O buraco nas contas externas cresceu em maio, será bem maior neste ano que em 2012 e o investimento estrangeiro direto será insuficiente para cobri-lo, segundo o Banco Central (BC). Com essa coleção de más notícias, o relatório mensal do banco sobre o balanço de pagamentos fechou uma semana penosa para o governo, marcada por marchas de protesto, vandalismo e violência nas ruas e forte instabilidade cambial.
O déficit em conta corrente ficou em US$ 6,42 bilhões no mês passado, US$ 54,23 bilhões no ano e US$ 72,97 bilhões em 12 meses. Em cinco meses o déficit correspondeu a 4,18% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 12 meses, equivaleu a 3,2%. Nesse período, o investimento estrangeiro direto chegou a US$ 64,22 bilhões (2,82% do PIB). A diferença foi coberta com recursos de outros tipos - empréstimos e investimentos no mercado de capitais. O financiamento das contas externas ficou mais dependente, portanto, de recursos mais especulativos e mais instáveis.
Um déficit pouco acima de 3% do PIB é em geral financiável sem muita dificuldade, mesmo quando é insuficiente o investimento de qualidade mais alta, aquele dirigido à compra de empresas, à criação de negócios e ao fortalecimento do setor produtivo.
Não existe uma fronteira clara entre a zona segura e a de perigo, quando se trata de conta corrente deficitária. Muitos países têm conseguido conviver com déficits próximos de 4% do PIB, mas a segurança depende de vários fatores, como a situação fiscal, a inflação, o ritmo de crescimento econômico e, naturalmente, o cenário internacional.
Os três primeiros fatores compõem a imagem do país e afetam a disposição dos investidores e emprestadores estrangeiros. Um quadro externo favorável pode ser insuficiente para garantir os financiamentos necessários, quando é baixa a confiança no país.
No caso do Brasil, todas as condições importantes evoluem na direção menos favorável. Para começar, as contas externas estão em clara deterioração. O BC acaba de reduzir de US$ 15 bilhões para US$ 7 bilhões o superávit comercial previsto para o ano.
A projeção das exportações diminuiu de US$ 264 bilhões para US$ 248 bilhões. A das importações caiu bem menos, de US$ 249 bilhões para US$ 241 bilhões.
O déficit previsto para serviços encolheu ligeiramente, para US$ 42,7 bilhões, e o estimado para rendas (como juros e dividendos) aumentou um pouco, para US$ 42,4 bilhões.
Para as transferências correntes (como remessas de trabalhadores no exterior) a nova projeção continua positiva, em US$ 3,1 bilhões.
Somadas essas contas - de mercadorias, de serviços e rendas e de transferências unilaterais - se chega a um déficit de U$ 75 bilhões em transações correntes.
Na estimativa anterior, o rombo era de US$ 67 bilhões. Pela nova projeção, o déficit será de 3,22% do PIB. O investimento estrangeiro direto chegará a 2,79% e o resto será, portanto, coberto com recursos menos seguros.
O primeiro dado preocupante é a tendência de aumento do déficit em conta corrente. Esse dado é conhecido tanto no mercado interno quanto no externo. A deterioração resulta principalmente da piora da conta de comércio, atribuível, sem muita discussão, ao baixo poder de competição da indústria - resultante de uma porção de fatores também conhecidos.
Não há perspectiva de grande mudança nesse quadro nos próximos 12 meses. Outros indicadores também são ruins e tendem a piorar - especialmente no caso das contas públicas.
Outro fator de preocupação é o quadro financeiro internacional. O Federal Reserve, o banco central americano, deverá até o fim do ano reduzir a emissão de dólares para irrigar o mercado.
Não haverá enxugamento imediato, mas diminuição do ritmo de emissões. Bastou o anúncio do plano para o mercado se agitar. Se a tendência se confirmar, os financiamentos serão mais caros e os países com imagem comprometida serão os mais prejudicados.
Será o governo capaz de esquecer as eleições por um momento para cuidar da economia?