A greve das universidades federais, que paralisa as atividades de graduação e pós-graduação de 55 das 59 instituições de ensino superior da União, completa o primeiro mês com um impasse e um incidente.
O impasse foi causado pelo fracasso da última reunião entre representantes do Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior (Andes) e da Secretaria de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, realizada em Brasília. Depois de mais de três horas de discussões, o governo pediu uma trégua de 20 dias para apresentar um novo projeto de carreira para os professores, mas a proposta foi rejeitada. O governo quer adotar um plano de cargos e salários semelhante ao dos servidores da área de ciência e tecnologia e tem pressa em chegar a um acordo. O Palácio do Planalto teme que a greve se espalhe para outros setores do funcionalismo público, justamente num ano eleitoral. Os grevistas, contudo, acusam os Ministérios do Planejamento e da Educação (MEC) de insistir em diretrizes que já foram recusadas pelo Andes há pelo menos um ano e meio.
Já o incidente ocorreu no câmpus de Guarulhos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Protestando contra a superlotação das salas de aula e a falta de um mínimo de infraestrutura, os estudantes invadiram as dependências da diretoria acadêmica e 26 foram presos, depois de um confronto com a Polícia Militar (PM). Eles foram levados à sede da Polícia Federal e indiciados pelos crimes de dano ao patrimônio e constrangimento ilegal.
Os líderes estudantis acusam os dirigentes da Unifesp de terem chamado a tropa de choque. Mas, vinculados ao PT e não querendo criar problemas políticos para o ex-ministro Fernando Haddad, candidato do partido à Prefeitura de São Paulo, os dirigentes alegaram que a PM teria ido ao câmpus de Guarulhos por "conta própria". A informação foi desmentida pela PM. Segundo o alto comando, foi o setor de segurança da Unifesp que pediu providências para preservar o patrimônio da instituição. Uma semana antes, os dirigentes da Unifesp haviam pedido à Justiça que convocasse a PM para promover a reintegração de posse, autorizada pela Justiça, das dependências da diretoria acadêmica em Guarulhos.
Os professores das universidades federais têm duas reivindicações. A primeira é a exigência de um novo plano de carreira docente. A segunda reivindicação está diretamente atrelada aos seis anos em que Haddad esteve à frente do MEC. Durante sua gestão, foram criadas 14 novas universidades e autorizada a ampliação de muitos campi já existentes. A expansão da rede federal de ensino superior foi uma das bandeiras da campanha eleitoral de Lula e de sua candidata, Dilma Rousseff, no pleito de 2010.
O problema é que quase todas as universidades inauguradas com muita pompa e comício, por Haddad e Lula, estão ocas até hoje. "As condições de trabalho não acompanharam a expansão. Faltam bibliotecas, prédios, professores em número adequado. O ambiente de aprendizado está com prometido", afirma Marina Barbosa, presidente do Andes - entidade que durante anos esteve sob o controle do PT. Esse também é o entendimento dos especialistas em educação. "A política de expansão acelerada não obedeceu a nenhuma avaliação cuidadosa sobre prioridades, abrindo instituições onde não havia demanda, admitindo alunos antes de existirem edifícios e instalações adequadas, forçando as universidades a criar cursos noturnos e contratar mais professores, mesmo quando não havia candidatos qualificados, e sem preparar as universidades para lidar com alunos que chegavam do ensino médio cada vez menos preparados", diz Simon Schwartzman, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade.
A última greve dos professores foi em 2005, ano em que começou a expansão da rede de universidades federais. Sete anos depois, o setor está em crise e não há sinais de que será uma crise de breve duração. Pelo contrário, os docentes acabam de receber o apoio dos técnicos da educação federal - uma categoria que cruzou os braços por mais de cem dias, em 2011.