Plano Real, 20 anos: seria o cambio o principal problema do Brasil? - Antonio Carlos Teixeira Álvares e Guilherme Renato Caldo Moreira
Diplomacia e Relações Internacionais

Plano Real, 20 anos: seria o cambio o principal problema do Brasil? - Antonio Carlos Teixeira Álvares e Guilherme Renato Caldo Moreira


A despeito dos autores terem razão do ponto de vista formal, não acredito que eles tenham razão no fundo, pois uma moeda pode também se valorizar, se a economia se fortalece. Bem, esse não foi o caso do Brasil, mas o câmbio não me parece ser o principal problema da política econômica, como parecem pensar os keynesianos de carteirinho (que acrescentam os juros altos, ao pacote). Ou seja, eles acham que se colocar o câmbio no bom patamar, aqui entre 2,87 e 3,00 por dólar, e com juros a 6,5 ou 7%, tudo estaria perfeito e o Brasil poderia crescer.
Não acredito: não com esse custo Brasil, com a atributação onerosa e irracional, com essa infraestrutura deplorável, com esse governo protecionista, com todas essas maldades que ele pratica sob a forma de distorções econômicas.
O Brasil vai mal, e não existem só duas causas para isso. Existem muitas...
Paulo Roberto de Almeida

O câmbio após vinte anos de Plano Real
Antonio Carlos Teixeira Álvares e Guilherme Renato Caldo Moreira
Brasil Econômico, 13/08/2014

Antonio Carlos Teixeira Álvares e Guilherme Renato Caldo Moreira são, respectivamente, professor da FGV/EAESP e gerente do Departamento de Estudos e Pesquisas Econômicas da Fiesp e do Ciesp

A sobrevalorização do real é um fato concreto que está sacrificando barbaramente a indústria de transformação brasileira. De 2011 a 2014, o PIB total crescerá 7,4%, enquanto o PIB da indústria de transformação cairá 1%nesse período. E o mais grave é que muitos renomados economistas acreditam que a sobrevalorização do real seja proposital, pela disposição do governo federal em segurar os índices inflacionários. Proposital ou não, ao menos em um aspecto a maioria concorda: o câmbio está totalmente fora de lugar. A análise que aqui apresentamos demonstra que essa distorção está na raiz da crise, não somente da indústria de transformação, mas de toda a economia brasileira. Senão, vejamos: vinte anos atrás, em 1º de julho de 1994, foi instituído o Real, como moeda oficial do Brasil.
Entretanto, o Plano Real começou um pouco antes, em 1º de março de 1994, com a Unidade Real de Valor (URV). A moeda, na ocasião, era o Cruzeiro Real, sujeito à forte inflação. Registros da época mencionam que a URV teria sido inspirada no artigo escrito pelos economistas André Lara Resende e Pérsio Arida, intitulado Inertial Inflation and Monetary Reform, e apresentado em um seminário nos Estados Unidos, em 1984. O artigo, apelidado de proposta Larida, previa a implantação da reforma monetária pela indexação total da economia. Fundamentada nessa ideia foi concebida, dez anos depois, a URV, um indexador diário diretamente vinculado à taxa de câmbio. Em 1º de março de 1994, foi criada a Unidade Real de Valor, valendo 647,50 cruzeiros reais (CR$). Esse valor era correspondente à cotação do dólar americano em 1º de abril de 1994, e o valor da URV evoluiu diariamente, espelhando o câmbio.
Em 1º de abril de 1994, a URV valia CR$ 931,05; em 2 de maio, CR$1.323,92; em 1º de junho, CR$ 1908,08; e, finalmente, no histórico 1º de julho de 1994, foi posta em circulação a moeda real, convertendo cada cruzeiro real por 2.750,00, que seria o valor da URV na época e, consequentemente, como esse valor era baseado na cotação do dólar, quando nessa data o câmbio indicava: R$ 1,00 = US$ 1,00.O real foi consequência da indexação diária à cotação do dólar. A genialidade por trás da criação da URV foi ter implantado uma condição de dolarização praticamente total de preços na economia, sem uma verdadeira dolarização, com substituição da moeda, como aconteceu, por exemplo, no Equador. Isso posto, é razoável admitir que a cotação R$ 1,00 = US$ 1,00, em 1º de julho de 1994, espelhava a realidade econômica, pois fora conseguida pela indexação do câmbio diário durante quatro meses.A inflação acumulada em vinte anos,desde a criação do real, medida pelo Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE, atingiu 361,72%.
Em última análise, isso significa que R$ 1,00, em 1º de julho de 1994, equivaleria a aproximadamente R$ 4,62 em 1º de julho de 2014. No mesmo período, a inflação americana foi de aproximadamente 61%. Isso significaria que US$ 1,00 em 1º de julho de 1994 equivaleria a US$ 1,61 em moeda de 1º de julho de 2014. Com base nesses dados, e por meio do cálculo matemático, chegamos à cotação cambial do dólar em 1º de julho de 2014, equivalente à da criação do real em 1º de julho de 1994: R$ 4,62 ÷ US$1,61= R$ 2,87. Ou seja, para ser equivalente ao câmbio paritário na data da criação do real, a taxa de câmbio hoje teria que ser muito superior ao patamar atual. Para vários especialistas, deveria ser da ordem de R$ 3,00. A história da criação do real parece lhes dar razão.



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