Existem roubos e roubos: atualizando o Padre Antonio Vieira - Paulo Roberto de Almeida
Diplomacia e Relações Internacionais

Existem roubos e roubos: atualizando o Padre Antonio Vieira - Paulo Roberto de Almeida


Existem roubos e roubos: atualizando o Padre Antonio Vieira

Paulo Roberto de Almeida

Um frequentador do Facebook, numa dessas correntes que por sorte ocorrem virtualmente em épocas eleitorais, do contrário o tempo poderia esquentar, pergunta, meio ingenuamente quais seriam as diferenças entre roubos de políticos tucanos e de companheiros, pois ele parecia não ver nenhuma. Como eu não sou especialista em assuntos criminais, mas como qualquer cidadão bem informado sigo o noticiário, decidi explicar a ele quais eram essas diferenças, para mim evidentes, com base num histórico conhecimento de quem são, como trabalham e como se comportam os companheiros, e também com alguma experiência sobre os meios políticos nessa nossa terra tão parecida com aquela de que falava o Padre Antonio Vieira, ainda nos tempos coloniais.
Eis aqui o que eu expliquei ao acadêmico levemente companheiro, ou pelo menos muito parecido com outros gramscianos da academia. Vejam se concordam com a minha teoria do “roubo artesanal”, ou com o “modo de produção industrial dos roubos companheiros”. Acho que minha teoria vai ser confirmada por um bocado de estudos de caso, alguns dos quais eu menciono abaixo. Vocês podem completar por outros casos exemplares.

Eu explico as diferenças entre roubos "tucanos" e "companheiros", se você ainda não teve discernimento, ou informações suficientes para perceber as diferenças; eu explico.
O Brasil tem uma classe política drogada na malversação de verbas públicas, concorda? Na maior parte do tempo, o que você tem é uma corrupção fragmentária, aleatória, oportunista, ocasional, embora constante, regular e sempre presente. Chamemos a essa corrupção “normal” do sistema político de “artesanal”, ou seja, feita individualmente, em pequena escala, pelos políticos, via emendas ao orçamento, superfaturamento em obras públicas nos mesmos projetos apoiados por eles, criação de ONGS familiares e todos esses meios que existem para desviar dinheiro público.
 Suponho que você concorde comigo e esteja me seguindo até aqui.
Agora passemos ao PT e porque a diferença é de grau, de escala, de qualidade, o que justifica os montantes, o número, a disseminação gigantesca da corrupção sob os regimes companheiros. Trata-se de um partido neobolchevique; acho que se pode admitir essa hipótese, pelas características especiais, digamos assim, do partido companheiro, até com algumas peculiaridades fascistas, como a existência de um líder inconteste, que decide sobre tudo, e os companheiros não têm sequer a oportunidade de escolherem os seus candidatos locais, pois o grande chefe já escolheu os seus postes, entendeu? Espero que você esteja me seguindo até aqui, mas se tiver algum desentendimento pode me dizer, OK?
Pois bem, chegamos agora na diferença estrutural, sistêmica, funcional, de grau e de natureza, como diria Engels (você conhece o livro do qual estou falando, não é mesmo?).
Os companheiros, agrupados em partido, atuam como uma associação para finalidades muito precisas, para conquistar e obter o poder, até aqui como qualquer partido, mas com tantas peculiaridades internas, inclusive leninistas e estalinistas pré-revolução russa (quando o nosso personagem assaltava bancos, acho que você deve saber disso, não é?), que eles se parecem com aquelas associações muito comuns no sul da Itália e na Sicília (acho que você sabe do que estou falando, não é mesmo?).
Pois é com essa organização maravilhosa, com essa fidelidade ao partido, com toda essa omertà, que o partido pode roubar em outra escala, compreende? Primeiro, começaram por essas coisas triviais, como arrecadação do lixo em prefeituras do interior, compra de merenda escolar, depois transportes públicos em prefeituras de maior parte, e assim por diante (tudo isso são casos registrados pela imprensa, eu não estou inventando nada).
Bem, aí chega o dia glorioso de assumir o poder; enfim, antes disso teve aquele assassinado muito chato, lá em Santo André, que parece que estava ligado justamente a um caso escabroso desses: extração de dinheiro pela corrupção, apropriação indébita por um meliante que não era exatamente companheiro, chantagem, eliminação do coitado do primeiro conselheiro do Lula, acho que você deve estar lembrado, não é?
O que acontece com os companheiros no poder? Um pouco como Ali Babá ao chegar na caverna dos 40 ladrões, entendeu? Eles ficam extasiados com tanta riqueza, um Estado cheio de oportunidades para fazer uma poupança, e teria bem mais se esses tucanos desgraçados não tivessem privatizado tantas estatais, que pena...
Mas, ainda tem o Banco do Brasil, as elétricas, e sobretudo a joia da coroa, aquela vaca petrolífera, regurgitando de bilhões, que se chama Petrobras... O resto é história. Percebeu agora porque é diferente? Os companheiros deixaram para trás o modo de produção artesanal do roubo institucionalizado, e passaram a uma escala superior, até além do modo de produção manufatureiro, chegaram à era da grande indústria do roubo, inclusive transnacional.
Entendeu direitinho? Entendeu porque Pasadena não foi um erro de gestão, e sim uma operação feliz, totalmente bem sucedida, exitosa a mais não poder? E porque Abreu e Lima é essa outra vaca inesgotável com milhões para todos e cada um?
Acho que você está começando a entender como os companheiros são mestres na arte de roubar, e porque eles deixam tucanos e todos os demais no chinelo.
Que pena que todas essas oportunidades estejam chegando ao fim, não é mesmo? Mas enfim, eles já devem ter várias arcas do tesouro enterradas em ilhas do Caribe: eles são os próprios piratas do Caribe.
De vez em quando acontece uma surpresa: os companheiros piratas se relacionam com quaisquer bandidos, e de vez em quando vem algum trapalhão que põe tudo a perder, não é uma pena? Aconteceu assim no caso do Mensalão, quando foram traídos por um político miserável, por uma mera questão de merreca no Correio. Agora é esse bandido da Petrobras, que nem era do partido, mas que também colaborava com o partido. Gente assim não costuma ser profissional como os companheiros. Sobretudo não têm a fidelidade, a omertà que tem os companheiros do partido: esses não revelariam nada, mesmo sob tortura, se ela por acaso ainda existisse, compreende? Esses caras são os novos heróis do povo brasileiro: eles se mantêm fieis até o fim...
Acho que você já percebeu as diferenças agora, estou certo. Entendido, ou preciso explicar mais um pouco, entrar em detalhes? Acho que não. Estou certo que você nunca mais vai misturar tucanos com companheiros em matérias de tão alto coturno quanto estas, não é mesmo?

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 13 de outubro de 2014 



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