O caso Hobsbawm: a favor, atirando no mensageiro
Diplomacia e Relações Internacionais

O caso Hobsbawm: a favor, atirando no mensageiro


Logo em seguida à morte do historiador Eric Hobsbwam, dezenas de obituários e de artigos elogiosos foram publicados na imprensa britânica e internacional. Ele possuía, obviamente, uma legião de admiradores, tanto mais fervorosos quanto sua identificação com as teses que ele defendia era, ou é, completa.
Eu mesmo escrevi o que penso a respeito dele, neste post: 

SEGUNDA-FEIRA, 8 DE OUTUBRO DE 2012

Eric Hobsbawm: uma palavra (ou duas) sobre ele... - Paulo Roberto de Almeida


Depois, coloquei mais um artigo crítico, neste post: 

QUARTA-FEIRA, 10 DE OUTUBRO DE 2012

Eric Hobsbawm, again - but not in praise of...


Já tinha lido o que escreveu o jornalista Eurípedes Alcântara a respeito dele, na Veja, condenando seu comunismo renitente, mas não sabia que esse artigo mereceria uma desaprovação em regra, mais exatamente uma condenação por completo por toda uma Associação de Historiadores, que na verdade deveria manter-se neutra nessas matérias de opinião. A Anpuh, aparentemente defende absolutamente um historiador como Hobsbawm e por aí se supõe que condenaria outros como Paul Johnson. Ou seja, ela não é uma associação neutra, e defende posições políticas bem identificadas. Creio que neste caso, em lugar de desmentir os argumentos do jornalista, a Anpuh me parece praticar a velha arte de atirar contra o mensageiro.
Limito-me a transcrever aqui a nota raivosa da Anpuh e, mais abaixo, uma nota ainda mais raivosa de um autor desconhecido.


RESPOSTA [da Anpuh] À REVISTA VEJA

09/10/2012
Eric Hobsbawm: um dos maiores intelectuais do século XX
Na última segunda-feira, dia 1 de outubro, faleceu o historiador inglês Eric Hobsbawm. Intelectual marxista, foi responsável por vasta obra a respeito da formação do capitalismo, do nascimento da classe operária, das culturas do mundo contemporâneo, bem como das perspectivas para o pensamento de esquerda no século XXI. Hobsbawm, com uma obra dotada de rigor, criatividade e profundo conhecimento empírico dos temas que tratava, formou gerações de intelectuais. Ao lado de E. P. Thompson e Christopher Hill liderou a geração de historiadores marxistas ingleses que superaram o doutrinarismo e a ortodoxia dominantes quando do apogeu do stalinismo. Deu voz aos homens e mulheres que sequer sabiam escrever. Que sequer imaginavam que, em suas greves, motins ou mesmo festas que organizavam, estavam a fazer História. Entendeu assim, o cotidiano e as estratégias de vida daqueles milhares que viveram as agruras do desenvolvimento capitalista. Mas Hobsbawm não foi apenas um "acadêmico", no sentido de reduzir sua ação aos limites da sala de aula ou da pesquisa documental. Fiel à tradição do "intelectual" como divulgador de opiniões, desde Émile Zola, Hobsbawm defendeu teses, assinou manifestos e escolheu um lado. Empenhou-se desta forma por um mundo que considerava mais justo, mais democrático e mais humano. Claro está que, autor de obra tão diversa, nem sempre se concordará com suas afirmações, suas teses ou perspectivas de futuro. Esse é o desiderato de todo homem formulador de ideias. Como disse Hegel, a importância de um homem deve ser medida pela importância por ele adquirida no tempo em que viveu. E não há duvidas que, eivado de contradições, Hobsbawm é um dos homens mais importantes do século XX.
Eis que, no entanto, a Revista Veja reduz o historiador à condição de "idiota moral" (cf. o texto "A imperdoável cegueira ideológica da Hobsbawm", publicado em www.veja.abril.com.br). Trata-se de um julgamento barato e despropositado a respeito de um dos maiores intelectuais do século XX. Vejadesconsidera a contradição que é inerente aos homens. E se esquece do compromisso de Hobsbawm com a democracia, inclusive quando da queda dos regimes soviéticos, de sua preocupação com a paz e com o pluralismo. A Associação Nacional de História (ANPUH-Brasil) repudia veementemente o tratamento desrespeitoso, irresponsável e, sim, ideológico, deste cada vez mais desacreditado veículo de informação. O tratamento desrespeitoso é dado logo no início do texto "historiador esquerdista", dito de forma pejorativa e completamente destituído de conteúdo. E é assim em toda a "análise" acerca do falecido historiador. Nós, historiadores, sabemos que os homens são lembrados com suas contradições, seus erros e seus acertos. Seguramente Hobsbawm será, inclusive, criticado por muitos de nós. E defendido por outros tantos. E ainda existirão aqueles que o verão como exemplo de um tempo dotado de ambiguidades, de certezas e dúvidas que se entrelaçam. Como historiador e como cidadão do mundo. Talvez Veja, tão empobrecida em sua análise, imagine o mundo separado em coerências absolutas: o bem e o mal. E se assim for, poderá ser ela, Veja, lembrada como de fato é: medíocre, pequena e mal intencionada.
São Paulo, 05 de outubro de 2012
Diretoria da Associação Nacional de História
ANPUH-Brasil
Gestão 2011-2013
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Agora um artigo pavoroso colocado na Wikipedia: 
Eurípedes Alcântara é um jornalista brasileiro. Conhecido por ser o diretor editorial da Veja, revista semanal de maior cirulação no país onde trabalha desde [[1981]. Quando da morte do maior historiador do século XX, Eric Hobsbawm, escreveu o que podemos considerar como seu retorno mais escancarado ao protofascismo, presente na sua formação intelectual desde os tempos em que escamoteava as atrocidades da ditadura, durante a década de 1980 e 1990. Lamentavelmente, nesse artigo, faz uma análise superficial e apaixonada contra o historiador inglês e a favor da perspectiva histórica determinista e elitista daqueles que ele considera como historiadores de ponta, considerados assim apenas por aqueles que não compreendem as mudanças na produção histórica ocorrida no século XX, sob importante influência de duas escolas: a marxista e a Escola dos Annales]



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