Brasil: economistas do ano, Alexandre Tombini e Marcos Lisboa
Diplomacia e Relações Internacionais

Brasil: economistas do ano, Alexandre Tombini e Marcos Lisboa


Economistas do Ano 2010
Ordem dos Economistas do Brasil, 9 de Setembro de 2010

A festa do Economista do Ano, realizada no último dia 23 de agosto, foi marcada este ano por discursos da mais alta importância e que desde já se inscrevem como documentos históricos para a Ordem dos Economistas: depoimentos pessoais inéditos, análises originais de processos de crescimento e de desenvolvimento econômico e exemplos de reformas institucionais coroadas com êxito, bem como sua importância para o futuro do país, dominaram as manifestações.

O Governador Laudo Natel, às vésperas do seu 90º aniversário, foi muito aplaudido ao trazer para a comunidade econômica suas memórias e pontos principais de sua “carreira de bancário”, como ele mesmo definiu, malgrado todo o êxito de sua vida pública. Relembrou suas origens e fatos pitorescos de seu relacionamento com personalidades representativas como Amador Aguiar e Adhemar de Barros.

Alexandre Antonio Tombini, Diretor de Normas e Organização do Sistema Financeiro, do Banco Central do Brasil, que recebeu o prêmio de economista do Setor Público de 2010, ressaltou o trabalho realizado no âmbito do Banco Central do Brasil, especialmente o que resultou na excelente regulamentação e supervisão bancárias do Brasil, de resto elogiada internacionalmente. Relembrou o papel crucial do sistema de metas para a inflação, da taxa de câmbio flutuante, da política de acumulação de reservas internacionais, e dos esforços realizados pelo Banco Central para a fluidez da expansão do crédito. Foi com esse resultado recente que empresas e consumidores puderam alongar seus horizontes e tomar decisões a prazo mais dilatado, mantendo elevado o nível da demanda agregada. Ressaltou a importância estratégica que, durante a recente crise, teve o “colchão de liquidez” introduzido por aquela instituição. Elogiou a supervisão que foi permeável a um moderno processo de licenciamento de instituições financeiras e propugnou pela ampliação dos estudos sobre a “regulação prudencial” e pelo papel pro-ativo do Brasil nessa matéria em fóruns internacionais.

O Diretor do Banco Central reconheceu o pioneirismo da Ordem dos Economistas do Brasil na introdução dos estudos sobre a regulação prudencial.

Marcos de Barros Lisboa, o homenageado com a láurea de “Economista do Ano 2010”, apresentou documento intitulado “Instituições e Crescimento Econômico”, um denso discurso, em parte acadêmico, em parte histórico e até filosófico e por fim reencontrou teoricamente o que o discurso de Tombini apresentara para o caso concreto do Banco Central.

Marcos Lisboa partiu do que considerou os fatos novos que iluminaram a ciência econômica nos anos 80: o advento dos modelos em que a competição entre firmas engendraria o aumento da produtividade, abrindo (novamente) espaço para as teorias de Schumpeter e a construção quase que exaustiva de uma base de dados de cerca de uma centena de países, o que possibilitou um salto qualitativo da análise empírica da diferenças entre os diversos países.

Esse procedimento, aplicado dentro de um país, aponta para a necessidade de análise sistemática dos resultados das políticas públicas, que podem ser muito diferentes dos esperados quando da formulação, em que pesem as boas intenções. Por outro lado, anotou a redenção da micro-economia para iluminar as políticas públicas, em particular no desenho ideal das instituições que dela participam. Defendeu, em grande parte do seu discurso, o desenho das instituições como peça central do processo de mudança e do processo de crescimento da renda.

As reformas institucionais são assim cruciais para provocar o aumento de produtividade que leva a um aumento da renda e do consumo da produção e do emprego. Elas nesse papel substituem muitas vezes as inovações tecnológicas. Trouxe vários exemplos em defesa dessa tese, tanto de países e regiões quanto de práticas dentro de um mesmo país: o custo elevado de execução de dívidas, por exemplo, que, dentre outros fatores, leva à inadimplência, que por sua vez eleva os juros praticados, afetando os investimentos.

Concluindo, propugnou pela consideração de que os resultados da política econômica são condicionados pelo sistema legal e pelo desenho de suas instituições.

Analisando o caso brasileiro defendeu as reformas introduzidas nos últimos vinte anos que levaram à consistente estabilidade econômica. Um novo mercado de crédito é, segundo Lisboa, a espinha dorsal desse novo edifício, sem esquecer a nova lei de falências, a descentralização dos recursos para saúde e educação e os programas de transferência de renda.

Defendeu um sistema de avaliação da eficácia das políticas públicas e adoção de várias reformas pontuais para dar maior fluidez aos investimentos e assim engendrar um novo ciclo virtuoso da economia brasileira. Dentre estas é oportuno citar o incentivo à captação e ao financiamento de longo prazo, de longa data uma limitação do sistema de crédito brasileiro.

Encerrou sua fala com homenagem aos colegas de trabalho, ao trabalho em equipe e com palavras de pungente emoção à sua família. Um belíssimo discurso!

Clique aqui para fazer o download do discurso.



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