Diplomacia e Relações Internacionais
Educacao brasileira: nao esta' tao ruim que nao possa piorar mais um pouco...
Já disse várias vezes que sou moderadamente pessimista quanto à marcha da economia brasileira. Acho apenas que estamos num ciclo -- que pode durar muitos anos -- de mediocridade, feito de baixo crescimento, de problemas ocasionais, de tapa-buracos e de expedientes improvisados porque o governo fica tergiversando, em lugar de atacar o principal: a absurda carga de impostos e os gastos governamentais excessivos (que mantêm os juros altos, etc...).Agora, quanto à educação, sou ABSOLUTAMENTE PESSIMISTA. Tudo vai continuar piorando pelo futuro indefinido, sem qualquer chance de melhorar. Não existe NENHUM RISCO de que possa melhorar. Tudo será feito para que piore cada vez mais...Paulo Roberto de Almeida
A revolta dos sociólogos e dos filósofos. Ou: Escola pra quê?
Reinaldo Azevedo,
Ah, como é cheia de indignação a razão dos tolos! Escrevi na terça-feira um texto intitulado O Brasil precisa de menos sociólogos e filósofos e de mais engenheiros que se expressem com clareza, comentando uma proposta estúpida do secretário de educação de São Paulo, Herman Voorwald, que quer reduzir a carga horária de português e matemática do ensino médio público de São Paulo. Em seu lugar, a depender do currículo (haveria três), entrariam aulas de sociologia, filosofia, espanhol, artes e física.
Pra quê!!! Foi um deus-nos-acuda! Alguns, creio, filósofos e sociólogos ficaram indignados, achando que quero banir a sociologia e a filosofia do país. Houve até quem indagasse: “E o que diria seu queridinho FHC?” FHC não é meu “queridinho”. É um ex-presidente da República, o mais importante que o país já teve. Achei que tinha ficado claro que ia lá um tanto de ironia, como em toda generalização. E até citei duas obras de Marx — o dos furúnculos no traseiro (isso, então, gerou alguns comentários engraçados, como se eu tivesse ofendido uma divindade!) — que, com absoluta certeza, boa parte dos cretinos que me atacaram não leu. Se soubessem do que falo, teriam percebido o tal viés irônico. Eu nada tenho a fazer com esse grau de estupidez.
Ainda ontem, no Estadão acho, Voorwald, o insaciável, comentava que, a despeito do número de aulas, que ele certamente considera grande, de português e matemática, os alunos têm um mau desempenho nas provas oficiais. O governador Geraldo Alckmin deveria demiti-lo. Há o risco de este senhor fazer uma grande bobagem na educação paulista porque é incapaz de pensar com lógica e porque parece tendente a transformar inação em categoria de pensamento. Ora, segundo o gigante, se o desempenho dos estudantes é ruim com a carga que temos, então por que não reduzi-la? Não é estupendo? Mais: se há sinais de que essas aulas não estão funcionando, qual é seu dever funcional? Atuar para que funcionem. Ele prefere cortar e ministrar outras disciplinas que também não funcionam… Se as medidas que propõe forem implementadas, haverá certamente uma queda no desempenho dos alunos do estado nas provas oficiais — isso é certo como dois mais dois são quatro; ou eram, antes de ele chegar à Secretaria. Percebo, um tanto estarrecido, que o homem não está sozinho nesse pensamento. Muitos dos que me escreveram acham a mesma coisa: “Já que os resultados são ruins, então que se corte a carga…” Deus do céu!
Nove entre dez pessoas que me atacaram — não publiquei as ofensas; vão ofender a vovozinha! — vêm com aquela conversa horripilante de que sociologia, filosofia e artes ensinam o aluno “a ter espírito crítico”. Infelizmente, chama-se “espírito crítico” o proselitismo ideológico vagabundo, ignorante, pilantra, vigarista, picareta, bucéfalo (acrescentem aí quantos adjetivos desse paradigma quiserem) que hoje grassa nas escolas, inclusive, e muito especialmente, nas particulares, “de elite”. Está cheio de comunista (ainda há isso no Brasil; na China, já acabou!) de meia-tigela que não quer saber de fazer pregação no Capão Redondo, sem ar condicionado. Prefere os Jardins, o Morumbi e o Alto de Pinheiros porque é mais tranqüilo pregar as virtudes do socialismo para os filhos da Dona Zelite. O efeito positivo insuspeitado, nessa camada social ao menos, é que os alunos ficam com o saco cheio de conversa mole. Uma boa forma de combater o comunismo (sim, a escola brasileira é um parque dos dinossauros ideológicos) é deixar que os comunistas falem o que pensam…
Mas é claro que também fazem um mal imenso aos alunos. Tomam o seu tempo. Essa gente tem o topete, a ousadia e o mau-caratismo de querer substituir a família na construção dos valores dos indivíduos. Cumpre, sim, ao corpo docente ser procurador do regimento da instituição a que pertence e das leis do país — estamos, afinal, numa democracia. É pura mistificação esse negócio de que seu papel é “ensinar o aluno a pensar” — como se esse “pensamento” a ser ensinado fosse neutro e não estivesse eivado por valores ideológicos. Seria, sim, de todo desejável que a escola, HOUVESSE TEMPO PARA ISSO, ministrasse um bom curso de história da filosofia e contrastasse o entendimento das várias correntes da sociologia. Mas não é isso o que se vê porque boa parte dos cretinos, repetindo os alemães que o próprio Marx esculhambava em “A Ideologia Alemã”, estão menos ocupados em formar os estudantes do que em transmitir os seus valores.
