Cronica do protecionismo ordinario (e bota ordinario nisso...)
Diplomacia e Relações Internacionais

Cronica do protecionismo ordinario (e bota ordinario nisso...)


Mil desculpas por começar o ano colocando matérias desagradáveis e, ademais, atrasadas, já que esta é do ano que já acabou.
É que não dá tempo, humanamente, para cobrir todo o ativismo genial do governo contra os interesses de pobres consumidores, como eu e você, caro leitor.
Sim, porque o governo, em lugar de defender os interesses da quase totalidade dos cidadãos, contribuintes, eleitores, pessoas simples, de todo o Brasil, prefere defender o lucro, e a preguiça, de alguns poucos brasileiros, que são os industriais protecionistas. Claro, estes estão sendo ameaçados, em sua sobrevivência, pela impossibilidade de competir com importações mais baratas.
Em lugar de examinar as razões desse fenômenos, detectar os fatores corretos e atuar sobre esses fatores, o governo já chegou à conclusão de que os produtos estrangeiros são maus, perversos, insidiosamente negativos para o nosso bem-estar, e a nossa renda, apenas porque entram mais baratos do que os nacionais. E só pode ser por concorrência desleal, por dumping, por subsídios indevidos oferecidos por governos estrangeiros (leia-se China) a seus industriais, enfim, por qualquer outra coisa, que não a incapacidade brasileira de competir internacionalmente e no mercado nacional.
E são incapazes os nossos industriais, não porque sejam incompetentes, ou molengas, mas porque são gravados por uma inacreditável carga fiscal, burocrática e regulatória que simplesmente onera cada um dos produtos manufaturados aqui produzidos com um valor equivalente a, na média, 40% do preço de mercado ao consumidor. 
Pode alguém competir nessas condições?
Qual é o país estúpido o suficiente para impor uma tal carga a seus produtores nacionais?
Quem são esses consumidores carneiros, submissos, inconscientes e ignorantes, a ponto de aceitar uma carga fiscal de tal magnitude sobre cada produto consumido?
E ainda ficar satisfeito com a justa medida do governo, de "proteger os legítimos produtores nacionais contra a concorrência predatória estrangeira"?
Pois é, o Brasil consegue, em lugar de corrigir suas mazelas estruturais e seus problemas sistêmicos, se afundar cada vez mais no alto custo de seu sistema produtivo. E ainda acha que está certo ao se isolar do mundo.
Desculpas em começar o ano desta maneira, mas o governo simplesmente não ajuda.
A matéria me tinha passado despercebida no final do ano.
Para não dizer que desprezo coisas importantes, ela segue abaixo, para desgosto de muitos, e o prazer de alguns...
Paulo Roberto de Almeida 


Importação de têxteis terá nova regra, diz Mantega
Tainara Machado | De São Paulo 
Valor Econômico, 28/12/2011

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o objetivo da medida anunciada ontem é combater o subfaturamento de produtos têxteis importados.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou, ontem, que o governo planeja alterar o regime de tributação para a importação de produtos têxteis. Em até três meses, ele pretende levar à Organização Mundial do Comércio (OMC) uma petição para permitir que os produtos têxteis importados sejam tributados com uma taxa fixa (modelo "ad rem") e não mais por uma tarifa que incide sobre o valor (sistema "ad valorem") como é hoje. O objetivo, segundo o ministro, é combater o subfaturamento de produtos importados.

Mais um vez, contudo, o anúncio de uma decisão que envolve outras áreas da administração pública parece ter sido feito antes de um consenso dentro do governo. Essa mudança já foi proposta pelo Ministério da Fazenda à Câmara de Comércio Exterior (Camex), mas ainda não foi apreciada pelos seus integrantes. O anúncio elevou inquietações dentro do próprio governo de que outros setores pressionem para o país transformar todo seu regime tarifário junto à Organização Mundial do Comércio (OMC). Além disso, os países parceiros podem pedir compensações se julgarem que a mudança afeta sua exportação de têxteis ao Brasil.

