RECIFE - Não pegou bem em Paris a declaração da presidente Dilma Rousseff sobre a intervenção do exército francês no Mali. Após uma reunião com líderes europeus, há três semanas, Dilma afirmou que o combate ao terrorismo não deveria “reavivar antigas tentações coloniais”.
Em reunião com líderes europeus, presidente Dilma criticou atuação da França no Mali
Fontes do governo francês informaram ao
Valor PRO, serviço de informações em tempo real do
Valor, que a observação de Dilma foi muito mal recebida em Paris. “Um comentário como esse revela, acima de tudo, desconhecimento”, disse uma pessoa com trânsito na diplomacia francesa.
De acordo com a fonte, a operação militar está amparada nos requisitos necessários, como pedido oficial de ajuda pelo governo do Mali e aval da Organização das Nações Unidas (ONU). “A intervenção também conta com apoio dos países vizinhos ao Mali, que temem a proliferação do terrorismo na região”, reforça a mesma fonte.
Colônia da França até 1960, o Mali passa por uma onda de violência após o envolvimento de grupos terroristas de origem muçulmana e ocidental em disputas políticas locais. As forças francesas entraram em ação no dia 11 de janeiro, no momento em que rebeldes ameaçavam derrubar o governo local.
No último dia 24, Dilma se reuniu em Brasília com os presidentes da União Europeia, José Manuel Durão Barroso, e do Conselho Europeu, Herman van Rompuy. Na ocasião, a presidente cobrou solução para os conflitos no Mali, na Síria, em Israel e na Guiné-Bissau.
Dilma defendeu a submissão das ações militares às decisões do Conselho de Segurança da ONU e mencionou eventuais tentações coloniais. “O combate ao terrorismo também não pode ele mesmo violar os direitos humanos nem reavivar nenhuma das tentações, inclusive as antigas tentações coloniais", disse a presidente.
Na avaliação dos franceses, a declaração revela também o “desinteresse” do governo Dilma pela política externa. Os europeus reclamam de dificuldades em conseguir agendar reuniões e coletar informações junto aos ministérios e demais órgãos do governo. Os empecilhos, segundo os franceses, teriam aumentado após Dilma assumir a Presidência da República.
Em um primeiro momento, os diplomatas franceses avaliaram a declaração como um arroubo presidencial e esperaram, em vão, por um esclarecimento do Ministério das Relações Exteriores. “Um país que tem a sexta economia do mundo e quer um assento no Conselho de Segurança da ONU não pode falar em colonialismo em pleno século 21”, arrematou a fonte no governo francês.
(
Murillo Camarotto | Valor)