Delirios cambiais e as indefinicoes de sempre: o "primeiro" debate economico da era Dilma
Diplomacia e Relações Internacionais

Delirios cambiais e as indefinicoes de sempre: o "primeiro" debate economico da era Dilma


Ainda ouviremos falar muito na tal de "guerra cambial" -- muito mais exercida, aliás, pelos EUA, com sua política de desvalorização controlada, do que pela China, com sua política de estabilidade na paridade com o dólar, mas moderadamente deslizante -- e dessas "manipulações" -- aqui a referência indireta é claramente a China, mas os dirigentes brasileiros têm medo de pronunciar o nome do país -- e ouviremos ainda mais reclamações desses empresários, mal acostumados durante muito tempo com a política de desvalorizações constantes, automáticas, que empobrecia o povo mas encobria todas as suas ineficiiencias competitivas.
Se o governo, ou suas mais altas autoridades quiserem mesmo cuidar da "defasagem" cambial, eles não precisam nem controlar os fluxos de capitais, nem passar a "manipular" o câmbio, o que eles não farão pois não têm NENHUMA política alternativa para colocar no lugar do câmbio flutuante. Se ele é flutuante, ele deve subir ou baixar, em função dos demais dados do cenário interno, entre eles o nível da taxa de juros.
Se o governo quiser mesmo combater o câmbio alto, só tem uma solução: controlar as despesas públicas, diminuir o nível de financiamento que o Estado "obtém" da sociedade -- e ele só consegue o dinheiro prometendo juros altos, justamente -- e entrar num regime de emagrecimento fiscal.
Qualquer outra solução "milagre" seria bobagem e de curto efeito, como esse aumento no IOF, que não serviu para absolutamente nada.
Acho que continuaremos ouvindo bobagens pelo futuro próximo...
Paulo Roberto de Almeida

Dilma e as batatadas sobre o câmbio no Jornal Nacional
Reinaldo Azevedo, 3.11.2010

O Jornal Nacional acaba de reapresentar, agora acompanhada da repercussão, a declaração de ontem de Dilma Rousseff sobre o câmbio, a saber:

Eu tenho um compromisso forte com a questão dos pilares da estabilidade macroeconômica, um câmbio flutuante. E nós temos hoje uma quantidade de reservas que permite que a gente inclusive se proteja em relação a qualquer tipo de guerra ou de manipulação internacional.

Bem, vamos ver. Não sou economista, claro!  Mas sou economista o bastante para tratar das bobagens múltiplas contidas em trecho tão curto;

1 - O nível de reservas do Brasil nada tem a ver com câmbio flutuante. Um país pode ter reservas altas ou baixas com câmbio flutuante ou fixo. Existe no máximo uma correlação entre elas porque, bem, nos dois casos, estamos falando sobre dólares.

2 - Segundo a presidente eleita, as reservas brasileiras nos protegem de ataques especulativos? É mesmo? Assim seria se o ataque se desse na forma de fuga de dólares. Só que o movimento, hoje, é contrário: o que se tem e uma entrada excessiva: com os juros americanos no chão, os investidores vêm aproveitar a nossa taxa, digamos, exuberante! Assim, as vistosas reservas, longe de uma garantia contra o problema em curso, são parte do problema.

3 - A China, cujo câmbio é flutuante só em teoria, é que mantém reservas altíssimas. Pra quê? Justamente para decidir artificialmente o valor da sua moeda, mantida desvalorizada porque isso lhe permite provocar os estragos que provoca nas economias mundo afora.

Eu não estou defendendo câmbio fixo, flutuante, mais ou menos fixo ou mais ou menos flutuante. Só estou deixando claro que a equação da presidente eleita está errada. Os “especialistas” que comentaram a questão preferiram ignorar a salada teórica e falar sobre a tal guerra cambial no mundo. Estamos na fase de preservar Dilma de si mesma.

[fim de transcrição]
========

Termino por aqui [PRA]:
O que precisa ser dito, também, é que essa política insana de acumular reservas, em níveis exageradamente altos, muito mais altos do que a prudência com a balança de transações correntes recomendaria (três meses de importações, quando já estamos com mais de dois anos de importações de cobertura cambial), essa política nos leva a um CUSTO FISCAL ALTISSIMO, na faixa de 25 a 30 bilhões de dólares por ano, que é a diferença entre os juros internos (aos quais o governo remunera os títulos da dívida pública com cujos recursos ele compra dólares) e os juros externos, que remuneram nossas divisas (tipicamente, Treasury bonds americanos, que estão, como vocês sabem, com os juros no piso mínimo).



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