Pergunta. Que papel o senhor assume quando fala com jovens?
Resposta. O de um curioso. O abismo entre gerações é o maior da história. Os jovens gostam mais das telas, onde sua desenvoltura é imbatível. Nós continuamos sendo livrescos.
P. O que mais mudou?
R. Tornam-se adultos muito rápido. Em relação a sexo, por exemplo. É uma liberdade que os torna mais saudáveis do que nós fomos. Os tabus e as proibições fizeram com que o sexo fosse traumático.
Os países que viveram a utopia demonstraram que ela provocava mais injustiças do que as corrigia
P. O que o senhor entende agora e não compreendia quando era jovem?
R. A igualdade entre o homem e a mulher. Os jovens agora são mais conscientes disso, e nós éramos bastante cegos. O sexo os torna mais livres. Ainda que essa liberdade os faça perder, mais rápido, a inocência que pouco a pouco ia fomentando o amor e enriquecendo a relação sentimental.
P. Quando o senhor perdeu sua inocência?
R. Entre os 10 e os 11 anos. Eu não sabia como as crianças vinham ao mundo; que cegonhas as trouxessem me parecia algo fantasioso; não suspeitava do tipo de vida sexual que estava na origem da procriação.
P. E que outras descobertas naturais o comoveram?
R. O amor. Foi fundamental, e o descobri antes do sexo. Meu primeiro amor foi uma trapezista de circo. Eu era muito jovem; e os circos vinham para Cochabamba para o 6 de Agosto, dia da Bolívia. Havia uma equilibrista vestida de rosa. Foi meu primeiro amor.
P. E o primeiro beijo?
R. Talvez aos 12 anos. Fazíamos jogos maliciosos entre meninos e meninas. O prêmio era um beijo. O meu primeiro foi o de Teresita. Foi por isso que batizei com esse nome a protagonista do meu primeiro romance!
P. O senhor abraçou a utopia na juventude. Quando ela ruiu?
R. Quando os países que viveram a utopia demonstraram que ela provocava injustiças piores que as injustiças que nós queríamos corrigir com as medíocres democracias.
P. A realidade de hoje não é motivo para soltar fogos.
R. Esta realidade democrática não apenas não é o paraíso como pode chegar a ser o inferno. Há corrupção, falta de transparência, de vitalidade das democracias, e isso leva os jovens a aderirem à indiferença e ao desprezo pelo social e pelo político; o que acho muito grave. É uma realidade do nosso tempo.
P. O que o surpreende quando conversa com os jovens?
R. O enorme desprezo pela política e pelo compromisso; acham que é uma perda de tempo, que todos os políticos são corruptos. Essa atitude cínica que assumem tão rápido é perigosa para o futuro da democracia, da liberdade, de tudo que nos tirou da barbárie.
P. Consegue convencê-los do contrário?
R. É difícil fazê-lo, se o que tem a oferecer é viver em sociedades nas quais não há emprego, a não ser para uma minoria. A grande revolução tecnológica transforma o mundo e faz desaparecer, cada vez mais, oportunidades de trabalho.
P. O que o senhor não entende do que escuta?
R. Há um deslumbramento com a tecnologia como panaceia para resolver tudo. Uma utopia perigosa: ameaça a maior conquista da humanidade, a liberdade. É um pesadelo orwelliano que se tornou realidade.
P. Disse que imaginava a velhice junto com um dogue alemão, de frente para o mar. Acha que está longe?
R. Ha, ha, ha! Meu sonho é poder continuar lendo e escrevendo até o final. Se for assim, será uma morte feliz.
P. Um pai, quase da sua idade, deixa o lugar para alguém que pode seu filho, Vargas Llosa. Que futuro prevê para o novo Rei?
R. Acredito que seja um jovem muito bem preparado para enfrentar um futuro enormemente incerto e difícil.