Quantidade e qualidade dos diplomatas - Oliver Stuenkel
Diplomacia e Relações Internacionais

Quantidade e qualidade dos diplomatas - Oliver Stuenkel


De quantos diplomatas uma potência emergente precisa?

2012 November 6
Brazil, India, Portuguese
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by Oliver Stuenkel
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Um fator importante, porém frequentemente negligenciado quando se analisa a política externa de um país, é o tamanho de seu corpo diplomático. Estratégias inteligentes planejadas no Ministério de Relações Exteriores do país de origem podem não ter o impacto esperado porque o número de oficiais em serviço no exterior é insuficiente para implementar a nova política. Negociações bilaterais complexas podem ser afetadas negativamente se os negociadores de uma das partes não tiverem o devido acesso à informação, como consequência da falta de corpo diplomático e de conhecimento sobre as pressões domésticas que o outro lado está enfrentando. Ademais, manter uma embaixada com quadros insuficientes pode mandar uma mensagem negativa ao país-sede, causando, em alguns casos, mais danos do que abdicar de abrir uma embaixada.
À medida que os países emergentes buscam projetar mais influência no cenário internacional, o número reduzido de diplomatas desses países impõe severas limitações à capacidade de operacionalizar novas políticas. Uma comparação diz tudo: há mais diplomatas americanos servindo em Nova Délhi que diplomatas indianos no mundo inteiro. Isso significa que os Estados Unidos têm mais capital humano para desenvolver sua relação bilateral com a Índia do que a Índia tem para planejar e implementar sua política externa no restante do mundo.
Em um recente artigo de opinião publicado no Times of India, Kanti Bajpai, um professor universitário especializado em política externa indiana, criticou a situação e fez piada, dizendo que, com 600 oficiais, a Índia teria tantos diplomatas “quanto os gigantes Bélgica e Holanda”. Se o Ministério de Relações Exteriores indiano continuar a crescer nesse ritmo, haverá 1.200 diplomatas indianos em 2040 – no entanto, nessa data, a China terá 10.000 diplomatas servindo no exterior. Atualmente, o número de diplomatas americanos já é muito superior a 10.000.
Essa escassez extrema deve afetar negativamente a política externa indiana em vários níveis – da diplomacia pública à dificuldade de estabelecer vínculos com os importantes stakeholders locais no país-sede. Uma das frases mais comuns que se ouve dos pesquisadores de política externa indiana que estão visitando Nova Délhi é que não foi possível “encontrar ninguém no Ministério de Relações Exteriores indiano”.
No entanto, é interessante que Bajpai não diz quantos diplomatas a Índia deveria almejar ter. Qual é o número adequado de diplomatas para uma potência emergente como a Índia, que, aos poucos, começa a atuar em regiões onde, tradicionalmente, tinha pouco interesse?

Apesar de o corpo diplomático chinês ser grande demais para servir de modelo, é interessante notar que os quadros diplomáticos brasileiros são o dobro dos indianos. A despeito disso, há representações diplomáticas brasileiras ao redor do mundo que são tão pequenas – principalmente na África – que é plausível questionar como elas funcionam adequadamente. Há menos de 10 diplomatas brasileiros em Nova Délhi, e menos de 20 em Pequim – provavelmente insuficiente, considerando que a China é o parceiro comercial mais importante do Brasil desde 2009. Entretanto, o problema no Brasil pode não ser o número total de diplomatas, mas sim, o modo como eles estão distribuídos ao redor do mundo – por exemplo, em Roma, há o dobro de diplomatas que em Pequim, o que mostra que o Itamaraty ainda não se adaptou plenamente à atual mudança de poder global, a ascensão da Ásia em detrimento da Europa.
Porém, Bajpai diz que a quantidade de diplomatas não é o único problema na Índia. A qualidade está decaindo também. Ele argumenta que o serviço diplomático deixou de ser uma opção interessante para aqueles que desejam mudar a Índia, e sugere que novos processos de seleção sejam implementados: “devemos também recrutar em outras instituições públicas, incluindo as forças armadas, o setor privado, os círculos universitários, os think tanks e a imprensa”.
Quanto a isso, o Brasil apresenta uma peculiaridade, apesar de o Ministério das Relações Exteriores, outrora isolado, ter perdido um pouco de seu glamour e misticismo, pois, cada vez mais, os diplomatas precisam trabalhar em parceria com outros ministérios. O status social de um diplomata está muito acima de outras profissões, e poucos se preocupam com a qualidade dos candidatos. Enquanto o setor privado frequentemente sonda promissores diplomatas brasileiros com experiência internacional e conhecimentos de línguas estrangeiras, o Ministério de Relações Exteriores do Brasil ainda se recusa a mudar e a adotar o conselho de Bajpai.
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