Em 12 anos de petismo, a diplomacia profissional foi substituída pela tosca militância ideológica do partido no poder. Faz-se de tudo para contrariar a política externa norte-americana. Editorial do jornal O Globo:
Diplomacia partidarizada sob encomenda
Editorial O Globo, 29/2014
Editorial O Globo, 29/2014
A política externa é uma das que mais foram alteradas desde que o PT chegou ao Planalto, em janeiro de 2003. Ficou visível que o Itamaraty como instituição deixou de ter peso nas decisões, ao mesmo tempo em que uma visão de mundo condicionada por um nacionalismo de esquerda, antiamericanista, do pós-guerra, passou a ser preponderante. Foram engavetadas características da diplomacia profissional: a busca pelo equilíbrio, a não intervenção em crises políticas de outros países, o bom relacionamento com americanos e europeus, sem se afastar do mundo emergente.
O curioso é que onde se esperavam alterações de fundo, na política econômica, nada aconteceu. E ainda bem, porque foi a manutenção de princípios da administração tucana que evitou o descarrilamento da economia, atingida por uma séria crise de confiança causada pela perspectiva de chegada do próprio PT ao poder. Consta que, para manter as fileiras petistas unidas, a política externa foi cedida, em contrapartida, às frações mais à esquerda do partido.
E no momento observa-se mais um surto de esquerdização da diplomacia, quando o Planalto necessita de um PT unido, às vésperas da que deverá ser a mais árdua batalha eleitoral que o partido enfrentará, desde a vitória de Lula, em 2002.
O último sintoma do surto foi a decisão do governo Dilma de convocar o embaixador em Tel Aviv , Henrique Sardinha, “para consultas", devido ao “uso desproporcional da força” por parte de Israel em Gaza. Havia formas menos estridentes de comunicar o justificável mal-estar com as mortes de civis em Gaza — mas também sem deixar de registrar a contrariedade com os constantes ataques de foguetes feitos pelo Hamas contra cidades israelenses, incluindo, agora, Tel Aviv.
A atitude gerou a resposta, também desequilibrado, da chancelaria israelense, com o uso do deplorável termo “anão diplomático” para qualificar o Brasil. O ministro das Relação Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, embaixador de carreira, respondeu dentro dos códigos da atividade, enquanto Marco Aurélio Garcia, assessor especial da presidência, militante petista, uma espécie de ministro das Relações Exteriores “do b", manteve o nível do porta-voz israelense, classificando-o de “sub do sub do sub do sub do sub” — copiando o ex-presidente Lula na resposta a um comentário de autoridade americana de que não gostou.
Mais uma prova de que os profissionais da diplomacia estão em segundo plano é a tíbia posição brasileira diante do ataque ao jato comercial por grupos de rebeldes ucranianos apoiados pela Rússia de Putin, outro aliado preferencial do Planalto. O avião, malaio; o míssil, russo. Morreram 298 pessoas.
O governo evita qualquer condenação à Rússia e faz o mesmo com a Síria de Assad, ditador já com mais de 150 mil mortos na biografia. O conceito é simples: faz-se tudo aquilo que contraria a política externa americana. Parece birra, mas há quem considere eficaz para conseguir votos.