Coisas Internacionais: nossos aliados pouco aliados - Mario Machado
Diplomacia e Relações Internacionais

Coisas Internacionais: nossos aliados pouco aliados - Mario Machado


Meu amigo internacionalista e colega blogueiro, animador do Coisas Internacionais, faz interessantes considerações sobre as estranhas amizades do Brasil lulo-petista, que alerto não ser o Brasil normal, ou seja, aquele que sempre conhecemos antes do Nunca Antes...
Esse Brasil lulo-petista, infelizmente fala pelo Brasil, mas inverteu completamente algumas agendas diplomáticas, e os ingênuos, os incautos, os estrangeiros, ou certos jornalistas distraídos (ou aliados, ou melhor, de má-fé) proclamam que o Brasil, ou o Itamaraty, está fazendo isso e mais aquilo, quando não é, são os companheiros lulo-petistas, amadores em relações internacionais, e deformados em política -- quem gosta de ditadura para mim só pode ter um problema mental, ou alguma deformação moral -- que estão imprimindo direções surpreendentes a uma diplomacia que sempre primou pelo equilíbrio, pelo comedimento, pela medida, e sobretudo pelo respeito absoluto do direito internacional, sem falar dos interesses nacionais, obviamente.
Mas, leiam o que escrevem com uma ironia típica da Economist, e uma sutileza mordaz, meu amigo Mário Machado, que até achou uma reflexão que fiz para rechear seu texto por si excelente.
Paulo Roberto de Almeida

Nossos aliados
Coisas Internacionais,  03 Setembro 2014

Nossos aliados nos BRICS andam ocupados em agendas, no mínimo, controversas. Sempre repito aqui que qualquer um que estude e trabalhe com Relações Internacionais, cedo ou tarde terá que conviver e apertar as mãos de gente imprópria para o consumo humano, tudo em nome dessa quimera política chamada Interesse Nacional.

Ás vezes a diplomacia brasileira exagera nas deferências a esses parceiros problemáticos, vez ou outra algum presidente chama ditador de irmão, ou abrimos uma residência oficial para a estadia de outro. Mas, isso é esporádico, pontos fora da curva.

O problema é quando parceiros estratégicos de alto relevo agem de maneira controversa e essa aliança acaba impondo um silêncio conivente do Brasil, para um país que tem buscado com muito afinco o status de Ator Global, ou seja, por definição uma voz relevante nos assuntos planetários. E esse projeto tem se calcado na aliança com os outros gigantes emergentes.

A China tem se movimentado para restringir as liberdades individuais em Hong Kong, como bem colocou o professor e diplomata Paulo Roberto de Almeida, com seu natural estilo provocador:

“[A China] começa a restringir os direitos democráticos, que ainda existem, na sua província especial, ex-colônia britânica, que teve a sorte de ter todas as liberdades democráticas da metrópole-mãe, e mais liberdades econômicas do que a própria metrópole, que derivou para o fabianismo e foi para uma gloriosa decadência, antes de ser recuperada por uma estadista clarividente. Agora, o mais velho império do mundo pretende estabelecer a tirania que já existe em sua própria jurisdição”.

A Rússia tem se envolvido em violações da soberania Ucraniana. E a tradição diplomática brasileira sempre foi visceralmente avessa a esse tipo de violação, mas nesse caso tem mantido um silêncio loquaz. E nem vou levar em consideração os que por ideologia ou apreço a conspiração que tacham os ucranianos de nazistas.

Mas, a maior contradição dessa aliança é o caso indiano, que tem uma deliberada política de subsídios agrícolas agressivos que prejudicam os exportadores brasileiros e uma das causas do travamento da Rodada Doha, tudo bem que a causa do Livre Comércio não é popular no Palácio do Planalto, mas deve ser complicado, pra dizer o mínimo, equilibrar as concepções estratégicas que calcam a aliança global com prejuízos pra um dos setores mais importantes da economia brasileira que é o setor agrícola.

A Política Internacional, por vezes exige alianças, que nos amarram a atores que na consecução de suas agendas violam alguns dos valores que dizemos que nos definem. Como bem disse Nelson Rodrigues: “Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos”, mas numa democracia seria interessante que temas como nossas alianças internacionais fossem debatidos de maneira séria e pragmática.



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