Brasil-Iran: cooperacao entre academias diplomaticas
Diplomacia e Relações Internacionais

Brasil-Iran: cooperacao entre academias diplomaticas


Primeiro a notícia de jornal:

Itamaraty estuda parceria [com o Irã] para formar diplomatas
Isabel Fleck
O Globo, 30/09/2010

Enquanto o ministro Celso Amorim se reunia em Nova York com o colega iraniano, Manouchehr Mottaki, o número dois da diplomacia brasileira, Antônio Patriota, recebia em Brasília o vice-chanceler iraniano encarregado de educação e pesquisa, Mohammad Bagher Khoramshad, para tratar de possíveis parcerias na educação e na formação de pessoal. Entre as ideias de cooperação, estariam o intercâmbio entre diplomatas dos dois países e tradução de livros de política externa dos dois países. A iniciativa foi de Teerã, que, às vésperas da eleição no Brasil, quer garantir que a abertura da diplomacia brasileira em relação ao país se mantenha no próximo governo.

“Vemos com muito interesse a possibilidade de buscar a interação com países que, às vezes, têm uma tradição (diplomática) muito maior que a nossa”, afirmou a diretora do Departamento de Ásia Central, Meridional e Oceania, Maria Clara Carisio.

Khoramshad encontrou-se com o diretor adjunto do Instituto Rio Branco, Sérgio Barreiros, e com o embaixador Jerônimo Moscardo, presidente da Fundação Alexandre Gusmão, ligada ao Itamaraty, que cuida da publicação de materiais para a formação dos diplomatas. Foi aventada a possibilidade de criar cursos de curta duração para diplomatas dos dois países, como já se fez na América Latina.

Em três dias de visita a Brasília, o diplomata iraniano ainda visitou o Congresso e apresentou palestra na Universidade de Brasília (UnB) sobre as possibilidades de cooperação entre países em desenvolvimento. Nas quase duas horas que passou na Reitoria da UnB, Khoramshad criticou as sanções adotadas pelo Conselho de Segurança contra a República Islâmica e reafirmou que o programa nuclear iraniano tem caráter pacífico. Hoje, ele deve ministrar palestra na Universidade de São Paulo (USP).

Quando o presidente Mahmud Ahmadinejad veio ao Brasil, em novembro passado, foram assinados acordos de cooperação em ciência e tecnologia, em especial para desenvolver projetos agrícolas, de biotecnologia e nanotecnologia. Os dois governos também firmaram memorando de entendimento entre universidades.

Mais sanções
Apesar das críticas contra sanções unilaterais, proferidas durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, os EUA vão aplicar medidas restritivas contra oito dirigentes iranianos acusados de “graves violações dos direitos humanos”. Entre eles estão Mohammad Ali Jafari, chefe da Guarda Revolucionária, e Said Mortazevi, ex-procurador-geral de Teerã, suspenso em meados de agosto após ter sido acusado da morte de três opositores na prisão. Na última terça-feira, o chanceler Mottaki declarou à agência iraniana Irna que o presidente Barack Obama tem sido orientado por políticos americanos a ter uma postura “dura” em relação ao Irã até as eleições legislativas de novembro, nos EUA.

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Comento [PRA]:
Nenhuma dúvida que o Irã, a Pérsia histórica, possui uma tradição diplomática "muito maior que a nossa”, como afirmou a diretora do Departamento de Ásia Central, Meridional e Oceania do Itamaraty.
Apenas não tenho certeza de que essa tradição "muito maior do que a nossa" seja exatamente a do governo atual, em suas "tradições" teocráticas e islâmicas.
Afirmar uma coisa desse seria o mesmo que pretender que a cooperação atual com a Grécia e com o Egito, por exemplo, estariam retomando tradições socráticas ou faraônicas, que estariamos sorvendo a filosofia da Grécia antiga ou a sapiência astronômica (e astrológica) dos egípcios da antiguidade, para ficar apenas em dois anacronismos históricos bastante evidentes. Tradições se rompem, rupturas históricas acontecem, e os governos se sucedem, sem necessariamente se parecer ou recuperar tradições antigas. O Irã atual não tem absolutamente nada a ver com a Pérsia clássica, como tampouco com a monarquia anterior derrubada pelo atual regime dos mullahs. Nem Grécia ou Egito da atualidade guardam qualquer conexão com suas civilizações antigas. Isto me parece evidente.
Talvez Irã e Brasil tenham muito a aprender um com o outro, inclusive no campo da diplomacia. Apenas não tenho certeza de que isso tenha a ver com qualquer tradição ou herança histórica.
A aceitar o argumento exposto na matéria, entendo que, nessa visão, fazer cooperação com as academias diplomáticas dos EUA e da Europa atuais, por exemplo, seria sancionar as políticas imperialistas e opressoras que esses países avançados praticaram poucas gerações atrás, contra o Irã e o Egito, para ficar nos mesmos exemplos, ou que podem ainda praticar, como seria o caso da grande potência imperial da atualidade contra o pacífico regime iraniano.
Desse ponto de vista, melhor mesmo cooperar com o Irã dos mullahs do que com os EUA dos militaristas do Pentágono e dos especuladores de Wall Street...
A gente precisa aprender a ser soberano e independente, e fazer cooperação com quem partilha nossos pontos de vista...
Paulo Roberto de Almeida



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