Corrijo desde já o título desta postagem de Rodrigo Constantino: o CESPE da UnB não tem nada a ver com o Governo do Distrito Federal. Se trata de uma fundação da UnB especificamente dedicada a realizar concursos, para vários demandantes, privados e públicos, inclusive, e principalmente, para o governo federal, e para o governo do GDF. Mas seus funcionários, e os professores que elaboram e corrigem as questões são geralmente funcionários da UnB, não do GDF.
Em geral, professores universitários revelam um conhecimento do mundo superior à média universitária, que anda baixando perigosamente, sempre escorregando no precipício da ignorância e da estupidez ideológica, sobretudo nestes tempos companheiros, quando o alinhamento com o que há de mais anacrônico e atrasado supera o conhecimento técnico e o simples bom-senso. Professores que fazem as perguntas dos concursos, e que corrigem as provas deveriam, então, ser um pouco melhores do que os outros, porque supostamente estudarão aquela área de conhecimento, mas como vemos pelo exemplo abaixo, nem sempre é o caso.
Neste caso, então, a estupidez é flagrante, e deve revelar apenas ignorância. Pelo menos espero.
Seria terrível imaginar que a desonestidade subintelequitual, e a má-fé se unissem para tentar aproximar Hitler do liberalismo econômico. Que tal um Hitler neoliberal avant la lettre?
Seria perfeito para a campanha dos companheiros totalitários contra os neoliberais tucanos não e mesmo?
Um leitor me manda uma prova da CespeUnB para um concurso recente, organizado pela Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação do Governo do Distrito Federal. O aluno deve marcar C (certo) ou E (errado). Na questão 23, temos:
Adolf Hitler presidiu a Alemanha entre 1933 e 1945, tendo
implantado nesse tempo o Nacional Socialismo, também
conhecido como nazismo, movimento político e ideológico
baseado no nacionalismo, no racismo, no totalitarismo, no
anti-comunismo e no liberalismo econômico e político.
E eis o gabarito: C. Isso mesmo: certo! Hitler, líder do Nacional Socialismo, organizou um movimento nacionalista (ok), racista (ok), totalitário (ok), anti-comunista (ok, irmãos brigam entre si pelo poder) e LIBERAL!!! Não socialista, mas liberal! Pode isso, Arnaldo?
Já escrevi alguns textos mostrando como o nazismo era semelhante ao socialismo em inúmeros aspectos. Os 25 itens elaborados pelo Partido dos Trabalhadores Nacional-Socialista seriam endossados por diversos membros da esquerda, jamais por liberais. Eram coletivistas, repudiavam o capitalismo liberal (tanto que usavam os judeus, ícones deste capitalismo, como bodes expiatórios para todos os males do país), e depositavam no estado a solução para tudo. Liberal? Vejam alguns exemplos:
7. Nós exigimos que o Estado especialmente se encarregará de garantir que todos os cidadãos tenham a possibilidade de viver decentemente e recebam um sustento.
10. O primeiro dever de todo cidadão deve ser trabalhar mental ou fisicamente. Nenhum indivíduo fará qualquer trabalho que atente contra o interesse da comunidade para o benefício de todos.
11. Que toda renda não merecida, e toda renda que não venha de trabalho, seja abolida.
13. Nós exigimos a nacionalização de todos os grupos investidores.
14. Nós exigimos participação dos lucros em grandes indústrias.
15. Nós exigimos um aumento generoso em pensões para idade avançada.
16. Nós exigimos a criação e manutenção de uma classe média sadia, a imediata socialização de grandes depósitos que serão vendidos a baixo custo para pequenos varejistas, e a consideração mais forte deve ser dada para assegurar que pequenos vendedores entreguem os suprimentos necessários aos Estaso, às províncias e municipalidades.
17. Nós exigimos uma reforma agrária de acordo com nossas necessidades nacionais, e a oficialização de uma lei para expropriar os proprietários sem compensação de quaisquer terras necessárias para propósito comum. A abolição de arrendamentos de terra, e a proibição de toda especulação na terra.
25. A fim de executar este programa, nós exigimos: a criação de uma autoridade central forte no Estado, a autoridade incondicional pelo parlamento político central de todo o Estado e todas as suas organizações.
Parecem bandeiras liberais? Ou socialistas? Segue um desses meus textos antigos. É realmente vergonhoso e revoltante que uma prova de um concurso público afirme que Hitler era representante do liberalismo econômico e político. Um ultraje! Um acinte! Mas sabemos como essa turma joga baixo e apela para a doutrinação ideológica. Não é de hoje. Só que agora há resistência mais atenta e organizada. Não passarão!
