Luiz Guilherme Medeiros
http://lgmedeiros.blogspot.com.br/2014/07/santander-empiricus-2709.html, 29/07/2014
Como disse em artigo prévio, 2014 começou a valer apenas no mês de junho. A euforia nacional, o ufanismo e a desilusão que a Copa trouxe já vieram e já se foram. Resta agora nos preparamos para o segundo momento-chave do ano, as eleições de Outubro. A partir de agora, o centro da discussão passará a ser cada vez mais aonde o Brasil se encontra de fato, e para onde queremos que ele siga.
O debate franco e aberto se faz necessário para alcançarmos algum consenso, e a diversidade de opinião, assim como a liberdade de expressa-la, são vitais nesse processo.
Infelizmente, parece que nosso governo respeita mais as imagens que passam em suas belas propagandas do que o que é dito pela consciência dos brasileiros que vivem no Brasil de verdade.
Como exemplo temos o banco Santander, que tal como toda empresa, tem dois tipos de interesse vitais para sua sobrevivência: os seus e os dos seus clientes. A falha em zelar por eles é a certeza de sua ruína.
Sendo assim, é razoável considerar que uma recomendação do banco aos seus clientes tem como finalidade o benefício mútuo. Lógico, eles podem discordar e ignora-la.
Existe também a possibilidade da recomendação ser fruto de um grupo que diverge da mentalidade da empresa, justificando o desligamento dele.
Vamos supor, então, que tanto os clientes rejeitam a recomendação como é razoável demitir a equipe responsável por ela.
Sob que base moral a Presidente da República pode intimidar indivíduos, atuando em empregos privados, numa empresa privada, classificando suas opiniões como "inadmissível"? Que legitimidade ela possui para ameaçar uma organização civil de que tomará uma "atitude bastante clara" em relação a ela?
A frieza do comunicado divulgado pelo banco indica que ela está sendo realizada mais por temor ao Planalto que convicção do erro do consultor. Ainda que fosse o contrário, o banco não deve desculpa alguma. A conduta de seus empregados é problema seu. Não cabe ao Executivo julgar qual comentário é admissível ou não de ser feito sobre sua gestão.
Fora o fato de que Santander tem direito de se expressar, é absurdo que um banco cale seus funcionários por medo de retaliação governamental em pleno regime democrático, ainda mais quando existem informações públicas que mostram a relevância da recomendação aos seus clientes. Longe de ter sido feita de forma arbitrária ou irracional.
Quem melhor argumentou em favor desta recomendação não foi sequer o Santander, mas a outra empresa hostilizada nesta semana: a agência de consultoria Empiricus.
No relatório "O Fim do Brasil", disponível em texto e em vídeo, Felipe Miranda, um dos fundadores da empresa, demonstra a credibilidade das previsões da companhia e assegura que sua intenção não é aterrorizar o espectador, mas prepara-lo para o que está por vir. O que ele acha que acontecerá? O retorno de condições econômicas anteriores ao Plano Real em um futuro próximo.
Para ser breve, resumo os dez argumentos principais do analista que indicam o desastre atual:
1- O crescimento do PIB no governo Dilma é o pior desde o governo Collor, que precedeu ao Real. Nas últimas duas décadas, jamais evoluímos tão pouco.
2- A inflação está persistentemente alta e acima do centro da meta. Estimativas apontam que ela ficará precisamente no teto de 6,5% em 2014, sendo elevado o risco de estoura-lo e ferir a credibilidade do Banco Central.
3- As contas públicas estão completamente desajustadas. O superávit primário médio do governo Dilma foi de 1,5% do PIB, enquanto o de Lula foi 3,1%. Os números não fecham, e o governo terá dificuldade em estabilizar a dívida bruta ou líquida. A solução será uma alta dos juros, comprometendo o orçamento familiar e o crédito.
4- O déficit em transações correntes vem crescendo sistematicamente e a níveis alarmantes. Estamos com baixas reservas de dólar, sendo que em 2015 l BC norte-americano elevará sua taxa de juros, resultando numa atração de recursos para os EUA. Vai faltar dólar no Brasil, e a alta do câmbio resultará em impactos sobre a inflação, importação e empresas com dívida em dólar.
5- O mercado de trabalho está enfraquecendo. O último mês de maio teve a pior criação líquida de postos de trabalho desde 1992. O desemprego só aparenta estar controlado porque as pessoas estão desistindo de procurar trabalho, não entrando assim nas porcentagens.
6- Análises do banco Brasil Plural apontam como matematicamente certo (100%) que teremos racionamento de energia este ano. O nível dos reservatórios chegará a 10%, mantendo o ritmo de hoje. A falta de planejamento e a desastrosa MP 579 resultaram de alterações nas regras do jogo do setor elétrico e quebra de contrato explícita no acordo de renovação automática da Cemig.
7- A Petrobrás foi destruída, com suas ações hoje valendo um terço do que valiam em 2010. A poupança do brasileiro está sendo afetada, visto que ocorre a aplicação do FGTS em ações da empresa. O controle do preço da gasolina acarreta em queimas de caixa, e hoje a Petrobrás apresenta a maior dívida corporativa do planeta.
8- A Eletrobrás também está em situação catastrófica, graças a já citada MP 579. Mas diferente da Cemig, ela aceitou projetos que implicavam retornos negativos para a estatal, graças aos interesses da União nesta medida. O resultado foi o derretimento de suas ações na Bolsa e o ultraje dos acionistas com o prejuízo deliberado que o governo permitiu sob o valor da empresa.
9- A indústria brasileira encolhe a cada dia. Nossa relação de investimento sobre o PIB em 2011 era maior que a de 2014. A participação dos produtos manufaturados nas exportações era maior em 2010 do que em 2013. Nossa participação nas exportações mundiais também encolheu no mesmo período.
10- O medo político existe. A liberdade de imprensa vem caindo nos últimos anos, e o partido do governo ter elaborado uma lista de opositores em seu site oficial não ajuda a melhorar as perspectivas. Um agravamento desta situação pode gerar evasão de capitais tanto de brasileros quanto estrangeiros, assim como emigração dos mesmos do país.
O artigo segue em apresentar os problemas das medidas econômicas heterodoxas do governo Dilma, o abandono do tripé econômico, a intervenção estatal na economia, negligência e maquiagem das contas públicas.
A Empiricus mostrou claramente porque acredita que a reeleição de Dilma iria trazer prejuízo para o Brasil, o Santander e outros economistas também.
Qual foi a reação do PT e o resto da coligação da Presidente? Dizer que a empresa estava fazendo terrorismo econômico com o relatório e suas matérias, dotadas de conteúdo propagandístico favorável à oposição. A Justiça acatou a denúncia e ordenou ao Google que retirasse todas as peças de publicidade da Empiricus do ar.
A liderança petista parece acreditar de forma firme que a sociedade civil só deve falar o que lhes agrada. A liberdade de expressão tem este nome porque não é controlada pelo capricho de burocratas.
A solução do partido é adotar o ''nós contra eles'' de sempre, o discurso batido de que apenas o PT se importa com as famílias de renda baixa, a despeito da economia brasileira estar ficando para trás em vários quesitos quando comparada à outros países latino-americanos. A negação da realidade é o primeiro passo para a repressão parecer uma solução sedutora. A consciência de que a conduta do governo atual é catastrófica se faz necessária. Entre o fracasso certo e a chance de sucesso, é melhor se arriscar.