Diplomacia e Relações Internacionais
Eleicoes 2014: mentiras companheiras sobre FMI e desemprego
Parece que é uma obsessão: a candidata oficialista, mais bem oficiosa, continua exibindo seus fabulosos dotes para a mentira e a mistificação, não tanto por iniciativa própria, pois ela pouco entende do que está falando, mas porque segue determinações dos apparatchiks do partido totalitário e pelos marketeiros pagos a peso de ouro.
Ela ainda afirmou, nesta segunda-feira 20, a mesma mentira que vem propagando desde o início da campanha eleitoral, a saber, que o governo FHC "quebrou o Brasil três vezes", e que seus adversários criaram desemprego.
A matéria está aqui:
http://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,em-carreata-no-rio-dilma-afirma-que-tucanos-se-ajoelharam-diante-do-fmi,1579647Já ofereci minha contribuição sobre o tema das relações do Brasil com o FMI, mas me permito acrescentar aqui algumas considerações sobre a questão do desemprego.
Sobre o Brasil e o FMI, recomendo, antes da leitura do material abaixo, visitar estes dois links deste blog:
http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/10/o-brasil-nao-quebrou-tres-vezes-mentira.htmlhttp://diplomatizzando.blogspot.com/2014/10/eleicoes-2014-o-brasil-quebrou-3-vezes.htmlAgrego mais algumas considerações:
A alegação de que o governo do PSDB “quebrou o Brasil três vezes”, e a de que o Brasil “teve de se humilhar frente ao Fundo Monetário Internacional, aceitando imposições na política econômica para receber milhões de empréstimo”, constituem deslavadas mentiras. Diversos economistas respeitáveis já desmantelaram essa mistificação, mas os companheiros e sua candidata continuam a repetir isso, como se uma mentira repetida diversas vezes pudesse virar uma verdade, como dizia Goebbels, o famigerado ministro da propaganda de Hitler. Como os antigos fascistas e nazistas, o PT também parece gostar desse tipo de propaganda mentirosa.
A verdade é a seguinte. Os anos 90 foram muito conturbados no plano financeiro. O Brasil estava recém saindo de uma inflação de 900% ao ano, tentando consolidar o Plano Real, quando o México, em dezembro de 1994, enfrentou graves problemas cambiais, que também afetaram o Brasil. Três anos depois, em 1997, foi a vez dos países asiáticos entrarem em convulsão, inclusive com a queda de vários governos na região. Mas o mais terrível, para o Brasil, foi a moratória russa, em agosto de 1998, dando um calote monumental em vários bancos europeus e num grande fundo americano. Os mercados imediatamente se retraíram, e cessaram todos os tipos de financiamento internacional, até mesmo para operações de comércio exterior. Com essa retração, as reservas do Brasil diminuíram bastante, e embora não houvesse risco imediato, o governo FHC resolveu ampliar essas reservas apelando ao FMI e a diversos países credores.
Seria preciso deixar bem claro que o Brasil NUNCA quebrou, nem uma, nem duas, nem três vezes. Em todas as oportunidades, o Brasil negociou acordos PREVENTIVOS com o FMI, que colocou à disposição do país alguns bilhões de dólares que reforçaram as reservas internacionais. Foram 20 bilhões de dólares da primeira vez, 10 da segunda e 30 bilhões da terceira vez.
Em 2001 a Argentina quebrou espetacularmente e isso afetou o Brasil também, já que muitos investidores externos não fazem muitas distinções entre mercados emergentes. O Brasil fez um novo acordo com o FMI, pois em 2000, passado o perigo da moratória russa, o Armínio Fraga, na época presidente do Banco Central, já tinha pago a maior parte do dinheiro emprestado no final de 1998.