Socialismo e nazismo
“Que significa ainda a propriedade e que significam as rendas? Para que precisamos nós socializar os bancos e as fábricas? Nós socializamos os homens.” (Adolf Hitler, citado por Hermann Rauschning, Hitler m´a dit, Coopération, Paris 1939, pg 218-219)
Ensinada desde os tempos de Lênin, muitos socialistas usam a tática de acusar os opositores daquilo que eles mesmos são ou fazem. Tudo que for contrário ao socialismo, vira assim “nazismo”, ainda que o nacional-socialismo tenha inúmeras semelhanças com o próprio socialismo.
Tanto o nazismo como o marxismo compartilharam o desejo de remodelar a humanidade. Marx defendia a “alteração dos homens em grande escala” como necessária. Hitler pregou “a vontade de recriar a humanidade”. Qualquer pesquisa séria irá concluir que nazistas e socialistas não eram, na prática e no ideal coletivista, tão diferentes assim.
Não obstante, para os socialistas, aquele que não for socialista é automaticamente um “nazista”, como se ambos fossem grandes opostos. Assim, os liberais, que sempre condenaram tanto uma forma de coletivismo como a outra, e foram alvos de perseguição dos dois regimes, acabam sendo rotulados de “nazistas” pelos socialistas, incapazes de argumentar além dos tolos rótulos de “extrema-esquerda” e “extrema-direita”.
Tal postura insensata coloca, na cabeça dos socialistas, uma “direitista” como Margaret Thatcher mais próxima ideologicamente de um Hitler que este de Stalin, ainda que Thatcher tenha lutado para defender as liberdades individuais e reduzir o poder do Estado, enquanto Hitler e Stalin foram na linha oposta.
O fim da propriedade privada de facto foi um objetivo perseguido tanto pelo nazismo como pelo socialismo, que depositaram no Estado o poder total. O Liberalismo, em sua defesa pela liberdade individual cujo pilar básico é o direito de propriedade privada, é radicalmente oposto tanto ao nazismo como ao socialismo, que em muitos aspectos parecem irmãos de sangue.
A conexão ideológica entre socialismo marxista e nacional-socialismo não é fruto de fantasia, e Hitler mesmo leu Marx atentamente quando vivia em Munique, tendo enaltecido depois sua influência no nazismo. Para os nazistas, os grupos eram as raças; para os marxistas, eram as classes. Para os nazistas, o conflito era o darwinismo social; para os marxistas, a luta de classes. Para os nazistas, os vitoriosos predestinados eram os arianos; para os marxistas, o proletariado.
Além da justificativa direta para o conflito, a ideologia de luta entre grupos desencadeia uma tendência perversa a dividir as pessoas em parte do grupo e excluídos, tratando estes como menos que humanos. O extermínio dessa “escória” passa a ser desejável seja para o paraíso dos proletários ou da “raça” superior. Os individualistas, entrave para ambas ideologias coletivistas, acabam num campo de concentração de Auchwitz ou num Gulag da Sibéria, fazendo pouca diferença na prática.
A acusação de que a Alemanha nazista era uma forma de capitalismo não se sustenta com um mínimo de reflexão. O “argumento” usado para tal acusação é de que os meios de produção estavam em mãos privadas na Alemanha. Mas como Mises demonstrou, isso era verdade somente nas aparências. A propriedade era privada de jure, mas era totalmente estatal de facto, da mesma forma que na União Soviética. O governo não só nomeava dirigentes de empresas como decidia o que seria produzido, em qual quantidade, por qual método, e para quem seria vendido, assim como os preços exercidos.
Para quem tem um mínimo de conhecimento sobre os pilares de uma sociedade capitalista liberal, não é difícil entender que o nazismo é o oposto deste modelo. Para os nazistas, assim como para os socialistas, é o “bem comum” que importa, transformando indivíduos de carne e osso em simples meios sacrificáveis para tal objetivo.
Existem, na verdade, vários outros pontos que podemos listar para mostrar que o nazismo e o socialismo são muito parecidos, e não opostos como tantos acreditam. O fato de comunistas terem entrado em guerra com nazistas nada diz que invalide tal tese, posto que comunistas brigaram sempre entre si também, e irmãos brigam uns com outros, ainda mais por poder.
Apesar do Liberalismo se opor com veemência a ambos os regimes, os socialistas adoram repetir, como autômatos, que liberais são parecidos com nazistas, apenas porque associam erradamente nazismo a capitalismo. Se ao menos soubessem como é o próprio socialismo que tanto se assemelha ao nazismo!
Rodrigo Constantino
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