Politica externa: o choro do Barao do Rio Branco - Fábio Pereira Ribeiro (Exame)
Diplomacia e Relações Internacionais

Politica externa: o choro do Barao do Rio Branco - Fábio Pereira Ribeiro (Exame)


Um artigo que generosamente cita o meu último livro, menos generosamente recebido na Casa de Rio Branco...
Meus agradecimentos ao Fábio Pereira Ribeiro, jornalista e professor, que encontrou uma maneira de me promover, pelo menos virtualmente...
Paulo Roberto de Almeida 

O choro do Barão do Rio Branco

Fábio Pereira Ribeiro 
 
Nunca antes neste país o Itamaraty foi tão esculachado. Imagino que o Barão do Rio Branco, José Maria da Silva Paranhos Júnior, ainda chore em seu túmulo. Suas iniciativas, ideais, pragmatismos, políticas e defesa pela Nação brasileira no exterior foram relegadas a um plano de poder partidário. O Barão do Rio Branco sempre foi categórico, “a pasta de Relações Exteriores não é e não deve ser uma pasta de política interna”. Será que desaprendemos nos últimos anos? O que está acontecendo com o Itamaraty? O Ministério das Relações Exteriores sempre foi a ilha de excelência do serviço público brasileiro, e reconhecido como um dos melhores serviços exteriores do mundo. O Brasil sempre foi respeitado internacionalmente pelas ações de grandes diplomatas, mas o que acontece hoje? Até a palavra calote colou na imagem do Itamaraty.
Como diria o Embaixador Rubens Antônio Barbosa em seu prefácio da obra do Embaixador Paulo Roberto de Almeida, “Nunca antes na Diplomacia…”, “a marginalização do Itamaraty, sobretudo no tratamento de assuntos relacionados aos países vizinhos da América do Sul, certamente não estaria agradando ao Barão do Rio Branco...”. Por sinal, o próprio Embaixador Paulo Roberto de Almeida lembra em sua obra, “o Mercosul, como um instrumento de abertura de mercados, foi dos projetos que mais sofreu com a partidarização da política externa nos últimos doze anos”. Partidarização é um mal para a diplomacia, e para o Brasil uma tragédia na política externa.

