Diplomacia e Relações Internacionais
Tragedia educacional brasileira: a farsa do computador a 100 dolares
Em 2005 ou 2006, quando eu trabalhava no Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, o guru da internet e promotor do programa "One Laptop Per Child", Nicholas Negroponte, visitou o presidente Lula e vendeu-lhe a ideia -- atrativa, mas equivocada -- do programa "um computador por criança", como a receita maravilha capaz de resolver de vez todos os problemas da educação brasileira.O presidente ignorante, mas sempre adepto do stalinismo industrial, entusiasmou-se pela ideia, assim tão simples -- vejam vocês, não precisa mais nada, basta distribuir um computador a 100 dólares para cada criança e tudo estará resolvido -- e mandou fazer imediatamente. Os boçais que assessoram o presidente, na tal de inclusão digital -- outra bobagem monumental, que serve para dar cargos e dinheiro a companheiros analfabetos e a capitalistas espertos -- começaram imediatamente a se movimentar para fazer o tal de computador a 100 dólares.Asi no más, sem qualquer estudo técnico de factibilidade, sem qualquer avaliação econômica, os companheiros decidiram premiar os capitalistas nacionais e encomendar algumas centenas de milhares de computadores a 100 dólares, para teste (depois seriam milhões, um para cada criança, claro).
Tentei argumentar, desde o início, que isso não iria JAMAIS resolver os problemas da educação brasileira, que isso era uma ilusão, que tecnologia, era apenas um instrumento, uma ferramenta, nunca a solução para problemas sistêmicos e estruturais, que estavam vinculados ao ensino, em si, não a simples métodos de aprendizagem.
De fato, me opus, frontalmente a esse programa, que achava – sempre achei e ainda acho – pernicioso para o ensino no Brasil, suscetível apenas de criar cargos, despesas, benesses para os burocratas no poder, e uma chuva de dinheiro para os capitalistas espertos.
Argumentei que o problema da educação brasileira não estava no hardware, nas ferramentas, e sim no software, no conteúdo, e isso nem mesmo o soft dos programas do tal de computador a 100 dólares, e sim o soft do professor, o simples conhecimento honesto, direto, das matérias, para transmitir aos alunos.
Argumentei ainda – e isso ainda antes de o programa ser deslanchado – que os capitalistas espertos diriam que não poderiam fazer o tal computador a 100 dólares, mas que poderiam fazê-lo a 200 dólares, desde que devidamente agraciados com isenções fiscais, proteção tarifaria, subsídios públicos, financiamento generoso, promessa de compra de tantos milhares, enfim, um programa inteiro para satisfazer capitalistas espertos, e que, no final, o computador iria sair a 300 dólares, mas que aí o Estado já se tinha comprometido a comprar tantos milhares (centenas de milhares) e que tudo isso iria sair muito caro.
[Nota sobre a matéria: Vejam o que ela diz: "Parte dos 150 mil laptops comprados pelo governo por R$ 82, 5 milhões está subaproveitada." Ou seja, cada computador custou mais de 300 dólares, ou bem mais de 500 reais...]
Argumentei ainda, encore et toujours, que esses computadores, se jamais fabricados a 300 dólares ou mais, seriam distribuídos sem critério a crianças – algumas milhares para teste, mas que depois políticos iriam reclamar e a benesse seria estendida a outras tantas dezenas de milhares – e que eles seriam usados para joguinhos e outras atividades lúdicas, mas jamais para educação – já que os professores estavam excluídos do processo – e que depois iriam se deteriorar nas casas e escolas dos alunos, por falta de software, por falta de interesse, por falta de tudo, e que seria um empreendimento inútil, portanto, mas altamente custoso.
Argumentei extensiva e intensamente contra esse tal de programa maluco, até o ponto da exaustão, provocando raiva e desprazer em meus companheiros de trabalho, militares que deviam acreditar nas benesses do capitalismo dirigista brasileiro, nesse stalinismo industrial que sempre caracterizou o Brasil, um stalinismo para os ricos, jamais para os pobres.
