Veja a crítica a Marcelo Neri :
No Reino dos Pnadianos e Pnadianas... (Blog Monica Baumgarten de Bolle)
Por Monica Baumgarten de Bolle - 4 de outubro de 2013 11:36
…há o Brasil dos brasileiros em suas casas e o Brasil dos economistas. O Brasil dos brasileiros em suas casas só pode ser visto pela janela da PNAD, a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios do IBGE. A PNAD, por sua vez, só pode ser compreendida por uns poucos afortunados que conseguem enxergar a verdade nas suas estatísticas. Isso não é tarefa para amadores. Não é tarefa para economistas. Ou, ao menos, não é para qualquer economista.
Assim nos disse o Presidente do IPEA, Marcelo Neri, em artigo publicado para o Jornal O Globo em 4/10. Há o Brasil dos brasileiros em suas casas. Esse Brasil cresceu extraordinariamente no ano passado, uns 8% descontada a inflação, uns 14% quando a levamos em conta. Disse-nos o IPEA que isso foi maior do que a expansão do PIB chinês no ano passado, salientando o feito realmente extraordinário. Esqueçam-se do detalhe anódino de que o PIB chinês não é comparável à PNAD brasileira porque… Bem, para início de conversa porque não sabemos como o PIB chinês é compilado. Já a comparação com o Brasil dos economistas, esta sim é válida. E, esse Brasil, o medido pelo PIB, cresceu apenas 0,9% em termos reais, ou pouco mais de 6,5% quando se leva em conta a variação dos preços.
O Brasil dos brasileiros em suas casas e o Brasil dos economistas – leia-se, o PIB – são definidos e avaliados pelo mesmo instituto, pelo IBGE. O IBGE conduz a PNAD. O IBGE compila as Contas Nacionais. O Presidente do IPEA disse que o Brasil não é para amadores, parafraseando Tom Jobim. Estaria ele, portanto, insinuando que uma parte do IBGE é amadora? Afinal, uma parte do IBGE, a que lida com as Contas Nacionais, constatou que a renda por habitante do País praticamente estagnou no ano passado. Ou seria o caso dele estar nos dizendo que nós economistas – uma categoria à qual ele próprio pertence – não somos capazes de decifrar a esfinge pnadiana? Pnadiana, seria um neologismo ou um termo que compõe o idioma correntemente falado pelos integrantes do atual governo brasileiro, o Dilmês?
E, será mesmo que a PNAD é um enigma que apenas aqueles dotados de uma habilidade inata para destrinchar as mensagens contidas nos microdados são capazes de resolver? A renda medida pela PNAD aumentou 14% no ano passado, levando em conta a inflação. O salário mínimo cresceu 14% em 2012 levando em conta a inflação. Será uma mera coincidência?
Suponhamos que o enigma pnadiano seja explicado pela regra anacrônica de reajuste do salário mínimo, essa que o eleva todo ano com base na expansão do PIB de dois anos anteriores e na inflação de um ano atrás. Em 2012, o salário mínimo foi favorecido pela extraordinária expansão do PIB de 2010, de 7,5%, e pela não menos extraordinária elevação da inflação, que bateu no teto da meta, nos 6,5%. Afora o fato de que a regra aumenta o grau de indexação da economia, algo que levamos anos para desmontar, e que não faz o menor sentido econômico reajustar o salário mínimo pelo PIB, há outros problemas. O salário mínimo reajustado na marreta desse modo prejudica as contas públicas brasileiras, essas mesmas contas públicas que viraram o alvo de críticas das agências internacionais de risco e de certos semanários britânicos que gostam de foguetes religiosos. O salário mínimo reajustado na marreta tende a reduzir os incentivos para que as pessoas busquem na educação a melhoria de suas perspectivas futuras. Afinal, com tantas bolsas isso e aquilo por aí, além do maná do salário mínimo distribuído generosamente pelo governo todos os anos, para que almejar algo mais? Enterrar-se na mediocridade já é suficiente. E, é claro, aprender Dilmês.
No reino dos Pnadianos e Pnadianas, há… Bem há Pnadianos e Pnadianas. Esses são os guerreiros do governo que usam qualquer artifício, inclusive um manuseio peculiar dos dados, para sustentar os seus argumentos. Poderiam também ser chamados de Pnadilmos e Pnadilmas. Qualquer semelhança com os Paladinos de Carlos Magno não é mera coincidência. Afinal, quem não concorda com eles (e elas) só pode ser membro daquelas hordas de Sarracenos hereges…