Algumas agendas nacionais e internacionais devem estar totalmente conectadas com a sociedade. Política Externa, Defesa e Inteligência não podem sofrer do mal da partidarização. A partidarização está destruindo instituições de excelência no serviço público brasileiro, e ainda coloca em risco o futuro de um projeto consistente de país. O Embaixador Rubens Antônio Barbosa, que foi embaixador em Londres e em Washington, bem lembrou na obra do Embaixador Paulo Roberto de Almeida, “o Itamaraty continuou a fazer diplomacia, mas, a partir de 2003, passou a estar acompanhado – ou, melhor, controlado indevidamente – por aqueles que passaram a determinar a política externa do Brasil com base em critérios essencialmente partidários”. O projeto de partido que importa, a sociedade brasileira não.
Quando assistimos a vexatória posição do Itamaraty perante fornecedores no exterior, já dá para imaginar o quanto diplomatas e profissionais de carreiras e comissionados sofrem com o descaso das políticas públicas e partidárias inseridas no âmbito da Política Externa brasileira. Um diplomata, que vou respeitar a proteção da fonte, me disse em Paris que já se tornou rotina “o atraso de salários, aluguéis e despesas com manutenção dos equipamentos públicos brasileiros”. Nem biblioteca brasileira para pesquisadores foram poupadas. Praticamente todas estão fechadas e desestruturadas. Imagino o que se produz de inteligência através de uma embaixada? Como alguém pode pensar em inteligência se tem que se estressar com as despesas no final do mês? Literalmente o Itamaraty está vendendo o “almoço para ter a janta”.
Com certeza o Barão do Rio Branco está chorando em seu túmulo, e seu choro é ouvido em todos os rincões do mundo. Até que ponto chegaremos com esta política externa, onde um “ser desiluminado” ainda manda nas regras diplomáticas? Por que a Presidente Dilma Rousseff tanto se afasta das agendas de Política Externa, Defesa e Inteligência?
Barão do Rio Branco – Patrono das Relações Exteriores do Brasil
Os resultados estão aí, não precisa procurar muito para ver o tamanho do estrago. Gosto de lembrar do ensinamento do Embaixador Rubens Antônio Barbosa, “a partidarização da política externa trouxe consequências negativas para a ação do Itamaraty e, via de consequência, também para a política de comércio exterior. Esses desvios repercutiram amplamente nas negociações comerciais externas, nas quais simpatias políticas prevaleceram sobre obrigações contraídas no âmbito do Mercosul ou até sobre regras prevalecentes no sistema multilateral da OMC. A prioridade desequilibrada atribuída a uma mal designada “diplomacia Sul-Sul”e a vontade ingênua de inaugurar uma “nova geografia do comércio internacional” fizeram com que os exportadores brasileiros deixassem de abrir mercados em países desenvolvidos, resultando em déficit extraordinário com nossos maiores parceiros da Europa e com os EUA. Por outro lado, as ações na África e no Oriente Médio não produziram ganhos políticos significativos nem comerciais expressivos, já que, em termos percentuais, o crescimento do intercâmbio comercial com essas regiões foi bastante reduzido”. A verdade é uma só, as últimas escolhas da Política Externa atual são verdadeiros desastres. Trocamos seis por meia dúzia. Nem Mariel é este mar de flores como pregam.
O Diplomata e Diretor do Bric Lab da Columbia University, Marcos Troyjo, lembra em seu último artigo na Folha de São Paulo, “Iludindo-se com Cuba” o quanto nossa política externa atual tem uma bússola de uma só direção, pelo menos do erro. Troyjo afirma que “nos últimos 12 anos, o Brasil apostou numa América Latina de duas velocidades. Colocou fichas na coalização de regimes mais à esquerda. Privilegiamos o eixo socialista-bolivariano, baseado na onipresença do Estado na vida econômica e numa xenofobia seletiva centrada nos EUA. Venezuela, Bolívia, Equador e de alguma forma a Argentina integram esse grupo. Com a normalização de relações com seu grande vizinho, Cuba, epicentro histórico de tal agrupamento, voltará a ter em Washington, não Brasília ou Caracas, sua referencia geoeconômica. Da perspectiva diplomática, iniciativas apoiadas pelo Brasil na cooperação hemisférica sem a participação sem a participação dos EUA, como Unasul e a Celac, perdem força”. Nós brasileiros sofremos de uma cegueira internacional. Será que não conseguimos imaginar o que acontece na Venezuela de hoje lá com o Maduro, o homem que fala com a Pomba Rola achando que é o Hugo Chávez? Será que não conseguimos ver o que está acontecendo na América do Sul? E estou falando literalmente dos mais necessitados.
De uma forma geral, o Itamaraty não pode ser destruído com a nossa Política Externa. O Brasil não pode ser babá de ditaduras ou de países que preferem esculachar os mais pobres do que criar uma política consistente de desenvolvimento para o futuro. O Embaixador Paulo Roberto de Almeida é bem claro em relação aos métodos do “jogo diplomático”. Eu, particularmente, tenho dúvidas se o Brasil de hoje usa algumas regras fundamentais para o “jogo diplomático”:
“Clareza de intenções” – Será que no caso de Mariel existe clareza de intenções, ou pelo menos transparência nos projetos?
Interação entre a diplomacia e a economia– Algo muito distante, veja o esforço que médios empresários têm que fazer na África. Algo quase rastejante.
Aferição precisa quanto aos meios disponíveis”.
Flexibilidade e abertura às inovações” – neste ponto, literalmente estamos retrocedendo ao pré Barão do Rio Branco.

O Brasil é um país continental, é uma potência internacional (por mais que muitos não acreditem nisso), tem grandes riquezas naturais, uma economia interna que salvaguarda crises internacionais, grandes potências querem fazer negócios (mas ficam desconfiadas do partidarismo na política externa), temos presença em praticamente todos os países (por mais que tenhamos problemas de custeio e orçamento), assim, não tem sentido o Itamaraty ser tão destituído de sua grande força e história nas Relações Internacionais. A história do Itamaraty é extremamente respeitada, só tenho medo que tudo fique só na história do passado e não do futuro.



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