Denise Chrispim Marin
O desprezo da presidente Dilma Rousseff ao Itamaraty tem sido extravasado em público e a portas fechadas desde seus primeiros dias de governo. No Palácio do Planalto, diplomatas a seu serviço antes chamados pelo nome passaram a ouvir da presidente: “ÔItamaraty!”. No episódio de sua escala em Lisboa e hospedagem no hotel Ritz, quem foi designado por Dilma para dar explicações à imprensa não foi a secretária de Comunicação Social, ministra Helena Chagas. A missão de dar a cara a tapa recaiu ao chanceler Luiz Alberto Figueiredo.
Os gastos com a hospedagem de todos os membros da comitiva em Lisboa, como sempre ocorre nas viagens presidenciais, caiu nas contas do Itamaraty. Inclusive os R$ 26 mil da diária da suíte presidencial do Ritz. Figueiredo, com o cuidado de omitir esse fato, explicou que o gasto seria inevitável porque uma parada seria requerida no trajeto da presidente de Davos a Havana. Aluguéis de prédios onde funcionam postos do Brasil mundo afora, enquanto isso, são pagos com atraso, assim como parte dos benefícios para os diplomatas em serviço no exterior.
Esse foi apenas um episódio recente e, talvez, o menor de todos. Outros, mais graves, foram registrados ao longo dos últimos três anos. Em junho de 2012, o então chanceler Antônio Patriota foi retirado por Dilma da reunião na qual acabou decidida a suspensão do Paraguai do Mercosul e o ingresso da Venezuela como membro pleno do bloco. Patriota, ciente do fato de a Venezuela estar distante do cumprimento da agenda de adesão, opunha-se a seu ingresso atropelado. Ao humilhá-lo, Dilma humilhou o Itamaraty. O mesmo fez todas as vezes em que pediu a retirada do então chanceler do avião presidencial para acomodar, em seu lugar, um político e nas tantas vezes em que ignorou o embaixador brasileiro no país por ela visitado.
Com esses gestos, a presidente desprezou um ministério onde engenheiros – os profissionais de sua preferência – são naturalmente raros. Não se trata de uma formação comum aos diplomatas de nenhum país. Mas Dilma Rousseff parece não saber disso. A presidente – sempre se soube – não dá atenção à política externa e a seus executores. Se ao menos delegasse a formulação e a execução dessa política ao Itamaraty, como muitos de seus antecessores, certamente o Brasil estaria mais bem inserido nos foros internacionais e com uma teia de acordos substanciosos, inclusive para a melhoria da competitividade dos setores produtivos nacionais. Decisões dessa área, como acordos internacionais, dormem em sua centralizadora gaveta.