Diplomacia e Relações Internacionais
Venezuela: a vida segue como sempre, ou seja, penuria se aprofundando
VENEZUELA
Forças Armadas da Venezuela ocupam armazéns privadosSAMY ADGHIRNI - DE CARACAS
Folha de S. Paulo, 31/07/2015
Principal alvo é fábrica de alimentos Polar, maior empresa do país; governo diz que pretende construir casas na área
Determinação para desocupar local em até 60 dias é 'arbitrária', afirma à Folha um dos diretores da Polar
Em mais um ataque ao setor privado pelo governo da Venezuela, as Forças Armadas ocupam desde quarta (29) à noite um complexo de armazéns usado por empresas de alimentos em uma área industrial a oeste de Caracas.
O alvo principal da ação parece ser a Empresas Polar, maior grupo privado do país, que produz de cerveja a farinha de milho usada nas arepas, prato típico. Também foram ocupados prédios da Pepsi (sócia da Polar), da Coca-Cola e da Nestlé.
O diretor de alimentos da Polar, Manuel Larrazábal, disse à Folha que a ordem do governo, entregue por um juiz, determina a desocupação dos armazéns em 60 dias e a expropriação do terreno, que é de outra empresa.
Larrazábal chamou de "arbitrária" a justificativa do Executivo de querer erguer casas populares no local.
"Reconhecemos a necessidade de construir moradias, mas estes são terrenos produtivos. A própria lei determina que só terrenos ociosos ou abandonados podem ser ocupados para desenvolvimento urbano", disse, em referência a decreto assinado em 2011 por Hugo Chávez.
"Não entendo o motivo de afetar estruturas industriais com tantas áreas disponíveis na cidade", afirmou Larrazába, que pediu ao governo que reconsidere a decisão.
Segundo o diretor, a medida ameaça o trabalho de 600 funcionários e 1.400 empregos indiretos.
Dezenas de trabalhadores protestaram no local para defender suas vagas, e a frase "não à expropriação" foi pintada nos muros.
Também houve manifestações de apoio à decisão por parte de simpatizantes do governo contentes com a perspectiva de obter novas casas.
Críticos suspeitam que o governo esteja tomando medidas populistas antes da eleição parlamentar de dezembro, na qual chega com baixa popularidade.
Mas a ocupação e o futuro desmantelamento de um centro de distribuição, de onde saem a cada mês 12 mil toneladas de alimentos para milhares de lojas em 19 municípios, gera temores de acirramento da escassez na região de Caracas.
'GUERRA ECONÔMICA'Não havia declarações oficiais sobre o caso até a noite desta quinta. Mas o presidente Nicolás Maduro costuma acusar Lorenzo Mendoza, dono da Polar, de ser um dos "oligarcas" responsáveis pela suposta "guerra econômica" travada pelo empresariado contra o modelo chavista.
Para Maduro, o mundo dos negócios privados conspira com a oposição e com forças estrangeiras para ocultar estoques de alimentos e criar filas propositalmente, com o intuito de jogar a população contra o seu governo.
Empresários negam as acusações e dizem que a escassez e o desabastecimento são resultado de políticas chavistas, como controle de preços e câmbio e expropriações de empresas produtivas.
A operação de quarta-feira surge em meio a tensões sociais provocadas pelo risco de fechamento de duas fábricas de cerveja da Polar devido à dificuldade de importar matéria prima e insumos.
O tema causa nervosismo não só no meio sindical, mas em boa parte da população, que teme ficar sem cerveja.
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Venezuela expropria centro de distribuição de alimentosO Estado de S. Paulo, 31/07/2015
Militares venezuelanos ocuparam e expropriaram na madrugada de ontem um complexo de distribuição usado pela Polar, a maior empresa de alimentos do país, e pela transnacional suíça Nestlé.
A medida foi tomada após o presidente Nicolás Maduro ter acusado a Polar de sabotar a economia venezuelana por meio de uma "guerra econômica".
A expropriação provocou protesto de operários e trabalhadores terceirizados da empresa, responsável pela maior parte do abastecimento privado de alimentos no país.
A Venezuela passa por uma crise de escassez provocada pela redução na reserva de moeda forte no país e expansão do gasto público. Apesar de ser subsidiada pelo governo, a produção e distribuição pública de alimentos não é suficiente para suprir toda a demanda, que sobrecarrega o setor privado.
Cerca de 50 trabalhadores protestavam ontem dentro do complexo. "Se nós não trabalharmos, não comemos", disse o motorista de caminhão Carlos Muhoz, de 43 anos, que distribui os produtos da Polar para uma empresa terceirizada.
"Não há comida na Venezuela e agora eles fazem isso. Como as pessoas vão comer?"
O complexo foi tomado na madrugada por centenas de guardas da Guarda Nacional, o Exército e a Polícia Nacional Bolivariana. No fim da tarde, dezenas deles ainda faziam a segurança do local, onde algumas pichações foram feitas contra a expropriação."
Por meio de nota, a empresa criticou a ação e pediu que o governo reveja a decisão de expropriar o centro de distribuição. "Esse é o nosso principal centro de distribuição. Mais de 2 mil empregos estão em risco. Pedimos que o governo reconsidere essa decisão", disse por meio de nota o diretor da empresa Manuel Larranzabal.
A Nestlé, que também utilizava o centro, disse que iria procurar outros meios alternativos para distribuir seus produtos.
Além da expropriação do centro de distribuição, a Polar decidiu ontem fechar duas fábricas de cerveja por falta de cevada.
Em meio à crise econômica, o governo venezuelano tem restringido cada vez mais o acesso de empresas privadas ao dólar, necessário para importação de matéria-prima para a produção de alimentos, além de remédios e outros bens de consumo.
O governo venezuelano preferiu não comentar a ocupação.
A Venezuela deve encerrar este ano com uma inflação anual de cerca de 200% e uma retração da economia de 9%, segundo a projeção de economistas privados. O país não divulgou ainda dados macroeconômicos este ano.
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