Diplomacia e Relações Internacionais
Corrupção custa US$ 6 trilhões por ano aos países em desenvolvimento
Ops! Metade deve ser da China e 1/6 do Brasil...
Honny soit qui mal y pense...
Paulo Roberto de Almeida
Corrupção custa US$ 6 trilhões por ano aos países
em desenvolvimento
A China foi campeã em “dinheiro sujo” transferidos para paraísos fiscais e bancos ocidentais em 2010
A criminalidade, a
corrupção e a sonegação fiscal custaram quase US$ 6 trilhões aos
países em desenvolvimento na última década, e a quantia continua crescendo, principalmente na China, disse uma entidade fiscalizadora em um novo relatório divulgado na segunda-feira. A China foi a origem de quase metade dos US$ 858,8 bilhões em “dinheiro sujo” transferidos para paraísos fiscais e bancos ocidentais em 2010, o que representa mais de oito vezes mais do que os segundos colocados, Malásia e México. O fluxo total de valores ilícitos cresceu 11% em relação ao ano anterior, segundo a ONG Integridade Financeira Global (GFI), com sede em Washington.
– Somas astronômicas de dinheiro sujo continuam fluindo do mundo em desenvolvimento para paraísos fiscais ‘offshore’ e bancos de países desenvolvidos. Os países em desenvolvimento sofrem uma hemorragia de cada vez mais dinheiro, num momento em que nações ricas e pobres tentam igualmente estimular o crescimento econômico. Este relatório deve ser um toque de alerta para aos líderes mundiais para que se faça mais para resolver essas saídas nocivas – disse Raymond Baker, diretor da ONG.
Índia, Nigéria e Filipinas entraram neste ano para o “top 10″ da fuga de capitais ilícitos. Todos os países nesse grupo enfrentam graves problemas de
corrupção, e na maioria deles há também vastas desigualdades sociais e problemas de segurança interna. Os líderes do G20 (grupo das 20 maiores economias mundiais) cada vez mais discutem formas de reprimir a lavagem de dinheiro, o sigilo bancário e brechas tributárias, a fim de evitar que a
corrupção e outros crimes esvaziem os cofres dos países em desenvolvimento.
Para que se tenha uma ideia do volume envolvido, a cada dólar de ajuda internacional direta, dez dólares saem dos países em desenvolvimento. A China perdeu US$ 420,4 bilhões em 2010, e o total em uma década chega a US$ 2,74 trilhões. Ciente do impacto desestabilizador da corrupção, os líderes chineses decidiram agir. O presidente Hu Jintao recentemente alertou que a corrupção poderá destruir o Estado chinês e seu regime comunista.
– Nosso relatório continua demonstrando que a economia chinesa é uma bomba-relógio. A ordem social, política e econômica naquele país não é sustentável em longo prazo, dada a enorme fuga de quantias ilícitas – disse Dev Kar, economista-chefe da GFI, que compilou o relatório.
Lavanderia
A maior parte do dinheiro proveniente da corrupção precisa ser “lavado” para voltar ao mercado com uma origem lícita. Para o sociólogo Jean Ziegler, a Suíça é o endereço preferido por nove entre 10 corruptos no mundo, para resolver esse problema. Durante cerca de trinta anos, Jean Ziegler foi considerado pelos suíços como o seu pior inimigo, ironizado pelos jornais e considerado palhaço pelos cartunistas suíços, tudo por ter escrito um livro “best seller”, em 1976 – A Suíça Acima de Qualquer Suspeita, no qual denunciava o segredo bancário suíço.
Funcionário da ONU na África, na época da independência do Congo e do assassinato do líder Lumumba, Ziegler tinha sido amigo de Che Guevara. Em sua autobiografia, Ziegler conta ter sido o Che quem, na sua juventude, lhe pediu para ficar na Suíça e lutar contra os banqueiros suíços. Durante duas décadas, como deputado estadual e federal por Genebra, manteve atuação marcante na política suíça, sem deixar seu posto de professor de sociologia em Genebra e na Sorbonne, em Paris. Foi seu livro A Suíça Lava Mais Branco, que lhe trouxe os maiores problemas e provocou o fim de sua carreira política. Seus colegas do Parlamento, ao contrário do hábito, votaram a retirada de suas imunidades parlamentares, para forçá-lo a responder os processos movidos pelos banqueiros.
O próprio Partido Socialista lhe negou a candidatura para um terceiro mandato por Genebra. Mesmo assim, em plena tormenta econômica, quando precisou mesmo vender seu carro para pagar advogados, conseguiu um novo sucesso com o livro A Suíça, o Ouro e os Mortos, no qual contou o roubo das economias dos judeus mortos no Holocausto pelos bancos suíços e onde expôs a teoria de que, sem a Suíça para lavar o ouro roubado pelos nazistas, a Segunda Guerra teria terminado em 1942.
A seguir, por proposta de Cuba, apoiada pelos países africanos, Ziegler foi designado relator especial da ONU para a Alimentação. Na ONU, ao todo, Ziegler completou 13 anos. Seu mandato à frente da área de Alimentação dificilmente seria renovado, vista a séria oposição dos EUA e Israel, por isso, Ziegler seguiu para o Conselho dos Direitos Humanos da ONU, desta vez com o apoio oficial da Suíça, que o reabilitou e o indicou numa brochura distribuída a todos os países como seu candidato oficial.
A brochura, que louva as qualidades de Ziegler, foi distribuída a todas as embaixadas e governos, inclusive ao Brasil. Embora Ziegler tenha provocado, na época, uma briga com o ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso, num relatório sobre a fome no Brasil, nunca escondeu sua admiração por Luiz Inácio Lula da Silva, que manteve até agora o seu apoio às ações de Ziegler na ONU.
Ziegler e sua trajetória foram transformados em livro, lançado nesta terça-feira em Berna. A vida de um rebelde, publicado pela editora Favre, pinta um retrato sobre Jean Ziegler, nas tintas do autor desta biografia, o jornalista Jürg Wegelin. Jean Ziegler sempre se recusou a escrever suas memórias, mas não está satisfeito com a primeira biografia, consagrada por Wegelin. Nem deveria, pois o escritor tentou ser objetivo, apesar das inúmeras controvérsias em torno do sociólogo.
– Jean Ziegler não tentou me influenciar e eu compilei uma personagem bastante completa. Eu acho que Jean Ziegler era um visionário e tem feito a diferença. Abriu os olhos de muitos estudantes no Sul e também tem desempenhado um papel importante como um relator da ONU sobre o direito à poder – disse Weglin ao Genebra Press Club.
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