Diplomacia e Relações Internacionais
Politica Externa Brasileira: antecipando as mudancas (um texto de 2010)
O texto que segue abaixo foi elaborado em Shanghai, em setembro de 2010, sob solicitação externa, e nele tentei ser moderado em relação aos absurdos visíveis que se cometiam na política t do Brasil nessa época: amizades e intimidades com ditadores e violadores dos direitos humanos, intervenção nos assuntos internos de outros países, desejos megalomaníacos de grandeza, enfim, toda sorte de despautérios que necessitavam de correção.
Minha única virtude foi a de anunciar que essas mudanças viriam...
Paulo Roberto de Almeida
O legado de Lula em política externa: corrigir as amizades bizarrasPaulo Roberto de Almeida
Shanghai, 16 setembro 2010
Ao cabo dos dois mandatos de Lula, a posição do Brasil no cenário internacional se encontra realçada. Saber quanto desse prestígio é devido à sua diplomacia, qual é o efeito da ascensão geral dos emergentes, ou quanto pode ser atribuído ao próprio país, enquanto economia estabilizada com base na política econômica do governo anterior de FHC, são dúvidas legítimas na avaliação desse legado na frente externa.
Numa linguagem coloquial, pode-se dizer que a diplomacia de Lula teve bem mais transpiração do que inspiração, registrando-se a preeminência da forma – o hiperativismo presidencial, feito de incontáveis viagens ao exterior – sobre a substância, ou seja, resultados efetivos da agitação. Olhando-se por esse lado, a constatação que se faz é a de muitos dossiês abertos e poucos sucessos alcançados.
As prioridades externas de Lula podem ser alinhadas em três conjuntos de objetivos: (a) a conquista de um assento permanente para o Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas; (b) o reforço, a consolidação e ampliação do Mercosul; (c) a conclusão da Rodada Doha da OMC e a “correção de rumo” nas negociações do projeto americano da Alca.
Ora, com exceção da “implosão da Alca” – que era, digamos, uma meta “negativa” – nenhum dos demais objetivos foi alcançado, sequer de modo parcial. É certo que o prestígio internacional do Brasil e sua audiência internacional cresceram no período, mas isso se deu sobretudo em função da preservação da estabilidade macroeconômica e da ausência dos equívocos econômicos de tipo populista cometidos por outros governos na região.
Algo dos fracassos pode ser atribuído às concepções partidárias, equivocadas, do PT, e impostas ao Itamaraty, sobretudo no caso, inexplicável, dos recuos em direitos humanos, das estranhas amizades com personagens de regimes pouco freqüentáveis no plano internacional ou da prevalência de critérios ideológicos nas preferências políticas externas. Em diversas ocasiões, o próprio presidente manifestou seu apoio político a candidatos de esquerda em eleições na região, o que rompe com a tradição brasileira de não ingerência nos assuntos internos de outros países. Outra manifestação indevida da mesma tendência foi a clara tomada de posição no caso da crise política em Honduras, quando o Brasil ficou caudatário das posições chavistas no imbróglio. O próximo governo, qualquer que seja ele, precisaria restabelecer os fundamentos profissionais, e não partidários, da diplomacia brasileira.
Shanghai, 16 setembro 2010
Publicado como “Corrigir amizades bizarras internacionais é desafio”, no portal iG, Último Segundo, “Era Lula e os Desafios de Dilma” (2/12/2010; link: http://ultimosegundo.ig.com.br/governolula/artigo+corrigir+amizades+bizarras+internacionais+e+desafio/n1237826574910.html).
loading...
-
Diplomacia E Politica Externa: Back To The Future - Paulo Roberto De Almeida
Já tinha até esquecido deste artigo que escrevi entre um turno e outro das eleições, aparentemente mal recebido em certos ambientes, ou sequer lido em outros. Não que eu fosse muito otimista quanto à possibilidade de mudança, pois sabia como funcionava...
-
Politica Externa Do Governo Lula - Revista Debates (ufrgs)
Dois artigos sobre a política externa do governo Lula (um comparativo com o governo FHC), nesta revista de ciência política da UFRGS. Destaco, previamente ao post, mas posteriormente à postagem, este comentário de um leitor, como abaixo, que merece...
-
Prioridades Da Política Externa Brasileira - Cebri-rj
Um importante documento acaba de ser publicado pelo CEBRI: Prioridades da Política Externa Brasileira à Luz do Interesse Nacional CEBRI Dossiê - Edição Especial Volume 1 - Ano 9 - 2010 ÍNDICE Introdução 1- The Brazilian Role on Iran’s Nuclear...
-
Politica Externa Partidaria E Personalista - Celso Lafer
A candidatura Dilma e a política externa Celso Lafer O Estado de S.Paulo, 18 de setembro de 2010 "Nunca, jamais, na História deste país" - para evocar o bordão preferido do presidente Lula - um chefe de Estado se dedicou a mobilizar tantos recursos...
-
Fim De Consenso Na Diplomacia Brasileira - Pedro Da Motta Veiga
Muito tempo atrás, há pelo menos quatro anos, eu já havia detectado o desaparecimento desse suposto consenso, neste pequeno trabalho: Fim de consenso na diplomacia? O Estado do Paraná (Curitiba, sexta-feira, 27/10/2006, Opinião, p. 4) Não estando...
Diplomacia e Relações Internacionais