BRASÍLIA - O Itamaraty informou nesta sexta-feira que o Brasil votou contra o envio de uma missão de observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA) à Venezuela, bem como se opôs à realização de uma reunião de chanceleres dos países que compõem a OEA para tratar especificamente da situação venezuelana.
Segundo o Itamaraty, a posição do governo brasileiro é que seria prematuro adotar qualquer uma das propostas neste momento, pois isso só serviria para acirrar tensões na Venezuela.
As duas propostas foram levantadas durante reunião extraordinária da OEA que se realiza desde quinta-feira, em Washington, na sede da entidade. Ambas foram rejeitadas. A reunião ainda está em andamento. O representante interino do Brasil na OEA é o ministro de segunda classe Breno Dias da Costa.
Países aliados a Maduro impedem resolução da OEA
- Chanceler venezuelano considera uma vitória que organização não envie missão ao país
- Reunião termina sem decisão sobre como responder à crise
WASHINGTON — Devido à divergência entre seus membros, o Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) terminou uma reunião de oito horas na madrugada de sexta-feira sem chegar a um acordo sobre o texto de uma declaração política e convocar chanceleres para analisar a crise na Venezuela. As deliberações serão retomadas nesta manhã e, na quarta-feira, os países da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) se reunirão no Chile para tratar novamente da situação no país, onde 20 pessoas morreram em um mês de violentos protestos antigoverno. Para o chanceler venezuelano, Elias Jaua, no entanto, o fato de não ter sido considerado o envio de uma missão da organização ao país é considerado uma vitória.
— Nosso povo tem que estar satisfeito pelo respeito, amor e admiração que semeou Hugo Chávez por nosso país e esse amor semeado na América Latina teve uma nova colheita, rechaçando qualquer tipo de intervenção na pátria de Simón Bolívar — disse Jaua, que em entrevista à Telesur ressaltou o apoio recebido dos países latino-americanos, destacando o do Brasil e lembrando que em 2002 o governo brasileiro enviou combustível diante de uma crise que o país atravessava.
O apoio dos blocos da Aliança Bolivariana para as Américas (Alba) e Caricom ao governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, determinou que nem fosse contemplada a possibilidade de se convocar os chanceleres da OEA para discutir a resposta conjunta da organização, nem o envio de uma missão de observação, duas opções que haviam sido duramente criticadas pelo presidente Maduro durante os atos de homenagem do aniversário de um ano da morte de Hugo Chávez.
O embaixador da Venezuela, Roy Chaderton, classificou os objetivos da OEA de “intervencionistas”.
— O que está claro é que eles foram bem-sucedidos em retardar propósitos intervencionistas dos organizadores deste Conselho — afirmou Chaderton, depois de uma maratona de reuniões a portas fechadas que começou por volta das 17h30 e terminou na madrugada desta sexta-feira.
O embaixador panamenho Arturo Vallarino disse no final da jornada que uma quantidade substancial de países membros considerou prematura sua solicitação de convocar os chanceleres do continente para analisar a situação na nação sul-americana, pelo que se pôs de lado essa ideia para se concentrar em uma declaração proposta pela Bolívia.
Mas o diplomata panamenho indicou que não se chegou a um acordo sobre nenhum dos cinco pontos incluídos no texto boliviano e atribuiu o fracasso ao fato da Venezuela e seus aliados terem rejeitado uma proposta peruana para que o secretário geral da OEA desse continuidade ao diálogo que o presidente Nicolás Maduro iniciou com alguns setores da oposição.
— O que dá conteúdo à resolução é a proposta do Peru de dar seguimento através do secretário-geral, mas eles têm rejeitado — indicou Vallarino.
Os três governadores da oposição se ausentaram de uma reunião convocada no mês passado por Maduro como protesto pela prisão do líder da oposição Leopoldo López, que consideram ilegal.
A sessão começou com quase quatro horas de atraso depois de uma votação em que se decidiu mantê-la a portas fechadas. A embaixadora americana Carmen Lomellin qualificou como inaceitável que este hemisfério fique calado, que não fale por meio de sua instituição mais importante sobre o que ocorre na Venezuela.
As deliberações acontecem enquanto em Caracas um agente da Guarda Nacional e um civil morreram baleados em meio a um violento confronto entre vizinhos e grupos armados em motocicletas que tentavam retirar uma barricada, o que eleva para 21 o número de mortos nos protestos contra o governo de Maduro.
Chanceleres da Unasul discutirão crise na Venezuela
Os ministros das Relações Exteriores dos países da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) se reunirão em Santiago na próxima quarta-feira, na ocasião da posse da presidente eleita Michelle Bachelet, e aproveitarão para discutir o impasse político na Venezuela. .
- Haverá uma reunião de chanceleres da Unasul, mas para ter essa iniciativa primeiro consultaremos o governo venezuelano por cortesia - anunciou na quinta-feira o presidente do Equador, Rafael Correa.
Correa ressaltou que a Venezuela “é um país soberano” e que “dentro dos protestos há pessoas que recebem financiamento exterior, visando desestabilizar o governo legítimo de Nicolás Maduro”.
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