A atitude da gigante da tecnologia é um incômodo para a NSA e os censores chineses
O Google começou a criptografar rotineiramente buscas realizadas na China, o que representa um novo desafio para o poderoso governo da nação, que censura a Internet e rastreia o que os indivíduos estão vendo online.
A empresa afirma que a medida faz parte de uma expansão global de tecnologia de privacidade projetada para frustrar a vigilância por agências governamentais de inteligência, a polícia e os hackers que, com ferramentas amplamente disponíveis, podem ver emails, consultas de pesquisa e chats de vídeo que deveriam ter conteúdo protegido.
O sistema de vigilância da China, conhecido como “O Grande Firewall da China”, vem interceptando há tempos usuários à procura de informações consideradas politicamente sensíveis. A pesquisa criptografada significa que os monitores do governo não conseguem detectar quando os usuários pesquisam termos sensíveis, tais como “Dalai Lama” ou “Praça Tiananmen”, porque a criptografia faz com que surjam sequências sem sentido aparente de números e letras. China e outros países como a Arábia Saudita e o Vietnã, que censuram a Internet a nível nacional, ainda terão a opção de bloquear os serviços de busca do Google por completo.
Mas os governos terão mais dificuldade em filtrar termos de busca específicos. Também se torna mais difícil identificar quais pessoas estão buscando informações sobre assuntos sensíveis, dizem especialistas. A iniciativa é a mais recente – e talvez a mais inesperada – consequência do vazamento de documentos confidenciais pelo ex-funcionário terceirizado da CIA Edward Snowden, detalhando a extensão da vigilância do governo americano na internet. O Google e outras empresas de tecnologia responderam com novos investimentos em criptografia.
Google na mira da China
As autoridades chinesas não responderam a perguntas sobre a decisão do Google para criptografar rotineiramente as pesquisas, mas o movimento ameaça elevar as tensões de longa data entre a gigante da tecnologia americana e a nação mais populosa do mundo. “Não importa qual é a causa, isso vai ajudar internautas chineses a acessar as informações que eles nunca viram antes”, disse Percy Alpha, o co-fundador da GreatFire.org, um grupo ativista que monitora a censura na China. “Vai ser uma enorme dor de cabeça para as autoridades chinesas. Esperamos que outras empresas sigam o Google para tornar a criptografia um padrão”.
O Google começou a oferecer busca criptografada como uma opção para alguns usuários em 2010 e tornou a proteção automática para muitos usuários nos Estados Unidos em 2012. A empresa começou a criptografar o tráfego entre seus centros de dados depois que o Washington Post e o Guardian publicaram matérias sobre a extensão massiva da espionagem feita pela Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA). Microsoft e Yahoo, logo em seguida, também tomaram iniciativas semelhantes. A busca criptografada veio mais lentamente em outras partes do mundo e, especialmente, para aqueles que utilizam navegadores mais antigos.
O Firefox, o Safari e o Chrome têm suporte para a criptografia do Google, mas as gerações mais antigas do Internet Explorer, da Microsoft, — ainda populares na China e em grande parte do mundo em desenvolvimento — não. O Internet Explorer 6, que foi lançado pela primeira vez em 2001, não suporta pesquisas criptografadas do Google e representa 16% do tráfego da internet chinesa, de acordo com NetMarketShare.com, que controla o uso de navegadores na Rede.