Um diálogo sobre as cotas raciais: Lucas e eu...
Diplomacia e Relações Internacionais

Um diálogo sobre as cotas raciais: Lucas e eu...


A propósito deste meu post:


O Brasil a caminho do atraso: estatuto da desigualdade racial (ou a construcao do Apartheid)

(segunda-feira, 18 de outubro de 2010) 

no qual eu transcrevia um post do site "Contra a Racialização do Brasil", sobre a entrada em vigor do Estatuto da (des)Igualdade Racial, que eu reputo um instrumento racista e um mecanismo de criação de conflitos raciais e sociais,

recebi este comentário do Lucas: 
Lucas disse...
Acompanho diariamente seu blog e concordo com 99% das coisas que o senhor diz, apenas nao concordo com suas posicoes em relacao a acoes afirmativas. O sr. nao e' negro, nunca sofreu esse tipo de preconceito e so' quem e', assim como eu sou, sabe o quao humilhante e' ver a uma senhora atravessando a rua quando lhe ve caminhando em sua direcao.    Alguma coisa deve ser feita em relaca o a isso, talvez soframos agora no incio mas em 30 anos nossos filhos terao uma vida melhor e mais digna.   Considero que o Brasil levou muito tempo para tomar alguma atitude e justamente por isso que hoje tudo se torna tao complicado.   Algo deve ser feito pra retirar esse racismo ja encutido na cabeca de milhares de jovens brasileiros.  Eu sou uma testemunha do preconceito e racismo dos brasileiros em relacao aos negros (principalmente americanos).   Atualmente sou estudante internacional nos EUA e o que ouco de reclamacoes e xingamentos racistas de brasileiros em relacao aos negros e' de se preocupar.

Respondi (PRA) a ele o que segue abaixo: 

Lucas,
Desejo em primeiro lugar agradecer, sinceramente, seu comentário, e dizer que compreendo integralmente o que você quer dizer, e seu sentimento em relação a esse tipo de situação.
Vou tentar me explicar aqui e elaborar mais a respeito em um post, para que outros leiam nossos dois comentários.
De fato, eu não sou negro. Sou totalmente branco, cor de leite pasteurizado.
Meus avós vieram, respectivamente, de Portugal e da Itália para substituirem os negros nas fazendas de café depois que foi abolida a escravidão, que vitimou seus antecessores, disso temos ambos certeza.
Ou seja, meus avós eram tratados apenas um pouco melhor do que os escravos, e por isso abandonaram rapidamente a situação semi-escravagista das fazendas de café do interior de SP e do sul de MG (meu pai é de Rio Claro e minha mãe de Poços de Caldas), para irem trabalhar na cidade. Os filhos cresceram, se encontraram, casaram e eu vim ao mundo, numa casa muito pobre, sem água corrente, enfim, o que você deve imaginar. Trabalhei desde muito jovem (e coloque jovem nisso, desde criança para ser mais exato).
Mas, de fato, nunca sofri o tipo de discriminação a que você se refere e compreendo, como disse, seu sentimento.
Agora, compreenda o seguinte: o regime de cotas NUNCA vai corrigir esse tipo de situação, pois ele tenderá, apenas a fastar ainda mais as "raças" entre si, justamente por desenvolver o Apartheid.
Compreendo que você defenda o regime de cotas, pois que supostamente ele criaria um estrato de negros de classe média, bem vestidos e com aparência afluente, fazendo com que aquela senhora não tenha mais de atravessar a rua, com suposto medo.
Eu acredito, na verdade, que as cotas beneficiariam negros de classe média, ao mesmo tempo em que podem estar prejudicando brancos de classe média ou pobres.
Não me parece razoável substituir um tipo de discriminação por outro, quando a única solução efetiva e duradoura seria melhorar os níveis de eduçacão e sua qualidade para toda a população pobre do Brasil (onde os negros estão majoritariamente representados, sabemos disso), esperando que assim todos possam ingressar na universidade com base unicamente no mérito, e não em regime de favor.
Essa era a posição de Martin Luther King, e convido você a ler o seu famoso discurso "I have a dream".
O racismo se combate misturando as pessoas, e não separando.
Eu sou totalmente a favor de "eliminar" "raças" brancas, negras, amarelas, numa grande mistura universal, como é próprio da espécie humana, absolutamente una e indivisível. Isso não é racismo anti-negro, como alguns poderiam acusar, mas pode na verdade significar o "fim" da "raça" branca, dados os padrões de dominância genética, ou fenotípica (desculpe, não sou versado em biologia).
O racismo, infelizmente, é uma chaga que vai demorar a ser extirpada dos comportamentos humanos, tanto mais quanto persistirem essas barreiras sociais e que estão sendo erigidas por outras medidas racialistas, inclusive aquelas que estimulam o racismo negro anti-branco (que existe de forma muito forte nos EUA, como você sabe).

Estou aberto ao diálogo, sempre.
O abraco do

Paulo Roberto de Almeida
(19.10.2010)



loading...

- Politicas Racialistas Alimentam O Racismo No Brasil - Editorial O Globo
Doutrina racialista: a grande vitoriosa nos 12 anos de lulopetismo.via Blog do Orlando Tambosi, 30/06/2014 O escabroso racialismo - na verdade, uma versão pretensamente abrandada de racismo - passou para trás outros "movimentos sociais", consolidando-se...

- Cnpq Adere Ao Novo Apartheid: Tornou-se Racista, Como Boa Parte Do Governo E Os Militantes Da Nova Causa Racialista
O novo RACISMO do CNPq Incrível: o Brasil caminha de fato para construir um novo Apartheid, oficial, tanto quanto o era o da África do Sul, antes do regime de maioria negra (teoricamente multirracial), quando o Estado promovia ativamente a separação...

- O Apartheid Em Construcao No Brasil: Cotas Para Qualquer Coisa...
Os militantes do novo racismo acham que as cotas "integram", já que elas supostamente permitiriam o ingresso de negros, ou afrodescendentes, em funções públicas que eles acham indevidamente monopolizadas pela elite branca.  Acontece que os concursos,...

- A Marcha Do Apartheid No Brasil: O Estado Do Debate
Cotas e a cisão racial no BrasilYvonne MaggieBlog Contra a Racialização do Brasil, sex, 02/12/2011 O Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC) promoveu neste mês de novembro um seminário para discutir a política de cotas raciais. A ministra,...

- A Ideologia Do Afrobrasileirismo: Uma Reacao Tardia...
Recebi, em minha caixa da UnB (sim, ainda tenho uma, mesmo depois de anos sem dar aulas naquela universidade bizarra), a mensagem abaixo, que reproduzo tal qual, sem o e-mail de origem (por razões óbvias), que protesta contra um artigo meu de 2004....



Diplomacia e Relações Internacionais








.