No regime atual é cobrada uma alíquota (percentual) sobre o valor do produto. "Mas se o preço é subfaturado o imposto não serve para nada. Já ouvi sobre ternos chegando ao Brasil por US$ 3. Isso não paga nem o botão", disse o ministro, que ontem recebeu, em São Paulo, uma medalha de honra ao mérito concedida pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). No regime de tributação conhecido como "ad rem", o governo adotaria uma classificação de mercadorias em que cada uma teria um tributo fixo de importação sobre o peso, provavelmente. De acordo com Mantega, o governo também estuda a alteração do regime para outros setores da economia, mas não quis especificar quais.

Mantega afirmou que esse sistema de tributação já é contemplado em lei e depende agora apenas de regulamentação e da autorização da OMC. "Queremos fazer essa operação dentro das regras", disse Mantega. O ministro não vê dificuldades na obtenção do aval da organização porque é possível, em sua avaliação, ver em números o prejuízo que o setor têxtil está sofrendo com a concorrência desleal. Em 2011, até outubro, segundo o IBGE, a produção do setor têxtil recuou 14,9% em relação a igual período do ano passado, enquanto a importação de têxteis aumentou 10,6% e a de vestuário, 48,3%, na mesma comparação.

O ministro da Fazenda espera que seja concedida pela OMC uma salvaguarda provisória em até três meses, que poderia tornar-se, após estudo interno na organização e consulta aos países membros, permanente, com prazo de até 10 anos, como ocorreu para o setor de brinquedos, disse ele.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, Aguinaldo Diniz Filho, afirmou que já está trabalhando na petição que consolidará os números do setor e estima que em janeiro o documento estará nas mãos do Ministério da Fazenda. Diniz espera que as taxas fixas de importação sejam impostas principalmente para a confecção, porque a importação de peças prontas inibe a produção ao longo da cadeia.

O setor têxtil há algum tempo reclama da competição com importados e demanda medidas do governo para dar competitividade ao setor. De acordo com o presidente da Abit, foram os números de emprego, com a perspectiva de corte de 15 mil vagas no setor em 2011, ante criação de 80 mil vagas em 2010, que elevou o senso de urgência no ministério.

Embora afirme que para competir em situação igualitária outras medidas sejam necessárias, como desoneração de investimentos, o presidente da Abit afirma que a salvaguarda, "se colocado do jeito que imaginamos, garantirá um ano de 2012 muito melhor do que 2011", porém o empresário não quis fazer projeções. Em conjunto com ações de defesa comercial, fiscalização em parceria com a Receita Federal e apoio para reduzir o custo de financiamento, "em 2012 a indústria têxtil estará melhor do que em 2011", afirmou Mantega. "Não permitiremos que a indústria brasileira, particularmente a têxtil, saia diminuída da crise internacional", disse.

O anúncio do ministro Guido Mantega agradou a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec). Para o economista-geral da entidade, Pedro Jorge Viana, a intenção do governo em tributar o produto com um valor fixo, em vez de uma porcentagem em cima do preço de importação, como é feito atualmente, tem duas vantagens.

"É uma medida realista, pois evita o subfaturamento. Na prática, o que acontece muitas vezes é que um produto que custa US$ 20 é declarado com preço de US$ 10, pagando um imposto menor. Cobrando um valor fixo, acaba esse problema. Além disso, ajuda a proteger a indústria nacional contra a concorrência predatória dos chineses, que aumentaram muito a presença neste ano", afirmou o economista.

Mesmo apoiando a iniciativa do governo, Viana disse que o ideal seria o estabelecimento de cotas de importação para aumentar a proteção à indústria nacional. No entanto, o desgaste político de uma medida como essa torna a opção inviável, além do prejuízo com retaliação na exportação de outros produtos não têxteis. "Seria o certo, até para a indústria trabalhar com uma margem de segurança. Mas outros países podem contestar a decisão na OMC e também tomar a mesma decisão na hora de comprar produtos brasileiros. Então, a única saída que vejo é a taxar o importado com um preço fixo", disse o economista-geral da Fiec. 
(Colaboraram Assis Moreira, de Genebra, e Rodrigo Pedroso, de São Paulo)



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