Distorcendo estatisticas e deformando a historia: um academico mentiroso
Diplomacia e Relações Internacionais

Distorcendo estatisticas e deformando a historia: um academico mentiroso


Eu já tinha lido o material em questão, de um acadêmico conhecido, que vive, nos últimos 50 anos, de uma equivocadíssima "teoria da dependência" que até seu mentor intelectual pediu que esquecêssemos (ele diz que não disse, mas eu sustento que sim).
Eu não pretendia responder a esse lixo que desonra a academia. Mas aí começaram aquelas correntes de militantes da causa e de aluninhos ingênuos, que obviamente ignoram a história e, sobretudo, desconhecem as estatísticas corretas, e que passam a disseminar o lixo em questão como se fosse um materia fiável.
Como tenho horror à mentira e à desonestidade intelectual (que como já disse também fica sendo só desonestidade), permiti-me perder meu tempo de leitura e de estudo para redigir um desmentido a esse lixo acadêmico.
Segue abaixo. Os interessados em ler o lixo acadêmico podem encontrá-lo neste link. De minha parte, continuarei fustigando os que perpetram mentiras.
Paulo Roberto de Almeida

Distorcendo a história real: o caso patético do “teórico da dependência”
Paulo Roberto Almeida (www.pralmeida.org)

Épocas eleitorais são propícias, como se sabe, às simplificações políticas e às manipulações de dados econômicos. É normal, é o esperado, sobretudo por parte dos próprios candidatos e dos seus “conselheiros” de campanha. Não deveríamos nos inquietar além conta, uma vez que, decidida a eleição, ultrapassadas as pequenas emoções e transpirações do período eleitoral, o novo chefe do executivo tem de se haver, não com as fantasias construídas ao longo da campanha, mas com os dados frios do orçamento e os números mais sérios do balanço de pagamentos. A partir daí, ele não pode mais enganar a ninguém, a não ser ele mesmo, se insistir em desconstruir as realidades do país e do mundo e ignorar os fatos econômicos mais elementares. Quem senta na cadeira decisória não atua mais com base em ideologias e idealizações acadêmicas, e sim com base em dados reais, com vistas a adotar as melhores decisões requeridas pela situação enfrentada.
Mais preocupante, contudo, é a situação de acadêmicos – cuja função primária seria a pesquisa honesta em torno da verdade dos fatos e sua transposição para o ambiente didático das salas de aula – quando, em lugar de esclarecer e informar, eles se dedicam a obscurecer e a deformar a história real. Claro, sempre se encontram aqueles que, motivados pelas paixões eleitorais, se deixem contaminar pelo ambiente de slogans superficiais e de comparações levianas, comprometendo sua credibilidade na mesma manipulação de dados que deveria ser atribuição exclusive dos políticos. Tenho encontrado alguns no curso da campanha de 2010, mas o caráter tosco de seus argumentos apenas confirma a irrelevância dessas mensagens passageiras, destinadas à lata de lixo da política conjuntural uma vez passada a campanha eleitoral.
Diferente é o caso de um soi-disant teórico da dependência, que rompeu todas as regras da decência acadêmica ao deformar completamente os dados da realidade em recente “carta aberta a Fernando Henrique Cardoso”. Ele se refere ao presidente, não ao sociólogo, classificando seu mandato de um dos maiores fracassos na história política do Brasil. Até aí nada de mais, pois seria apenas mais um desses ataques dos conhecidos fundamentalistas da academia. Não contente, porém, com uma acusação simplória como essa, o acadêmico em questão – cujo texto bilioso vem sendo divulgado nos conhecidos pasquins de sua tendência política – pretende revolucionar a história conhecida, reconstruindo uma versão fantasiosa, que deve ser rechaçada como perfeita mentira que é. Com efeito, ele não hesita em escrever o seguinte:

Em primeiro lugar vamos desmitificar a afirmação de que foi o plano real que acabou com a inflação. Os dados mostram que até 1993 a economia mundial vivia uma hiperinflação na qual todas as economias apresentavam inflações superiores a 10%. A partir de 1994, TODAS AS ECONOMIAS DO MUNDO APRESENTARAM UMA QUEDA DA INFLAÇÃO PARA MENOS DE 10%. Claro que em cada pais apareceram os “gênios” locais que se apresentaram como os autores desta queda. Mas isto é falso: tratava-se de um movimento planetário.

