Para continuar a crescer nos próximos anos, o Brasil terá de se tornar bem mais produtivo, pois se esgotaram os fatores demográficos e a farta disponibilidade de mão de obra que permitiram a contínua expansão da produção nos últimos anos, a despeito da baixa evolução da produtividade. A capacidade de produzir mais com a mesma quantidade de recursos será essencial, doravante, para fazer o País crescer e para assegurar melhores condições de vida para a população.
Esta é a principal conclusão de um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre produtividade, que marca o início de uma série a respeito dessa questão. O objetivo desses trabalhos é avaliar a evolução da produtividade brasileira nos últimos anos, compará-la com o que ocorreu e está ocorrendo em outros países, identificar os fatores que afetam a eficiência produtiva nos diferentes setores e, consequentemente, oferecer elementos para a definição de políticas públicas nesse campo.
Os resultados apresentados no primeiro trabalho da série são preocupantes e já dão a dimensão das imensas tarefas que o País terá nos próximos anos para continuar a crescer num ritmo adequado para suprir gradualmente suas carências econômicas e sociais.
Na análise da evolução recente dos indicadores de produtividade no Brasil, os pesquisadores do Ipea constataram que, entre 1992 e 2001, o crescimento do PIB per capita foi assegurado quase inteiramente pelo aumento da produtividade do trabalho.
No início da década passada, porém, a evolução do PIB per capita se descolou da variação da produtividade. Enquanto o primeiro indicador continuou a crescer velozmente (aumento de cerca de 20% entre 2001 e 2009), a produtividade avançou menos de 10%. O crescimento do PIB per capita na última década deveu-se basicamente ao aumento da taxa de ocupação, isto é, ao aumento do número de empregados em relação à população total.
Mas esse fator, estreitamente vinculado ao novo padrão demográfico do País e à expansão do mercado de trabalho, sobretudo o formal, já não terá mais tanta influência na elevação da renda per capita. Por isso, daqui para a frente, a melhora dependerá essencialmente dos ganhos de produtividade.
No entanto, a evolução recente da produtividade tem sido muito fraca. Embora varie muito de um setor da economia para outro, a produtividade média nas duas últimas décadas apresentou uma trajetória estável de crescimento, mas a um ritmo lento, de cerca de 1% ao ano. Na indústria de transformação, o resultado ficou abaixo disso; em alguns segmentos, houve queda de produtividade.
O que os dados preliminares sugerem é que, depois da crise financeira mundial iniciada em 2008, a produtividade brasileira, que crescia pouco, pode ter se estagnado.
Se se confirmar essa estagnação, o Brasil ficará em situação ainda pior na comparação com outros países. Um dos estudos do Ipea compara a evolução da produtividade no Brasil com a observada na Coreia do Sul, na China e nos Estados Unidos a partir de 1960, quando a produtividade americana já era alta.
Depois de evoluir numa velocidade superior à dos demais países nos primeiros 20 anos, a produtividade brasileira perdeu vigor e passou a crescer menos. A da China, ao contrário, passou de uma evolução lenta nos primeiros 20 anos para um vigoroso crescimento a partir de meados da década de 1980 e mantém esse ritmo até agora. A da Coreia do Sul igualmente adquiriu vigor na década de 1980 e continuou a crescer desde então, embora a um ritmo inferior ao da China. É surpreendente o caso da produtividade americana. De longe a mais alta do mundo, ela continua a evoluir de maneira constante e, nos últimos 20 anos, mais do que a brasileira.
Em resumo, a produtividade brasileira - que cresce menos do que a de outros países - já não conta mais com os impulsos que asseguraram sua expansão nos últimos anos. Isso impõe um duplo desafio para o País: definir novas fontes de aumento da produtividade e conseguir fazê-la crescer mais depressa do que crescia
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