Economicidios: se trata da politica economica companheira - Alexandre Schwartsman
Diplomacia e Relações Internacionais

Economicidios: se trata da politica economica companheira - Alexandre Schwartsman


'Economicídios' do governo levam Brasil ao baixo crescimento

CIFRAS & LETRAS
ENTREVISTA - ALEXANDRE SCHWARTSMAN
Controle de preços e o abandono de iniciativas de reformas estão entre os principais erros na condução do país, afirma ex-diretor do BC
MARIANA CARNEIRODE SÃO PAULO
Nos últimos anos, foram cometidos no Brasil "economicídios", na avaliação dos economistas Fábio Giambiagi e Alexandre Schwartsman.
Autores do livro "Complacência" (Campus Elsevier), que será lançado na próxima terça-feira, os dois afirmam que o governo vem incorrendo em alguns "macrocídios" e "microcídios" desde 2011.
O termo, tomado emprestado do argentino Miguel Bein, é usado pelos autores para classificar decisões como o controle dos preços dos combustíveis contra a inflação, a redução das tarifas de energia no ano passado e, sobretudo, o abandono de iniciativas para reformar o país.
Isso relegou o país ao baixo crescimento econômico, que, dizem, não é resultado de um fenômeno passageiro.
Nesta entrevista, Schwartsman, que é colunista da Folha, diz que a inspiração do livro é o inconformismo com a leitura corrente do "se há emprego, está tudo bem".

Folha - Por que crescer pouco é um problema se estamos hoje em pleno emprego e existe uma certa satisfação das pessoas com a economia?
Alexandre Schwartsman - Essa sensação do "já que estamos em pleno emprego, não temos com o que se preocupar" foi resumida em uma frase extraordinariamente cretina da [economista] Maria da Conceição Tavares, de que a gente "não come PIB".
O bem-estar da população não depende só do emprego, as pessoas não querem só estar empregadas. Elas querem ter um padrão de vida melhor, e o Brasil não é um país rico. Nossa renda per capita é uma renda média.
Como a gente crescia num ritmo de 4%, 4,5% ao ano, o crescimento da renda per capita sugeria que a gente dobraria o padrão de vida em uma geração [25 anos]. No ritmo que estamos hoje, vamos precisar de 60/70 anos. Isso não é razoável.
O contentamento com o pleno emprego e com o "não precisamos mais nos preocupar em crescer tão rápido" é ser complacente. Isso é o cerne do nosso livro. Significa que nós deveríamos estar satisfeitos com o atual estado das coisas.
Pode-se até usar esse argumento para reeleger a presidente, mas ficar realmente satisfeito é complicado.


Folha - Depois de uma fase de crescimento mais acelerado, não era de esperar uma moderação do crescimento?
AS - Alguma desaceleração. Mas o fato é que nossa capacidade de crescimento caiu para algo como 2% ao ano. Essa desaceleração não é cíclica.
Na realidade, a desaceleração está mostrando que o ciclo de expansão que tivemos entre 2004 e 2010 foi muito positivo, mas insustentável.
A gente conseguiu crescer fundamentalmente botando mais gente para trabalhar, e não fazendo com que cada um produzisse mais.
Significa que a gente conseguiu crescer porque trouxemos a taxa de desemprego de níveis elevados, 12%, 13%, para 5%. Esse fenômeno é muito positivo, mas sugere que não é sustentável. Não se pode seguir reduzindo o desemprego indefinidamente.
A partir daí, os estrangulamentos começaram a aparecer. Não há mão de obra qualificada, nossa infraestrutura é um gargalo importante, o investimento é baixo.


Folha - Qual o risco de não elevar a produtividade neste momento?
AS - A gente vai continuar crescendo 2% e, daqui a duas gerações, o padrão de vida vai melhorar. Mas antes começam os problemas: teremos um problema previdenciário, êxodo de gente para outros países. Para sustentar as demandas sociais que estão vindo, a gente precisa crescer muito mais do que isso. Como vai crescer a felicidade geral bruta da nação?


Folha - Existe hoje um consenso de que é preciso fazer reformas?
AS - Concretamente, a gente vê alguma iniciativa de endereçar gargalos na questão tributária? Zero. Todas as ações do governo, mesmo quando reduz o imposto, vão no sentido oposto, de complicar o sistema tributário.


Folha - Vocês falam de "macrocídio", sobre o que consideram um manejo errado da macroeconomia, e "microcídio", sobre a gestão da Petrobras. Quando esses erros começaram?
AS - Você tem um determinado regime de política econômica que prevaleceu até 2008, até a crise. E começou a mudar a partir daí. As mudanças que estão na origem dos problemas ocorrem a partir de 2011 e derivam de restrições para lidar com a inflação.

Folha - Por que estão segurando os preços da Petrobras?
AS -  Porque temem o impacto disso na inflação. Não tem outra justificativa para segurar o reajuste de combustíveis. E por que isso acontece? Porque a inflação está consistentemente perto do topo da banda [6,5%].
Se o Banco Central estivesse apontando para o centro da meta, haveria condições de absorver coisas como um aumento de gasolina.
Quando há problemas no controle da inflação é que se começa a recorrer a esse tipo de "microcídio", que é controlar os preços de combustíveis.


Folha - O livro é crítico à política econômica e ao PT. Como esperam ser recebidos neste ano de eleições?
AS - O livro saiu para contribuir para o debate, colocar uma visão crítica ao governo de hoje. Se fosse outro partido que estivesse fazendo as mesmas coisas, poderia receber as mesmas críticas. O livro reflete uma visão que compartilhamos sobre como uma economia deve se organizar, e não uma visão política.


Leia íntegra da entrevista
folha.com/no1435589


COMPLACÊNCIA
AUTORES Fábio Giambiagi e Alexandre Schwartsman
EDITORA Campus Elsevier
QUANTO R$ 69,90 (255 págs.)

Fonte: Folha de S.Paulo


Fonte: fetraconspar.org.br



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