Já escrevi muito sobre esse assunto aqui e não vou me alongar muito. Mas quando se fala em “modelo” é preciso ter algo que nos diferencia para melhor (ou pior) de outros países. Se for para melhor, o modelo pode servir de exemplo para outros países tentarem fazer o mesmo.
Aqui, no Brasil, devido ao maior crescimento na primeira década deste século em conjunto com a melhoria da distribuição de renda e queda da desigualdade muitos começaram a falar de um “modelo brasileiro”.
Amigos meus até chegaram a escrever textos acadêmicos sobre o assunto, exaltando o “modelo brasileiro” que seria caracterizado por crescimento com distribuição de renda, politicas sociais ativas, expansão do crédito, e maiores incentivos à inovação.
Há, no entanto, um grande problema com esse suposto modelo brasileiro. Quando se olha para os dados de crescimento do PIB e indicadores sociais, o Brasil não se destaca quando comparado aos demais países da América Latina, o que sugere que o Brasil, como os demais países produtores de commodities, “surfaram” no boom de commodities. É claro que a América Latina melhorou, mas o Brasil não se destaca nem em crescimento nem tão pouco na melhoria dos indicadores sociais.
Para corroborar a tese acima de que não há um modelo brasileiro sugiro duas leituras bem simples. Uma é o artigo do meu amigo Samuel Pessoa do IBRE-FGV na Folha de São Paulo (clique aqui) de onde retirei a tabela ao lado e no qual ele mostra que:
“…tanto no governo FHC quanto no governo Lula, o crescimento do Brasil foi muito próximo do crescimento da América Latina: 0,1 ponto percentual a mais para o governo FHC e 0,1 ponto percentual a menos para o governo Lula.”
E enfatiza ainda que:
“No governo FHC, o crescimento da economia brasileira foi maior do que o crescimento de 6 dos 10 países da tabela. No governo Lula, somente ficamos à frente do México. Todos os demais nove países apresentaram um desempenho de crescimento superior ao nosso.” E nos dois primeiros anos do governo Dilma crescemos muito menos do que a média dos países da América Latina.
No caso das politicas sociais, a mais nova carta do IBRE (a melhora nos indicadores sociais da América Latina) mostra também que a redução de desigualdade de renda e da pobreza foi um fator comum a vários países da América Latina (clique aqui para ler a carta do IBRE-FGV).
A nota do IBRE fala que: “No Brasil, e provavelmente em outros países latino-americanos, há a sensação de que essa melhora é um fenômeno fundamentalmente nacional, ligado a determinadas escolhas políticas e econômicas. Um rápido sobrevoo no continente, porém, revela que os avanços sociais ocorreram em países com regimes econômicos e políticos bastante diferenciados, o que exclui de antemão qualquer tentativa muito simplista de explicá-los.”
E a nossa redução de pobreza foi mais modesta do que a de nossos vizinhos latino americanos. Por exemplo:
“….na Bolívia, a fatia que tinha menos de US$ 2 por dia para viver representava 23,3% da população em 2000, caindo para 13% em 2008. No Equador, a proporção desabou de 16,3% para 4,1% entre 2000 e 2010. No caso da Colômbia, o recuo foi de 16,4% para 6,7%. O Brasil, por sua vez, saiu de 10,2% em 2001 para pouco mais de 5,4% em 2009. Como se pode perceber, o tão festejado recuo da pobreza brasileira nos últimos dez anos, apesar de mostrar um inegável sucesso das políticas econômicas e sociais domésticas, é até mais modesto do que o de vários vizinhos latino-americanos.”
Se não fomos superiores em crescimento econômico nem em redução de pobreza quando comparado aos demais países da América Latina, qual é o “modelo brasileiro” que poderia ser replicado pelos outros países?
Seria bom se antes de dar lições para o resto do mundo sobre o que fazer, olhássemos com mais humildade para os nossos vizinhos. Infelizmente, quando se faz isso, o Brasil não parece ter ainda encontrado o tão falado “modelo brasileiro”.
O Brasil é um país de grande potencial até maior do que vários países da América Latina e estamos longe do populismo e retrocesso institucional da Argentina e Venezuela. Mas falar que existe um “modelo brasileiro” que pode e deve ser replicado é um exagero. Espero que algum dia isso seja verdade, mas, por enquanto, não consigo ver com clareza que seria o “modelo brasileiro”.