americano): — Mesmo entendendo por que é importante para alguns países expandirem a sua política monetária e colocar seus juros a zero, este fato cria uma competitividade indevida. Enquanto houver esse tipo de procedimento, haverá guerra cambial. Dilma disse que a valorização recente do dólar não foi um fato isolado no Brasil, mas sim um movimento internacional. Já o ministro da Fazenda, Guido Mantega, avaliou ontem como um movimento normal a desvalorização do real em relação ao dólar, como parte de uma aversão a risco: — Estamos tendo um movimento paradoxal, porque até recentemente era o dólar que estava se desvalorizando. Mas quando o risco aumenta, o movimento é contrário. COLABOROU Fernando Eichenberg |