Sem argumentos para responder aos meus argumentos, eles responderam que o presidente tinha ordenado, e que tínhamos de cumprir. Argumentei em retorno que o presidente estava ABSOLUTA E RELATIVAMENTE ERRADO, e que tínhamos de fazê-lo ver que esse programa era uma ilusão absoluta, que jamais iria resolver os problemas da educação brasileira, necessitada de soluções mais simples e mais custosas – formação de professores, basicamente – e não de uma ferramenta que seria mal utilizada e perdida no caos total que era (e é) a educação brasileira, dominada pelas “saúvas freireanas” que são os funcionários do MEC, todos esses pedagogos e pedagogos absolutamente deformados pelas idiotices desse vendedor de ilusões que foi Paulo Freire.
Não preciso dizer que meus argumentos jamais foram aceitos, e que os companheiros prosseguiram com seu inútil, dispendioso, equivocado programa para premiar capitalistas espertos e companheiros mal intencionados (atrás apenas dos programas que o presidente mandava fazer, sem qualquer respaldo em estudos técnicos).
Um dia, um sistema de controle da racionalidade dos programas governamentais – que poderia ser o TCU – deveria fazer uma contabilidade de todas as bobagens cometidas ao longo do reino dos companheiros, de todo o custo imenso para a sociedade de programas equivocados, de todas essas bobagens cometidas contra o interesse público e o desenvolvimento nacional, alguns até sem aferição qualitativa ou qualitativa adequada.
Como aferir, por exemplo, o custo, absoluto e relativo, ou seja, o custo-oportunidade qualitativo, de programas idiotas como estudos afro-brasileiros e portunhol (sim, portunhol) obrigatórios no básico, de estudos de sociologia e filosofia obrigatórios no médio (um programa para marxistas desempregados), de todas as inutilidades “sociais” criadas por militantes ignaros e oportunistas espertos? A cifra deve montar a milhões, senão a bilhões de reais – quando computamos os programas para os capitalistas espertos – e os resultados são pífios magros, senão inexistentes.
Quero crer que este é mais um dos programas inúteis, custosos, totalmente equivocados. Quem paga o prejuízo?
Os companheiros idiotas que o conceberam, o presidente ignaro que mandou fazer, os capitalistas espertos que se oferecem para cumprir continuam por aí, sugando o dinheiro de todos nós e se apresentando como amigos da “inclusão social”. Idiotas completos é o que são.
Paulo Roberto de Almeida
Trocando nada por coisa nenhuma
domingo, 5 de fevereiro de 2012
Dilma Rousseff atrapalhou o programa "Um Computador por Aluno" apresentado pelo ex-presidente. A reportagem está no Estadão de ontem.
(http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,dilma-trava-programa-de-laptops-de-lula,831491,0.htm)
O projeto Um Computador por Aluno, apresentado com o costumeiro entusiasmo, (Vejam como sou dadivoso! deve ter pensado ele) - acabou virando sucata. Não só o projeto, mas muitos computadores que estão empilhados, quebrados e avariados.
Exemplos (péssimos exemplos):
Escola Basílio da Gama (Tiradentes-MG) - a internet não funciona, faltam armários e carteiras - avaliação encomendada pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE).
Santa Cecília do Pavão(PR) - Falta infraestrutura, não há capacitação adequada, e os professores "sentem a inovação como ameaça", palavras que estão no texto do relatório. Ameaça?!?
Ao ser questionado sobre o desperdício, Aloizio Mercadante, que acabou de se transformar em ministro, entra em campo dizendo "Vamos mergulhar na reflexão". Anunciou a distribuição de tablets até o final de 2012. Pronto, está resolvido o problema.
Dilma trava programa de laptops de Lula
Relatório encomendado pela SAE avalia que situação do projeto Um Computador por Aluno ‘é caótica’
04 de fevereiro de 2012 | 20h 54
Marta Salomon, de O Estado de S. Paulo
Lançado com entusiasmo pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o projeto Um Computador por Aluno (UCA) praticamente foi abandonado na transição para o governo Dilma Rousseff. Parte dos 150 mil laptops comprados pelo governo por R$ 82, 5 milhões está subaproveitada. Há também registro de alto índice de laptops quebrados e avariados.
Dos 600 mil computadores oferecidos em 2010 a governadores e prefeitos, que supostamente dariam continuidade ao programa, pouco mais da metade foi comprada. O prazo da oferta venceu no final do ano passado e não houve nova licitação.
