A economia brasileira saiu do fundo do poço e está de novo em crescimento, segundo vários indicadores importantes, mas falta saber se a indústria terá fôlego para sustentar, a médio prazo, um dinamismo bem maior que o dos últimos dois ou três anos. De junho para julho a atividade econômica aumentou 0,42%, em termos reais, segundo o indicador estimado mensalmente pelo Banco Central (BC) e considerado pelos especialistas uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB) calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A recuperação ocorre depois de um primeiro semestre muito ruim. Por isso o Ministério da Fazenda deve baixar de 3% para cerca de 2% sua previsão de crescimento para este ano. Para o próximo, no entanto, a economia crescerá provavelmente mais que 4%, segundo o ministro Guido Mantega.
Essa previsão parece razoável, depois de dois anos em marcha muito lenta, com expansão de apenas 2,7% em 2011 e bem menos que isso em 2012. Economistas do mercado financeiro e de consultorias já baixaram suas projeções para algo em torno de 1,6%. O resultado efetivo poderá ser pouco melhor que isso, mas, nesta altura, nem o governo se mostra muito mais otimista quanto ao número final do ano. É outra, no entanto, a questão mais importante.
Trata-se de saber quanto a economia brasileira poderá crescer nos próximos anos sem fortes pressões inflacionárias ou sem graves problemas nas contas externas. A dúvida mais importante, agora, é quanto ao potencial de crescimento do País.
Estimativas têm apontado um potencial em torno de 4% ao ano. Há sempre uma ampla margem de incerteza em cálculos desse tipo, mas a experiência dos últimos dez anos parece confirmar aquela avaliação. A capacidade de crescimento acumulada nas duas décadas anteriores - especialmente a partir da estabilização e das reformas dos anos 90 - parece ter sido plenamente explorada. Os surtos de inflação depois das últimas fases de rápido crescimento e a tendência à erosão do saldo comercial fortalecem esse ponto de vista.
O esgotamento daquele potencial tem sido visível principalmente no fraco desempenho da indústria de transformação, durante décadas o principal motor do sistema econômico brasileiro. O agronegócio preservou a capacidade de crescer e tem sido por alguns anos o setor mais competitivo da economia nacional. Só um excedente de produtividade parece explicar esse desempenho. Afinal, vários obstáculos enfrentados pela indústria prejudicam também a agropecuária - entraves como as deficiências da infraestrutura, a tributação irracional, a baixa qualidade da administração pública e, durante algum tempo, a valorização cambial excessiva.
Durante os últimos quatro anos, o governo deu ampla atenção a uns poucos fatores. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, acusou as autoridades do mundo rico de promover uma guerra cambial - tese apoiada pela presidente Dilma Rousseff. A presidente, além disso, insistiu na redução de juros como solução para boa parte dos problemas de crescimento. Além disso, o Executivo brasileiro tentou, por longo tempo, associar o baixo dinamismo da economia nacional à crise externa, como se a maior parte dos grandes problemas fosse conjuntural.
A boa notícia é uma aparente mudança de atitude da presidente e de seus principais auxiliares da área econômica. Na quinta-feira, o ministro da Fazenda anunciou a mais alguns setores a desoneração da folha de pagamentos. A medida vale agora para 25 setores. Dois dias antes a presidente havia lançado formalmente o plano de redução das contas de energia elétrica, um insumo absurdamente caro no Brasil. Em agosto, o Executivo havia apresentado um plano de investimentos em logística, baseado em concessões e em parcerias com o setor privado. O ponto comum aos três conjuntos de medidas é a ênfase em problemas estruturais e em ações de longo alcance destinadas a elevar a produtividade geral da economia brasileira.
Falta saber se o governo saberá cuidar dos detalhes e mostrará, na gestão dos planos, mais competência do que tem exibido até agora. Resta, por enquanto, registrar a novidade positiva.