Reinaldo Azevedo, 03/09/2014
às 15:58Contestar Marina é uma obrigação; recorrer ao preconceito religioso é uma boçalidade
Escrevi ontem neste blog que achava saudável que Dilma Rousseff e Aécio Neves tivessem acordado para a realidade, questionando os postulados e as afirmações da candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, que hoje aparece como favorita nas pesquisas eleitorais. O texto está http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/dilma-e-aecio-fazem-o-certo-e-o-esperado-e-questionam-marina-ou-debate-nao-e-baixaria/. Não mudei de ideia. Continuo a pensar a mesma coisa.
Os seguidores da candidatura de Marina estão chamando de terrorismo a lembrança de que dois presidentes brasileiros, no passado, foram eleitos acima dos partidos políticos: Jânio Quadros e Fernando Collor, ambos com desdobramentos desastrosos. Eu nem poderia ser contra essa lembrança porque fui o primeiro a tratar do assunto. O PT colou um argumento meu. Não ligo. Não se trata de terrorismo, mas de história. E esta precisa ser levada em consideração. Mais ainda: Marina tem de aprender a ser confrontada. Afinal, a vida pública é distinta da militância numa ONG, em que todos partilham do mesmo propósito. É forçoso lidar com o contraditório.
Quando Aécio traz à tona o passado de Marina, intimamente ligado ao petismo, destacando que a agora defensora do tripé macroeconômico votou contra o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal, ele está cumprindo um dever com o seu eleitorado e com os eleitores do Brasil, inclusive os que não votam nele. Afinal, a nossa história é constituída do nosso passado; as promessas dizem respeito ao futuro; não é certo que se realizem.
Assim, que fique claro: Dilma e Aécio têm o dever de confrontar Marina, porque não é menos verdade que Marina os confronta, dizendo por que tem de ser ela, não eles, a assumir a Presidência da República em 2015. Mas vamos com calma aí.
Uma coisa é o debate político, outra, distinta, é a baixaria em que petistas e parte da imprensa engajada no petismo tentam enredar a candidata do PSB. Mais uma vez, tira-se do armário eleitoral a causa gay para colar na candidata a pecha de homofóbica. Isso, com efeito, não é campanha política, mas oportunismo da pior espécie.
O programa de Dilma defende o casamento gay, com essas palavras? O programa de Aécio defende o casamento gay, com essas palavras? Por que tentam fazer com que tal defesa vire uma imposição moral para Marina? Porque ela é cristã? Porque ela é evangélica? Então se cobra dela que vá além dos outros justamente porque se desconfia que tal proposição possa se constituir, para ela, numa cláusula de consciência? Ora, vão plantar batatas!
Mais: tenta-se fazer blague com ela, ridicularizá-la, porque leria a Bíblia antes de tomar decisões. Se ela lesse bula de remédio, seria melhor? E se lesse os Diários de Che Guevara ou alguma obra sobre budismo? Aí poderia ser incensada ou por esquerdistas ou por cultores de orientalismos?
Qual será o paradigma do PT? Combater o suposto preconceito contra gays com o preconceito contra evangélicos? Dilma Rousseff ficou quatro anos no poder. Por que não se empenhou pessoalmente na aprovação do tal PLC 122, a dita lei anti-homofobia?
Já fiz aqui — e farei enquanto julgar pertinente — severas restrições à candidatura de Marina. Há, sim, coisas em seu programa que estão mal explicadas. E campanha eleitoral existe para que essas dúvidas sejam trazidas à luz. Mas alto lá! Tentar discriminá-la porque é cristã e lê a Bíblia, aí não dá. O preconceito religioso é tão odiento como qualquer outro. De resto, é bom que os petistas se lembrem. Segundo o Datafolha apurou em 2013, 85% dos entrevistados disseram que a crença em Deus torna a pessoa melhor. Mais: 97% dizem acreditar.
Quando Dilma e o PT avançam nesse terreno, estão é dando mais um tiro no pé.
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