Há, sim, uma perda enorme de tempo e energia. Querem um exemplo escandaloso? O currículo de geografia é o samba-do-submarxista-ignorante-e-doido. Há nele, e os livros da disciplina o demonstram, um pouco de tudo: sociologia, filosofia, economia, política, ecologia… Há até geografia!!! Aquele professor de antigamente, do qual se faz caricatura, que dava chamada oral para saber se o estudante havia decorado os afluentes da margem direita do Amazonas, era intelectualmente mais honesto. O currículo se perdeu. Tudo é possível! E o mesmo acontece, com raras exceções, nas aulas de filosofia e sociologia.
Sim, eu fiz uma generalização um tanto irônica para chamar a atenção para o gosto que a escola brasileira tem pela conversa mole, pelo discurso, pela retórica vazia, pela saliva. Isso está patente nos livros didáticos. Há autores que analisam a sociedade em Roma Antiga segundo os critérios com que Marx, o furunculoso, analisava o capitalismo inglês do século 19. Eu poderia dizer que o “fazem na maior cara-de-pau”. Mas é coisa pior do que isso: é burrice mesmo, falta de formação, falta de inteligência.
É escandaloso que esse pensamento da escória esquerdista tenha de ser combatido em 2011? É, sim! Isso dá conta do nosso atraso — daqui a pouco vou escrever um texto sobre a Faculdade de Direito da USP, a lendária São Francisco, só para deixar claro que a demagogia e a estupidez atingem o alto escalão do ensino universitário também. Muito se reclama da falta de verba da educação, das condições precárias do ensino, dos baixos salários… Sim, tudo sempre pode ser melhorado. Mas o dinheiro não é tão pouco que justifique tanta ruindade. O que há mesmo é falta de gestão.
Querem mais filosofia, artes e sociologia no ensino médio? Muito bem! Então, primeiro, será preciso aumentar o tempo de permanência do estudante na escola — como fazem, aliás, alguns estabelecimentos privados que ministram essas disciplinas sem prejuízo do português e da matemática, que são, na verdade, duas linguagens, duas ferramentas que organizam as demais áreas do saber. Se, hoje, são ministradas de forma precária, não será reduzindo a carga que se vai chegar a algum lugar. O estado oferece essa alternativa? Ainda que oferecesse, os estudantes — muitos deles trabalhadores — têm como ficar mais tempo na escola?
Não, senhores! Uma coisa não pode ser feita em prejuízo da outra! Mais: é preciso definir o repertório dessas aulas de filosofia e sociologia. O que vai ser ensinado? Quais são os textos de referência? A cascata de que “o aluno precisa aprender a pensar” é só um misto de arrogância com vigarice ideológica — no geral, dá-se de barato que o sujeito só pensa quando comunga de valores da esquerda. Vai ver é por isso que só existe socialismo propriamente dito em Cuba (já é possível vender carro velho por lá…), no Laos e na Coréia do Norte. A China e o Vietnã já redescobriram a economia de mercado.
Quando afirmei que precisamos de menos sociólogos e filósofos e de mais engenheiros, alertava para a necessidade de a escola ser mais objetiva, mais técnica e menos retórica. Era, assim, uma espécie de metonímia. Mas poderia ser linguagem puramente referencial. Com a economia crescendo a 4%, 5% ao ano, faltam mesmo engenheiros no mercado. Filósofos e sociólogos do tipo que temos produzido são bons para depressão econômica. Em tese, fica mais fácil vender o peixe do socialismo — um peixe do século 19.
*
E um PS para o professor Herman Voorwald: as escolas particulares de elite — já existe esse serviço também para os pobres — certamente não acatariam a sua sugestão cretina. Isso só serviria para aumentar o fosso, que já é gigantesco, entre o ensino público e o privado.
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