Finalmente, em 2002, novas turbulências surgiram, mas em escala muito mais vasta, e por uma razão muito simples: todo mundo temia o que pudesse acontecer no Brasil, depois de anos e anos que os "economistas" do PT pregavam ruptura dos contratos e calotes na dívida externa e até na dívida interna. Esta foi a razão de porque o Brasil teve de ir mais uma vez ao FMI, em 2002, diga-se de passagem, para negociar um acordo que foi feito para beneficiar o governo Lula. Este ficou tão agradecido que até falou em convidar o Armínio para continuar colaborando com o seu governo. Isso está documentado, no próprio livro que o ministro Palocci publicou sobre o seus anos como ministro.
O Brasil quebrou, sim, uma vez mas foi em 1987, na moratória do Sarney, hoje aliado dos companheiros, uma decisão irrefletida, tomada por influência de muitos economistas que ainda hoje apoiam o governo companheior. Esse gesto deixou o Brasil isolado dos mercados internacionais de capitais durante vários anos. Nenhum país normal pode achar bom ficar sem a possibilidade de recorrer a mercados externos de capitais, e o governo companheiro faz isso, de forma contínua e normal, recorrendo aos mercados internacionais sempre quando necessário.
Por fim, o empréstimo negociado em 2002 para ajudar o governo Lula, foi estendido duas outras vezes pelo ministro Palocci, que, aliás, sabiamente, ainda aumentou o superávit primário que tínhamos negociado com o FMI em mais meio ponto do PIB. O presidente Lula, num gesto bem mais demagógico do que de sapiência econômica, resolveu terminar esse acordo com o FMI em 2005, mais por razões eleitorais do que outra coisa: esse empréstimo poderia continuar por dois ou três anos mais, e o Brasil só pagava 4,5% de juros ao ano por ele; sem ele, o Brasil continuou a tomar dinheiro lá fora, mas em bases comerciais, custando o dobro disso. Ou seja, o gesto de Lula custou vários milhões de dólares ao Brasil.
Sobre a Taxa de Desemprego:
A candidata vive dizendo que os governos lulo-petistas criaram milhões de empregos e que nunca antes na história do Brasil a taxa de desemprego foi tão baixa. A realidade não é bem essa, como explico a seguir.
A taxa de desemprego anunciada pelo IBGE não reflete a realidade do mercado de trabalho em nosso país. Ela é calculada unicamente sobre um quinto da população ativa do país, e apenas e tão somente em seis grandes regiões metropolitanas. Em números claros, estamos falando de pouco mais de 20 milhões de pessoas, num total de 113 milhões de brasileiros em condições de trabalhar. Ou seja, muito pouco para medir a taxa de desemprego real.
Os companheiros também se vangloriam de estar assistindo, por meio do Bolsa Família, 13 milhões e meio de famílias, ou seja, quase 55 milhões de pessoas. Não sei se é o caso de exibir orgulho pelo fato de o País ter praticamente um quarto da sua população como dependentes oficiais do Estado. Isso é uma Argentina inteira, com um cartão magnético, o que não tira ninguém da pobreza, apenas subsidia o consumo de pessoas pobres. Não sei tampouco se é normal um país ter um número tão elevado de assistidos, mas isso é uma outra discussão. Vamos à taxa de desemprego.
Pode-se calcular quantos, na população assistida pelo Bolsa Família, poderiam estar na população economicamente ativa, e trabalhando em empregos formais? Calculando por baixo, devem ser pelo menos três milhões de pessoas, que simplesmente estão fora do mercado de trabalho porque de outro modo perderiam o acesso ao esquema oficial de ajuda.
Pois bem, se juntarmos a taxa de desemprego do IBGE, já metodologicamente falha, mas que dá 5,7% da população economicamente ativa, a esse contingente de assistidos, a taxa de desocupação efetiva poderia subir para até 16% do total, ou seja, quase três vezes a taxa oficial. A nossa taxa de atividade atualmente, segundo o IBGE, é de 57% da população em idade de trabalhar, mas ela deveria ser de pelo menos 64%.
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 20/10/2014
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