Diplomacia e Relações Internacionais
A cultura das "facilidades" academicas: uma praga universal
Volta e meio eu recebo uma oferta de algum serviço qualquer para me "ajudar" a escrever minha monografia de graduação, ou talvez até a dissertação de mestrado. Também são proverbiais esses pequenos anúncios em murais de faculdades no Brasil que prometem salvar alguns alunos do desespero da redação da monografia final.
Já condenei um aluno por cópia "criativa" de materiais da internet em trabalho de mestrado, e não costumo hesitar em casos de plagiarismo deliberado: reprovação e exclusão, o que é o mínimo que um copiador contumaz merece como punição.
Mas esse tipo de serviço de redação não é exclusivo do Brasil, ou dos países com regras "flexíveis", digamos assim, de propriedade intelectual e de "produtividade" universitária.
Os Estados Unidos estão bem à frente do Brasil na promoção de serviços desse tipo, como constatei ao cair, por acaso, neste site.
Não pretendo fazer publicidade, mas me pareceu bem organizado e bastante profissional; ou seja: o candidato a ter seu trabalho redigido sem esforço pode recorrer a esse tipo de serviço sem temor de violação do direito autoral de algum autor, segundo se anuncia.
Provavelmente são estudantes universitários de final de curso, ou de pós-graduação que encontraram uma maneira intelectual de ganhar um dinheiro extra, escrevendo ensaios originais sob encomenda.
No serviço público, especialmente na diplomacia, é o que mais ocorre, aliás: todo embaixador, barão da diplomacia, possui seu exército de
ghost-writers, ou de
nègres, como dizem os franceses, para redigir discursos, artigos de imprensa, por vezes até livros.
Em minhas encarnações prévias como secretário, talvez até como conselheiro de carreira, já fiz muito texto para outros colegas graduados, tudo devidamente registrado (mas nåo divulgado). Era, digamos assim, uma obrigação, tanto que um dos motes do Itamaraty nesse setor de serviços especializados reza mais ou menos assim: "você só assina artigos quando não mais os escreve".
Creio que é uma prática mais comum do que aparente, e os praticantes geralmente usam aquela linguagem melosa, o diplomatês, que diz muito e não explica absolutamente nada: cooperação ampliada, aumento das relações bilaterais, amizade entre nossos dois povos, sólida história de interesses partilhados, progresso conjunto, coordenação em foros multilaterais, construção de novas vias para o desenvolvimento recíproco, garantias de paz e de estabilidade, defesa do regime democrático, respeito aos direitos humanos, promoção de laços culturais, reforço das instituições multilaterais, construção de um mundo de prosperidade, enfim, o
bullshit habitual nesse tipo de "negócio".
Confesso que nunca fui capaz de escrever nessa linguagem empolada e jamais me pediram para "enriquecer" o texto com aqueles adjetivos supérfluos, tanto porque eu não o faria, assim como seria incapaz de mentir descaradamente a respeito de algum ditador, por exemplo. Quando me pediram para escrever algo de que eu discordava, por razões de princípio, simplesmente nunca o fiz, e nunca me arrependi de ter recusado.
Um dia vou fazer a minha listagem em claro de "trabalhos para terceiros", mas vou esperar os clientes sairem de cena, pelo menos.
É o que se pode chamar de trabalho não remunerado, inevitável em certas circunstâncias...
Paulo Roberto de Almeida
(Zhengzhou, 21 de agosto de 2010)
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