Eu explico, tu explicas, ele explica: sera que vamos entender?
Diplomacia e Relações Internacionais

Eu explico, tu explicas, ele explica: sera que vamos entender?


Bem, não sei agora qual a categoria do verbo explicar na nova gramática política do MEC: transitivo direto, intransivo, de flexão variável?
Tudo é possível, até sermos acusados de "preconceito linguístico" depois das "explicações" do (futuro ex?) ministro Palocci no Jornal nacional desta noite.
Alguém aí acredita que teremos, de fato, explicações cabais, cabíveis, capazes de dirimir todas as nossas dúvidas sobre a curiosa matemática política do novo gênio das finanças contemporâneas?
Alguém aí acredita que os jornalistas da Globo vão colocar o dito cujo contra a parede perguntando, por exemplo, mas que raios de consultoria é essa que consegue essa fabulosa taxa de sucesso sem que ninguém antes tivesse ouvido sequer falar que ela existia ou que prestasse "ajuda" para grandes empresas necessitando urgentemente um gênio das finanças como ele?
Alguém aí acredita que mera consultoria sobre "fusão de empresas" -- quais? --, sobre política cambial -- quem aí achava que haveria uma megadesvalorização? --, alguém é realmente ingênuo de acreditar que meras consultorias de mercado -- dessas que grandes consultorias de mercados, verdadeiras quero dizer, demoram semanas para fazer, envolvendo diversos economistas e ingentes pesquisas complexas -- mereçam pagamentos fabulosos que superam 12 milhões de dólares (é o caso de se perguntar se não foram para algum paraíso fiscal), que premiem justamente um homem super-ocupado com campanha eleitoral presidencial, montagem do novo ministério, equilíbrio político na selva que é o governo brasileiro, contenção das feras do seu próprio partido, enfim, alguém acredita que tudo isso é humanamente capaz de ser feito, dentro das regas normais dos negócios?
Algué aí é idiota a este ponto?
Bem, deixo vocês com o noticiário...
Paulo Roberto de Almeida

Palocci irá ao Jornal Nacional explicar aumento do patrimônio
(OESP online, 3/06/2011, 13:30hs)

Ministro atende a pedido da presidente Dilma; até o momento, decisão do parlamentar é falar só para a TV
Rifado pelo PT, última cartada é explicação pública
Simon compara caso Palocci ao mensalão de Lula
DORA KRAMER: Origens da crise

PS: Como o ministro extraordinário para assuntos extraordinário deve estar sem tempo agora para fazer consulorias extraordinárias, seria o caso dele redistribuir para os comuns dos mortais, que somos nós, algumas dessas tarefas de consultoria que ele tinha antes de se descobrir essa verdadeira mina de negócios que era sua empresa. Claro, pode ocorrer de não estarmos à altura desse gênio das finanças...

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Situação-limite
Editorial - O Estado de S.Paulo
03 de junho de 2011

As virtudes da contenção verbal no comportamento humano são louvadas nas mais diferentes culturas. Exemplo disso é o ditado "o silêncio é de ouro", que os brasileiros compartilham com muitos outros povos. Mas, em relação ao silêncio de que se fala sem parar no País de duas semanas para cá, a evocação do nobre metal é despropositada. Se é para associar ao reino mineral a mudez do ministro Antonio Palocci sobre o seu estupendo enriquecimento entre a sua saída do Ministério da Fazenda, no governo Lula, em 2006, e até pouco antes de assumir a chefia da Casa Civil da sucessora, Dilma Rousseff, em janeiro último, a comparação certa é com a pirita, o ouro dos tolos, por sua enganadora cintilação.

De tolo, o ministro não tem nada. Por isso mesmo, a sua recusa a explicar ao País, convincentemente, como fez fortuna de forma limpa e ética levou a uma situação-limite as suas condições de continuar no Planalto. Tanto por desfigurar a positiva imagem pública que a sua chefe vinha construindo nos meses que antecederam a crise quanto por expô-la ao desmedido apetite da alcateia com que tem de se haver no Congresso. Além disso, cada vez mais inquieto com a perspectiva de novos danos ao governo, o partido já não se limita a manter profilática distância do escândalo - como, aliás, fez a presidente Dilma logo na sua irrupção.

Nos bastidores, parcela talvez substancial dos companheiros tampouco fica apenas no chamamento do ministro às falas. A demanda tem sido a sua substituição - e nomes já correm para o seu cargo. A manifestação mais comentada foi a da senadora Gleisi Hoffmann. No almoço da bancada com o ex-presidente Lula, semana passada, quando ele se abalou a Brasília para aplacar os atritos entre Dilma e a caciquia do PMDB, ela teria pedido a cabeça do ministro. Esposa do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, que está na lista dos eventuais sucessores de Palocci, teria argumentado que uma coisa era amparar os petistas envolvidos com o mensalão - que, afinal, operavam em benefício do partido -, outra é defender quem se dedicou a engordar o próprio patrimônio. Gleisi desmente.

Quando também se reuniu com os companheiros senadores, Palocci disse que os seus serviços de consultoria consistiam em palestras, análises de alternativas de investimentos financeiros e assessoria para empresas interessadas em fusões. Decerto não esperava que um de seus ouvintes, Eduardo Suplicy, viesse a revelar candidamente que o ministro contara ter recebido R$ 1 milhão por seus conselhos a uma empresa em processo de fusão. O ministro, de todo modo, insistiu em que não praticou nenhuma ilegalidade - e acusou a oposição de fabricar pretextos para desestabilizar o governo Dilma. Para não se prestar a esse jogo, a base aliada faz bem em impedir as tentativas de convocá-lo a depor no Congresso.

Mas, anteontem, prova da desarticulação política da coalizão dilmista, a base "engoliu vergonhoso frango" - para usar a retórica de Lula - ao deixar passar uma daquelas iniciativas na Comissão de Agricultura da Câmara. Alheio à agenda de sessões na Casa e esquecido de que a oposição não desistira de aproveitar todas as brechas disponíveis para requerer a oitiva de Palocci, o Planalto marcou um encontro do Conselho Político com a presidente na mesma quarta-feira em que as comissões dos deputados se reúnem rotineiramente. Na de Agricultura, a convocação de Palocci foi aprovada a toque de caixa, em circunstâncias controversas. O presidente da Câmara, o petista Marco Maia, sustou a decisão. Não o terá feito por Palocci, mas por dever de ofício - a oposição não pode prevalecer sobre o governo, ponto.

O ministro já tinha feito saber que se pronunciaria assim que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, desse o seu parecer, previsto para ontem, sobre as representações oposicionistas contra ele e as suas réplicas por escrito. A situação se complicou quando o procurador não se contentou com as explicações dadas até agora e pediu ao acusado esclarecimentos adicionais. Mas não é por aí que se decidirá a atual crise. Em todos os lados, as reservas de boa vontade com Palocci parecem esgotadas. Cabe à presidente Dilma lavrar a sentença final.



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