Diplomacia e Relações Internacionais
Inflacao alta: barbeiragem do BaCen, diz Alexandre Schwartsman
Está tudo dito...o que é possível de se dizer.
O que não é possível eu digo: o BC, ou o Copom, renunciou a ter postura própria; tornou-se um serviçal do Palácio do Planalto, e acredito que vários dos membros do Copom já estão pensando em pedir demissão. Se não pedem, é porque têm mais afeição a cargos que à honestidade intelectual.
Paulo Roberto de Almeida
Inflação elevada é barbeiragem do BC, diz SchwartsmanBeatriz Olivon
Revista
Exame, 14/04/2013
Segundo o economista Alexandre Schwartsman, a autoridade monetária está “com pé trocado” e usa instrumentos errados para controlar a subida de preços
Para Schwartsman, se a Selic não subir amanhã, significa que o BC adiou para maio - e se não subir em maio significa que o BC não tem autorização para subir juros
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São Paulo – Desde 2010 a inflação não encerra o ano no centro da meta (4,5%) , ou sequer próxima dele. Crítico do comando atual do Banco Central, o economista Alexandre Schwartsman, que já foi diretor de assuntos internacionais do BC em (2003-2006), e hoje é sócio-diretor da Schwartsman & Associados Consultoria Econômica, não vê independência nas decisões da instituição.
“O Banco Central abandonou o centro da meta de inflação há muito tempo e hoje se contenta em ter inflação abaixo de 6,5%”, disparou o economista, que vê “truques” ao invés de política monetária nas medidas adotadas recentemente pelo governo.
Confira os melhores trechos da entrevista concedida por Schwartsman à EXAME.com:
EXAME.com - O Banco Central está demorando para atuar sobre a inflação?
Alexandre Schwartsman - O Banco Central está com o pé trocado desde 2011. Não estamos com a inflação varando o teto da meta por acaso, isso foi barbeiragem de política monetária, e o BC segue na barbeiragem.
EXAME.com - O comportamento recente do BC é um indício de falta de independência?
Schwartsman - Não é indício, é documento assinado embaixo.
EXAME.com - Na semana passada, o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, declarou que as medidas que forem necessárias para combater a inflação elevada seriam tomadas pelo governo, mesmo a elevação da taxa de juros quando necessário...
Schwartsman - Eu me espanto como isso passa batido, o Mantega diz que vai subir juros, mas não precisa de tiro de canhão, mas depois diz que não se manifesta sobre juros sendo que acabou de falar. Ele está se manifestando e a presidente da república a mesma coisa. A Dilma faz uma reunião com três economistas de fora do governo, sendo que dois deles vendem serviço de consultoria, e os três abençoam alta modesta de juros. O BC é independente?
EXAME.com - Se, no final do ano, a inflação ficar acima do teto da meta, o que pode acontecer além da Carta Aberta? (quando ocorre o descumprimento da meta de inflação, o presidente do BC precisa enviar uma carta aberta para o ministro da Fazenda, com os motivos do descumprimento e as providências e prazo para o retorno)
Schwartsman - Talvez uns tapinhas nas costas. Como o governo poderia culpar o presidente do Banco Central por isso? No máximo pode dizer que ele foi subserviente demais e que deveria ter sido mais altivo. Em outros tempos de BC o presidente do BC decidia e então havia o direito de cobrá-lo. Mas no máximo é uma cartinha.
EXAME.com - As medidas de manutenção do IPI, desoneração de cesta básica e outras do tipo, têm algum efeito sobre o crescimento?
Schwartsman - Maior crescimento não vai ter, o problema não é esse. Esse tipo de medida não é para crescer, é para impedir que a inflação ultrapasse o teto da meta. Se o corte nos preços de energia não tivesse sido feito, estaríamos contemplando a possibilidade de chegar ao teto da meta. Com o corte, ganhamos fôlego. A mesma coisa ocorre ao adiar aumento de IPI, segurar combustível, desonerar cesta básica, você consegue um fôlego extra para chegar abaixo de 6,5%. O objetivo é esse, mesmo dizendo que isso é para crescer mais e dividir renda.
