Mas tinha de ser um chavista brasileiro a fazer esse trabalho sujo em nome do Ipea e do Brasil na Venezuela?
Já não bastava o trabalho sujo que fazem outras áreas do governo em favor de uma ditadura assassina?
Filial do Ipea na Venezuela ignora crise e elogia governo
FABIANO MAISONNAVE DE SÃO PAULO
Folha de S. Paulo, 10/04/2014
Única representação internacional do órgão não trata de temas econômicos
País sofre com alta taxa de inflação e problemas cambiais; coordenador critica publicamente oposição a Maduro
Única representação internacional do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada),a filial do órgão na Venezuela prioriza análises favoráveis ao chavismo e projetos de integração com o Brasil ao estudo dos graves problemas macroeconômicos do país.
Desde a criação da filial venezuelana, em 2010, nenhum estudo sobre a economia venezuelana, que apresenta alta inflação e disparidade cambial crescente, foi feito.
A ausência desses temas contradiz a justificativa oficial dada pelo próprio instituto para a missão no seu início, pela qual "os grandes temas" seriam "macroeconomia e financiamento de investimento, acompanhamento e monitoramento de políticas públicas".
Nestes quatro anos, a Venezuela tem sofrido uma deterioração contínua de sua economia. A inflação fechou o ano passado em 56%, há desabastecimento de produtos básicos e um mercado de câmbio descontrolado.
Apesar da conjuntura, nos estudos produzidos sobre a Venezuela no período e enviados pelo Ipea à Folha via Lei de Acesso à Informação, os assuntos predominantes são cooperação da Venezuela com o norte do Brasil e o modelo político venezuelano.
Os tom varia entre neutro e elogioso ao chavismo. Nos estudos sobre cooperação, problemas como insegurança jurídica ficam praticamente de fora, apesar do recente histórico de nacionalizações e do relativamente baixo investimento estrangeiro.
Há também relatórios mais políticos, como o "Federalismo, Democratização e Construção Institucional no Governo Hugo Chávez", de três autores, onde se lê:
"O modelo bolivariano afasta-se, sem dúvidas, da democracia representativa despolitizadora que predomina ainda hoje no mundo. Supera o modelo idealizado pelos pais fundadores da república norte-americana".
A missão é chefiada pelo economista brasileiro Pedro Silva Barros, autor de textos no qual defende os governos de Chávez e o de seu sucessor, Nicolás Maduro, e critica a oposição venezuelana.
Segundo o Ipea, os gastos com estrutura são baixos. Barros tem salário de US$ 12.291 e ocupa uma sala na representação da Caixa Econômica Federal em Caracas. Trabalha com pesquisadores e bolsistas que permanecem curtos períodos no país.
Colaborador da publicação de esquerda "Carta Maior", ele escreveu, na visita recente a Brasília da deputada oposicionista radical cassada, María Corina Machado:
"[O senador tucano] Aécio Neves a saudou como representante da voz das barricadas, legitimando a violência que levou a morte de quase 40 venezuelanos."
A filial do instituto em Caracas foi criada por um acordo entre Lula e Chávez.
Na época, o Ipea era chefiado pelo petista Marcio Pochmann, criticado por ter politizado o instituto.
"Ele [Barros] está lá pra chancelar um governo estrangeiro, pra dar um ar de democracia, de legitimidade a um governo ditatorial", disse à Folha o economista Adolfo Sachsida, desde 1996 no Ipea.
Ele ressalva que a responsabilidade por isso é de Pochmann, e não do atual presidente, Marcelo Neri.
Instituto diz que economia não é foco principal
O representante da missão do Ipea em Caracas, o economista Pedro Silva Barros, afirmou que o objetivo principal da iniciativa sempre foi auxiliar a integração da Venezuela com o Norte do Brasil.
A gente trata sempre em cima das questões específicas dos acordos de cooperação e segundo a dinâmica desses acordos", disse à Folha, por telefone. "Nunca a parte macroeconômica foi central."
Questionado sobre a nota do Ipea de 20 de agosto de 2010, segundo a qual a macroeconomia era prioritária, disse que ainda não estava designado para o cargo.
"Fui designado em 6 de setembro de 2010. Desde então, os temas que a gente trata são de desenvolvimento regional." Ele afirmou que a missão do Ipea tem abrigado tanto colaboradores simpáticos quanto críticos ao chavismo.
Sobre a falta de estudos macroeconômicos, o Ipea em Brasília informou que "não nos cabe emitir juízo sobre os assuntos de política interna do país vizinho".
Questionado sobre a colaboração com o portal "Carta Maior", Barros disse que ele não se identifica ali como membro do Ipea para deixar claro de que se trata de uma posição pessoal, e não do governo brasileiro.
De acordo com a assessoria em Brasília, a missão do Ipea na Venezuela se encerrará em agosto. (FM)
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