Na Escola Basílio da Gama, em Tiradentes (MG), os laptops do projeto continuavam encaixotados porque a internet não funciona e faltam armários e carteiras, relata avaliação encomendada pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE).
Em Santa Cecília do Pavão, no Paraná, outro dos cinco municípios alvo do projeto, a situação é "caótica", segundo o relatório ao qual o Estado teve acesso. Por falta de infraestrutura e sem capacitação adequada, os professores "sentem a inovação como ameaça", diz o texto do relatório, debatido reservadamente no governo.
"Vamos mergulhar na reflexão", reagiu o ministro da Educação, Aloizio Mercadante ao ser questionado sobre o destino do UCA. Na quinta-feira, o ministro anunciou da distribuição de tablets aos quase 600 mil professores do ensino médio, até o final de 2012.
"Começar pelo professor é mais seguro", repetiu o ministro Mercadante, marcando discretamente a mudança de rumo do programa de inclusão digital nas escolas.
Conclusão
Até aqui, o programa vem se comportando de forma errática, sugere o relatório encomendado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos num contrato de R$ 1,7 milhão com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O trabalho investigou com profundidade o impacto da segunda fase do projeto de distribuição de laptops a 10.500 alunos de todas as escolas municipais e estaduais de cinco municípios pequenos em Estados diferentes.
"O desenho do projeto subestimou as dificuldades de apropriação da tecnologia pelos professores do ensino fundamental e médio em comunidades relativamente carentes, o que levou a um subaproveitamento do UCA em sala de aula", resume o relatório final da SAE de mais de 200 páginas.
Depois de um ano de implementação do projeto, os pesquisadores concluíram que cerca de 20% dos professores não usam o laptop distribuído pelo governo; 22% declararam não ter passado por nenhum tipo de capacitação.
"Muitos se sentiram humilhados e desmotivados", diz o relatório final do trabalho coordenado por Lena Lavinas, convidada por Mercadante para um debate, junto com outros técnicos, para avaliar o destino do projeto UCA. "Vamos espancar o projeto até a nona casa decimal", adiantou o ministro, repetindo a senha usada na administração Dilma Rousseff para preparar ações do governo.
Dificuldades
Problemas na capacitação dos professores foram mais agudos no município de São João da Ponta, no Pará. Lá, segundo o relatório, professores e diretores teriam manifestado decepção e desencanto.
"Os alunos, com a posse e o domínio sobre os equipamentos, usando-os a seu bel prazer, parecem revestidos de um poder que, somado à pouca capacitação dos professores e à falta de estrutura das escolas, confunde o processo ensino-aprendizagem, assombra e inibe a ação e a autoridade dos professores e diretores", analisa o relatório.
A avaliação não menospreza os aspectos positivos da distribuição de laptops. Parte dos alunos descobriu a informática por meio do UCA e a maioria aprova a inovação. "É impossível não se comover com o deslumbramento dos jovens e de alguns adultos, que se sentem definitivamente parte de um mundo novo, o mundo da era digital", relatam os pesquisadores sobre o uso dos laptops do UCA na praça central de São João da Ponta.
"Não há dúvida de que houve um processo de aprendizado sobre a inclusão digital, porém com custos elevados e efeitos aquém do esperado", resume.
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Comentário final PRA: O governo gasta mais de 82 milhões para comprar de maneira totalmente caótica 150 mil laptops, que permanecem subaproveitados, e depois gasta mais 2 milhões apenas para avaliar a burrice que fez? Eu já sabia desde o início que não iria dar certo.
Quanto a essa balela de inclusão digital, isso é besteirol de companheiro para justificar emprego público para não fazer nada e ainda custar mais alguns milhões para a sociedade.
Inclusão digital é ter computador barato para todo mundo -- o que poderia ocorrer se não houve uma tributação de 40% ou mais na cadeia setorial, e se não houvesse carteis na oferta de conexão, para que tudo custasse barato. Sendo barato o povo compra, e ele mesmo se inclui digitamente, sozinho, sem precisar de um bando de companheiros idiotas para lhe dizer como precisa se incluir digitalmente.
A estupidez dos companheiros, e a desonestidade econômica, são proverbiais.
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