03/02/2014
às 12:02 \ Economia, PolíticaA armadilha social-democrata do baixo crescimento
O economista Paulo Guedes tem batido insistentemente na tecla da armadilha social-democrata do baixo crescimento. Tem usado seu espaço às segundas-feiras no GLOBO para mostrar como essa mentalidade predominante no Brasil tem sido responsável por nossos “voos de galinha”: barulhentos, desajeitados e de baixa altitude.
Na coluna de hoje, “Chapa quente”, Paulo Guedes retoma o tema e joga petistas e tucanos no banco dos réus, responsáveis por esse equívoco ideológico que tem nos custado tão caro. Diz o economista:
O fenômeno persiste há décadas. O Brasil segue prisioneiro da armadilha social-democrata do baixo crescimento. Com tucanos ou petistas, continua a expansão dos gastos públicos bem acima da taxa de crescimento do produto interno bruto. E, para evitar o descontrole inflacionário, sobem também os impostos e, mais uma vez, as taxas de juros, derrubando consumo, investimentos e a geração de empregos.
Essa armadilha de baixo crescimento é o resultado da falta de sintonia de nossa classe política com os requisitos de uma nova ordem global. Aprisionados por regimes tributário, previdenciário e trabalhista anacrônicos, nossa condenação ao crescimento medíocre reflete as contradições entre obsoletas práticas políticas social-democratas e as exigências econômicas de mercados globalizados. Os gastos públicos da União atingiram quase 1 trilhão de reais em 2013, aproximando-se de 20% do PIB. As despesas do governo central com o custeio de pessoal, benefícios previdenciários etc. cresceram 13,6% no ano, mais que o dobro da taxa de inflação, que fechou em pouco menos de 6%.
Não há como discordar da essência de sua mensagem. Que serve, também, para derrubar a tese tão disseminada por aí de que o PSDB é “neoliberal” ou de “direita”. Nada mais falso. É um partido social-democrata, portanto, de esquerda, e tem sua cota de culpa na situação atual do país, o eterno gigante do futuro.
Dito isso, acho injusto condenar igualmente petistas e tucanos. Não resta a menor sombra de dúvidas de que o quadro técnico do PSDB é anos-luz à frente do petista. O PSDB tem bons economistas, conta com a sabedoria de gente como Gustavo Franco ou Armínio Fraga, enquanto o PT ataca com Guido Mantega e Aloizo Mercadante. Não dá nem para comparar.
Além disso, não diria que o PT preserva o modelo social-democrata dos tucanos. A guinada foi claramente na direção de um nacional-desenvolvimentismo tacanho, ultrapassado, bem latino-americano e populista. A social-democracia tucana deve ser condenada, pois não oferece um mapa de voo mais elevado e sustentável, algo que somente o liberalismo pode fornecer. Mas ao menos não seria essa desgraça que vemos sob Dilma.
Isso para falar apenas da economia. Mas há todo um ranço autoritário no PT que não encontramos no PSDB. O PT, vale lembrar, participa do Foro de São Paulo, que ajudou a fundar, ao lado de ditaduras como a cubana, flerta com guerrilheiros das Farc, tem no MST um braço armado no campo, controla sindicatos mafiosos, enfim, o PT realmente faz o PSDB parecer “neoliberal” – mas só porque o PT parece socialista muitas vezes.
Em resumo, Paulo Guedes está totalmente certo ao alertar para essa armadilha do baixo crescimento da social-democracia, que tanto parte do PT como o PSDB abraçam. Mas exagera na dose ao condenar ambos na mesma medida, uma vez que sabemos do potencial infinitamente maior de causar estrago – econômico e social – dos petistas.
Rodrigo Constantino