O Moderno Principe (Maquiavel revisitado) - Paulo R. Almeida
Diplomacia e Relações Internacionais

O Moderno Principe (Maquiavel revisitado) - Paulo R. Almeida


Finalmente, de surpresa, acabou saindo, em novembro último, nas edições do Senado Federal, meu livro sobre -- eu até diria, de, em pelo menos 30% -- Maquiavel, adaptado aos tempos modernos. Procedi a uma releitura do seu clássico sobre o Príncipe, na minha série de "clássicos revisitados", mas colocando o cidadão, não o Estado, no centro da análise.
A capa, um Maquiavel de terno e gravata, sobre o modelo original de um óleo de Santi di Tito (ca. 1560-1600), a partir de um arquivo iconográfico Corbis, foi feita por meu próprio filho, Pedro Paulo, um Maquiavel do pincel e do lápis, sempre pronto a espantar os súditos e cidadãos com seu domínio das artes; infelizmente, e contrariamente a minhas recomendações, esta edição do Senado não lhe prestou o devido copyright, deixando de mencionar sua obra de arte, que pode ser mais admirada em clichê que vou postar aqui, em post seguinte, o que pretendo corrigir numa segunda edição.

O resumo abaixo, preparado no Senado, enquanto eu me encontrava na terra dos chins, foi feito a partir de algumas frases minhas, mas não discordo dele no essencial.

Eu teria colocado, também nesta edição, o texto original que preparei para servir de orelhas, que segue mais abaixo.
Aos que desejarem a ficha deste livro, e a informação sobre a maneira de obtê-lo, aqui segue de imediato:

O Moderno Príncipe (Maquiavel revisitado)
versão impressa: edições do Senado Federal volume 147: Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2010, 195 p.; ISBN: 978-85-7018-343-9; disponível: http://www.senado.gov.br/publicacoes/conselho/asp/publicacao.asp?COD_PUBLICACAO=1209).
Relação de Originais n. 1804; Relação de Publicados n. 1013.

Cinco séculos depois que Maquiavel escreveu sua obra, o diplomata e cientista político Paulo Roberto de Almeida segue os passos do "segretario diplomatico" da República de Florença para atualizar "O Príncipe". A partir da constatação de que a obra permanece atual, o autor utiliza a mesma estrutura e até títulos da obra do florentino para estudar as estruturas políticas e a ciência de governar nos dias de hoje. Nesta obra singular por sua natureza de original pastiche e, ao mesmo tempo, de independência de pensamento, Paulo Roberto de Almeida dialoga com o genial pensador, segue seus passos naquelas recomendações que continuam aparentemente válidas para a política atual, mas oferece um elenco de inquietações sobre cenários contemporâneos para os velhos problemas de administração dos homens. Maquiavel preocupou-se com a estrutura de um Estado moderno, enquanto Paulo Roberto de Almeida busca defender os direitos dos cidadãos, justamente contra a intrusão e a prepotência dos Estados.

O que nos separa de Maquiavel?
Paulo Roberto de Almeida

Se, por alguma fortuna histórica, Maquiavel retornasse, hoje, ao nosso convívio, com as suas virtudes de pensador prático, quase meio milênio depois de redigida sua obra mais famosa, como reescreveria ele o seu manual “hiperrealista” de governança política? Seriam os estados modernos muito diversos dos principados do final da Idade Média?
Este Maquiavel revisitado, voltado para a política contemporânea, dialoga com o genial pensador florentino, segue seus passos naquelas “recomendações” que continuam aparentemente válidas para a política atual, mas não hesita em oferecer novas respostas para velhos problemas de administração dos homens. Aqui, como em outros aspectos, a constância dos “príncipes” nos desacertos é notável. Ela não parece ter evoluído muito, desde então.
De fato, Maquiavel permanece surpreendentemente atual – com o que concordariam os filósofos e cientistas políticos da atualidade –, mesmo (talvez sobretudo) nos traços malévolos exibidos pelos condottieri contemporâneos e pelos cappi dei uomine. Ainda que envenenamentos encomendados e assassinatos por adagas, tão comuns no Renascimento italiano, não estejam mais na moda – pelo menos fora do âmbito dos serviços secretos –, e que eles tenham sido substituídos por outros métodos para se desembaraçar de concorrentes e de adversários políticos, as técnicas para se apossar do poder e para mantê-lo exibem uma notável continuidade com aquelas descritas pelo experiente diplomata da repubblica fiorentina do Quattrocento.
O que pode estar ultrapassado, no seu “manual” de 1513, é meramente acessório, pois a essência da arte de comandar os homens revela-se plenamente adequada aos dias que correm, confirmando assim as finas virtudes de psicólogo político – avant la lettre – do perspicaz pensador do Cinquecento.
Este Príncipe Moderno representa, antes de tudo, uma singela homenagem ao diplomata italiano que “inventou” a ciência política, ainda que ele o tenha feito nas difíceis circunstâncias do ostracismo, na sua condição de funcionário de Estado “cassado” pelos novos donos do poder em Florença. Obra de um momento político – talvez não muito diverso daqueles tempos vividos pelo segretario de cancelleria –, este novo Príncipe, que se pretende tão universal em seu escopo e motivações quanto seu modelo de cinco séculos atrás, oferece novos argumentos em torno dos velhos problemas da administração estatal. A bem refletir sobre a política contemporânea, pouco nos separa de Maquiavel, se não é algum desenvolvimento institucional e uma maior rapidez nas comunicações. Quanto aos homens, tanto os condottieri quanto o popolo, eles não parecem ter mudado muito...

Paulo Roberto de Almeida é cientista social e diplomata, com obras publicadas sobre temas de história diplomática, de relações internacionais e de política externa do Brasil, desfrutando atualmente de um “sabático” dedicado à redação de novos livros.



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