Márcia Rodrigues, de O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - O sonho de conhecer diversos países e de representar o Brasil em negociações globais, além de um salário que vai de R$ 12,5 mil (para iniciante) a R$ 18 mil (para embaixador) vêm atraindo muitos jovens para a diplomacia. São em média 276 candidatos por vaga nas provas realizadas todos os anos pelo Instituto Rio Branco (IRB) - a porta de entrada para os futuros diplomatas. É uma disputa cerca de cinco vezes maior do que o curso mais procurado na Fuvest, o de engenharia civil da USP de São Carlos, que tem 52,27 candidatos por vaga.
Cada concurso para o IRB preenche, em média, 26 novos postos no Itamaraty. A maioria abertos em consequência de aposentadorias. O próximo edital deve ser publicado no mês de dezembro e a prova é aplicada sempre em fevereiro.
A disputa acirrada faz com que os candidatos entrem numa maratona de estudos. É o caso de Bruna Pachiari, de 24 anos, que largou o trabalho para se dedicar integralmente à preparação. Ela consome oito horas por dia a esta tarefa. Bruna é a primeira de um clã de advogados a investir na diplomacia. "Sempre quis representar o Brasil em negociações econômicas e políticas. Tanto que cursei comércio exterior, inglês, francês e, recentemente, comecei a estudar espanhol."
Empolgada com a possibilidade de morar fora, avisa: "Meu namorado disse que me acompanha para qualquer país".
Assim como a jovem, André Engracia Melo, 36 anos, também dedica-se aos estudos diariamente. Ator e administrador de empresas, já recusou participação em novelas e peças teatrais para se debruçar sobre os livros. "Amo a possibilidade de lidar com pessoas de culturas diferentes e estar no meio de discussões de grande importância para a economia global."
Ao contrário do que os pais esperavam, o jornalista Tarcízio Zanfolin, 26 anos, não seguiu carreira na imprensa como anunciara ao entrar na faculdade de comunicação. Sua facilidade de aprender outros idiomas foi um dos aspectos que o levaram a olhar com mais atenção para a diplomacia. Atualmente, fala inglês, espanhol, alemão e já cursou um ano de chinês. O próximo passo será aprender francês, idioma classificatório na prova do Itamaraty.
"Ficarei feliz de representar o Brasil em qualquer país, mas gostaria de mergulhar um pouco na cultura da Ásia, que vem obtendo grande destaque na economia internacional."
O casal André Flores, 30 anos, e Lorena Sodano Ribeiro Flores, 32 anos, resolveu investir na carreira junto. "Um apoia o outro nos momentos de dificuldades e quando bate o cansaço ou o desânimo", comenta ele.
"Nosso tempo livre é estudando. Estamos realmente determinados a prestar o concurso quantas vezes precisarmos para ingressar na carreira", diz Lorena.
Questionados sobre a possibilidade de cada um assumir a representação de um país diferente, dizem que vão avaliar qual é a melhor proposta e um vai abdicar da carreira para permanecerem juntos.
Preparação. O concurso é realizado em quatro fases. A primeira inclui provas objetivas de português, história, geografia, política internacional, inglês, economia e direito. A segunda etapa tem provas de português de caráter eliminatório e classificatório. Na terceira fase, ocorrem os exames escritos das mesmas matérias da primeira etapa. A última fase, de caráter classificatório, consiste em testes de espanhol e francês.
A coordenadora do cursinho preparatório chamado Escola Superior de Diplomacia (ESD), Cláudia Gonçalves Galaverna, diz que a dedicação dos alunos não é exagerada. "É preciso estudar, e muito, para entrar no Itamaraty. Além de o grau de exigência ser grande, o volume de matérias é bem pesado e exige muito do aluno."
Uma dica da coordenadora é elaborar um plano de estudo e seguir à risca. Também é importante acompanhar as provas, principalmente as de português. Há leituras obrigatórias para os futuros candidatos (veja lista dos livros nesta página).
Para o primeiro secretário do IRB, Márcio Rebouças, responsável pelo concurso, mais do que dedicação aos estudos, o candidato deve ter persistência. "Deve estar preparado para prestar a prova mais de uma vez se for o caso." Hoje, o Brasil tem 1,5 mil diplomatas. A cada seis meses, há inscrições para vagas disponíveis em diversos países.