O acadêmico em questão não apresenta nenhum dado para sustentar suas afirmações mentirosas. Por isso seria preciso lembrá-lo que a economia mundial JAMAIS viveu em hiperinflação; ocorreu um período, subsequente aos choques do petróleo dos anos 1970, no qual a inflação em países da OCDE chegou, sim, próxima de 10% ao ano, após o que esses países deram início a vigoroso esforço anti-inflacionário, desde o início dos anos 1980, o que trouxe o ritmo do aumento do custo de vida para patamares inferiores a 10% logo em seguida.
Apenas para ficar num exemplo: a inflação nos Estados Unidos era de 3,27% em 1972; foi para 11% em 1974 (como decorrência do primeiro choque do petróleo em 1973), mas já tinha decaído para 5,7% em 1976; ela ascendeu novamente para 11% em 1979 (em função do segundo choque do petróleo), para decair para algo em torno de 3,5 a 4% no decorrer dos anos 1980, e atingir patamares ainda menores durante os anos 1990: de 2 a 3%. Se considerarmos as duas outras maiores economias planetárias, Alemanha e Japão, as taxas são ainda menores: a Alemanha alcançou 7% apenas em 1973 e 1974, situando-se bem abaixo disso durante todo o período; no caso do Japão, altamente dependente do petróleo, os choques foram realmente impactantes em meados dos anos 1970, mas depois disso, suas taxas de inflação raramente ultrapassaram 3%. Onde está a hiperinflação mundial do acadêmico mentiroso?
Sua informação de que todas as economias do mundo convergiram para patamares inferiores a 10% em meados dos anos 1990 também carece de qualquer comprovação. A verdade é, exceto países notoriamente desregrados nos planos fiscal e monetário – o que inclui, por exemplo, Israel nos anos 1980, pelos pesados encargos da situação de guerra –, a maior parte dos países do mundo já conhecia níveis inflacionários bastante moderados desde os anos 1980, com a notável e notória divergência dos latino-americanos e vários africanos. Se o autor precisar conferir, eu posso lhe indicar todas as estatísticas de inflação (e dados macroeconômicos de maneira geral), numa fonte insuspeita de distorções estatísticas (já que dados fiáveis são a base de seu trabalho analítico): o FMI. O link para a base de dados é este aqui: http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/1999/01/data/#top.
Em qualquer hipótese, não existe convergência planetária em matéria de inflação, uma vez que esta – excluindo-se os fatores causais externos, que soem ser conjunturais, como a já mencionada alta nos preços do petróleo – depende basicamente da política monetária interna a cada país. Não preciso relembrar nossa história de desregramento monetário e fiscal e de fracassos nas tentativas de estabilização ao longo dos anos 1987-1992 para refrescar a memória do acadêmico enviesado. Que ele não goste do sociólogo e do presidente FHC é admissível, mas que também tente deformar os dados econômicos para diminuir o sucesso do Plano Real já é um caso de obsessão doentia e de impossibilidade de conviver com a realidade.
As afirmações desse “acadêmico” com respeito aos dados cambiais e fiscais do governo FHC também são do mesmo teor altamente irresponsável na transcrição dos dados reais; elas vêm carregadas de tanta desinformação que seria custoso reapresentar aqui todas as estatísticas corretas quanto à evolução dos dados macroeconômicos nos dois mandatos daquele presidente. Na verdade, todas as suas “informações” econômicas possuem o mesmo rigor demonstrado pelas afirmações sobre a inflação mundial, acima indicadas, comprovando uma capacidade de deformar os dados reais raramente visto nos anais da academia.
Se as universidades brasileiras multassem os professores que manipulam grosseiramente os dados como fez esse acadêmico, seu próximo contra-cheque viria seriamente diminuído, talvez ultrapassando o valor do salário (não merecido, pelo menos não pela missão de desinformação politicamente motivada). É triste constatar que a academia brasileira, que certamente não estimula a adesão de seus membros à mentira e à deformação estatística, abriga um acadêmico que, não contente de se rebaixar à função de cabo eleitoral, ainda pretende reescrever a história com dados fantasiosos e argumentos totalmente equivocados.

Paulo Roberto de Almeida
Shanghai, 2213, 26/10/2010



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