Artigo de Rogério Meneghini na Folha de São Paulo (30/08/2011). No Brasil, os periódicos são publicados por sociedades, e não por publishers; por isso, a maioria é gerenciada de modo amador e com poucos recursos A produção mundial de ciências tem crescido intensamente, principalmente em países emergentes. Estima-se que haja mais de 100 mil periódicos científicos no mundo.
Tanto em taxa de crescimento quanto em total de artigos, os países emergentes do grupo Brics se destacam, com 18% das publicações mundiais. Tais números ressaltam a quantidade, mas e quanto à qualidade? A avaliação mais próxima desse atributo se faz pelo número médio de citações aos artigos, utilizando bases internacionais de indexação.
Na mais prestigiosa, a Thomson-Reuters-ISI, o Brasil se encontra na 13ª posição em número de artigos publicados e na 35ª posição em citações por artigo; em resumo, relativamente bem em produtividade, mas mal em qualidade. Entre os fatores que pesam para isso está o baixo nível de colaboração internacional (27% dos artigos).
Países mais avançados apresentam taxas superiores a 50%. É evidente que, hoje, a interação com parceiros internacionais aumenta a troca de ideias e informações, beneficiando o trabalho resultante.
Outro fator é a baixa presença de cientistas brasileiros nos corpos editoriais das revistas internacionais. Não por menos, esses pesquisadores são chamados de guardiões do portão: como cientistas destacados, têm o poder de estabelecer os contornos da ciência contemporânea, definindo o que é relevante e vanguardeiro.
Nossos periódicos também têm seus guardiões. Poderiam eles compensar a pouca presença internacional? Dificilmente. Os países emergentes buscam indexar seus periódicos nas bases internacionais, e alcançaram sucesso nos últimos anos. Contudo, tais periódicos não se tornam necessariamente internacionais por isso. Eles operam primordialmente para fluir a produção científica nacional.( o grifo é do Jackson)
No Brasil, são publicados por instituições ou sociedades, e não por publishers, como na grande maioria dos países. Por isso, são em sua maioria administrados de forma amadora e com recursos modestos.
O programa SciELO, apoiado primordialmente pela Fapesp, tem operado para selecionar os melhores periódicos brasileiros, dispondo-os em acesso aberto na internet e alavancando-os para indexação nas bases internacionais. O programa, porém, não intervém em suas administrações, não exercendo, portanto, o papel de publisher.
Como avançar na internacionalização desses periódicos? A meta é atingir maior visibilidade (citações) com uso intensivo da língua inglesa e da colaboração internacional.
Para isso, é necessário: (1) profissionalizar a administração, por meio de publishers e de atuação na composição do corpo editorial com pesquisadores conceituados e ativos (não perfunctórios), remunerados e experientes internacionalmente; (2) adotar um modelo econômico em que os autores pagam para publicar seus artigos, com recursos provindos de seus projetos.
A escolha de onde publicar já seria um procedimento de avaliação dos melhores periódicos pelos pesquisadores.
Rogério Meneghini é professor titular aposentado da USP, coordenador científico do programa SciELO de revistas científicas e membro da Academia Brasileira de Ciências. |