EXAME.com - Há outros países que adotam esse tipo de medida para tentar diminuir a inflação?
Schwartsman - Vemos em outros lugares (o uso desse tipo de medida para tentar diminuir a inflação) mas também é errado, se você pensar do ponto de vista do controle de inflação. Não erramos sozinhos, tem lugares que fazem coisas piores que isso, como a Argentina. Isso não quer dizer que têm sucesso em controlar a inflação. Se fosse possível controlar inflação controlando preços não haveria inflação em lugar nenhum do mundo. O que você consegue são efeitos temporários sobre o efeito de preços, mas não muda a trajetória de inflação, você só não deixa o termômetro marcar o montante preciso, se o objetivo é esse, não deixar o termômetro passar de 6,5%, você pode dizer que é um sucesso, se o objetivo é levar para a meta, foi um fracasso.
EXAME.com - Qual sua projeção para a Selic que será definida na reunião do Copom dessa semana?
Schwartsman - Todas as indicações mais recentes são de que o Comitê vai antecipar o começo do ciclo de aperto. Em algum momento parecia que ia começar em maio, agora parece mais provável que comece amanhã mesmo. O movimento agora é pequeno, de aumento de 0,25 ponto percentual (atualmente a Selic está em 7,25% ao ano) e eu não vejo um ciclo total muito carregado, no máximo na casa de 1,50 ponto percentual, terminando o ciclo em 8,75%.
EXAME.com - Essa elevação de 0,25 ponto percentual faria efeito?
Schwartsman - Obviamente não. A questão não é subir 0,25 p.p. , o mais importante é o comportamento de taxas mais longas, que incorporam as expectativas de mercado sobre o tamanho do ciclo total. Não é o 0,25 que faz diferença se não fizer mais nada. É um ciclo, provavelmente o BC vai subir a taxa, mas não sei, a regra desapareceu, a gente não sabe exatamente o que o BC quer. As melhores estimativas hoje sugerem algo como dois trimestres ou mais para a taxa de juros afetar produto e mais um ou dois pra ela afetar a inflação, ou seja, uma defasagem de três a quatro trimestres. Mesmo que o mercado antecipe todo o (possível) aumento de juros hoje (150 pontos), se fala de perspectiva de efeitos sobre inflação provavelmente no começo de 2014 ou no segundo trimestre de 2014.
EXAME.com – Qual sua expectativa para a inflação nesse ano?
Schwartsman - Eu não espero que no final do ano a inflação esteja acima do limite da meta, espero que esteja por volta de 6,5%. Não vejo taxa de inflação convergindo em 4,5%, eu espero uma inflação inferior a 6,5% no final do ano, namorando o teto da banda em 2013 e namorando com mais compromisso em 2014.
EXAME.com – O que poderá ser feito com relação a inflação em 2014?
Schwartsman - Terão que tirar truques da cartola em 2014, inventar uma desoneração qualquer... Claro que o corte nas tarifas de energia foi decisivo para a inflação não varar 6,5% em 2013. Se o objetivo é não deixar passar de 6,5%, tira PIS/Cofins de gasolina, de alguma outra coisa, tanto faz. Isso é truque, não é politica econômica. O ponto principal é abandonar o centro da meta. O governo está lutando para não passar de 6,5% e com os instrumentos errados.
EXAME.com - E se a taxa básica de juros não subir nessa semana, o que isso indica sobre o Banco Central?
Schwartsman - Se não subir quer dizer que adiaram para maio. Se não subir em maio quer dizer que o BC não tem autorização para subir juros, porque todo seu discurso foi nesse sentido, então significaria que o BC foi desautorizado. Seria um salve-se quem puder.
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