Politica economica: de Chicago para Joaquim Levy - Rubem de Freitas Novaes
Diplomacia e Relações Internacionais

Politica economica: de Chicago para Joaquim Levy - Rubem de Freitas Novaes


Acho que tudo está dito, mas se me permite, talvez eu complete um pouco:
Caro Joaquim Levy,
Pense em sua biografia e em sua responsabilidade para com o povo brasileiro. Não participe de uma farsa ou da montagem de um espetáculo que pode respingar sobre sua própria reputação, de homem comprometido com o bem-estar da população e com o progresso do país, de economista coerente com certos princípios, que você aprendeu em Chicago, justamente.
Paulo Roberto de Almeida

De: CHICAGO     Para: JOAQUIM LEVY 
 Rubem de Freitas Novaes*
Caro Levy,
A você demos o título de Ph.D. em Economia e isto lhe impõe certas responsabilidades. Como bem sabe, nestes 45 anos que se passaram desde a criação do Prêmio Nobel para economistas, nada menos que 30 professores laureados eram de alguma forma associados à Universidade de Chicago. Milton Friedman e Friedrich Von Hayek, ex professores nossos, só ficam atrás de Karl Marx, Adam Smith e John Maynard Keynes nas citações na literatura, o que os coloca entre os 5 economistas mais influentes da História. Milton Friedman, seu mestre, é considerado por muitos, inclusive pelo keynesiano Gregory Mankiw, de Harvard, como “o economista do século XX”. Influenciamos sobremaneira a revolução liberal da segunda metade do século passado, ajudando a moldar a política econômica de Reagan e Thatcher e dando as bases para o processo de globalização que viria atingir inclusive a China. Aí, na sua América Latina, colegas seus, orientados por nossos professores, transformaram o Chile, de um país apenas mediano na década de 70, na economia mais rica da região em termos per capita e no país menos corrupto, já que a redução com simplificação do Estado é a melhor receita para o combate da corrupção. Nada impede que o mesmo processo saneador possa ocorrer no Brasil,
Ficamos satisfeitos em ver que, num momento de quase desespero, diante de tantos problemas acumulados por imperícia da atual equipe econômica, o nome de um típico “Chicago-boy” foi lembrado para correções de rumo e para evitar a perda do grau de investimento do Brasil. Entretanto, como você está bem ciente, a situação chegou a um ponto crítico onde não restam graus de liberdade para os gestores da economia. Seja na inflação, no crescimento, nas contas correntes, nas contas públicas, na confiança empresarial, para onde quer que olhemos, o quadro é preocupante. Até nas reservas externas passamos a correr riscos, caso não se altere a percepção das agências de “rating” em relação ao Brasil.
Pois bem, diante de um quadro dramático como este, um só Ministro ciente do que precisa ser feito não basta para a obtenção de resultados consistentes. É obra para todo um governo que precisa estar imbuído dos mesmos convencimentos sobre a natureza dos problemas e sobre as melhores medidas a serem implementadas. É aqui que começam nossas preocupações. A Presidente não acredita no nosso receituário e pode ser tida como adversária de nosso ideário liberal. Tememos que esteja usando o prestígio de um novo ministro perante o mercado apenas para evitar crises iminentes. Ao anunciar a sua escolha oficialmente, não se deu ao trabalho de prestigiá-lo comparecendo à entrevista. Seu companheiro de Ministério fez questão de lembrar a todos que você, Levy, seria Ministro de um governo reeleito pelo voto popular, sinal portanto de continuidade. Em lugar de uma posse com todas as pompas de praxe, onde comparece usualmente metade do PIB para o beija-mão e se faz a apresentação de uma equipe ministerial consistente, foi-lhe oferecida uma salinha de transição no terceiro andar do Palácio, onde você ficará dependente dos préstimos de ministros veteranos que, diga-se de passagem, não lhe dedicam qualquer apreço. Parece que você está sendo devidamente “enquadrado” num sistema pré-existente e tratado simplesmente como um assessor da “Presidenta” para assuntos de cortes orçamentários. Para quem imaginava que você chegaria com espírito de curador interventor, com total liberdade e autonomia para gerir a economia, foi uma decepção.
Caso se confirme um quadro de limitações e impedimentos para a adoção de uma administração nos moldes Palocci/Meirelles, sua gestão não terá êxito e os resultados negativos serão debitados a você e a seu liberalismo ortodoxo. Portanto, daqui de Hyde Park, Chicago, desejamos que você consiga contornar as dificuldades e honrar a tradição de coerência e sucesso no trato da economia que carrega em seus ombros. E que nunca abandone seus princípios!

*O autor é Ph.D. pela Universidade de Chicago
http://www.institutoliberal.org.br/blog/de-chicago-para-joaquim-levy/



loading...

- A Frase Da Semana: Capitalismo De Estado, Pelo Salvador Dos Companheiros...
A história, ou a vida, tem dessas ironias: mas precisaria ser um Chicago-boy a salvar os companheiros deles mesmos? Leiam isto: Capitalismo de Estado não dá muito certo para uma democracia.  Quem é que disse? Ele mesmo: Joaquim "Mãos-de-Tesoura"...

- A Nau Sem Rumo Da Economia Brasileira: Ou Como Fritar Ministros Em Seis Meses - Octavio Costa
Ministro da Fazenda Joaquim Levy já vai pular do barco? Octávio Costa O Dia (Rio), 3/03/2015 Ao formar seu governo em 1979, o general João Figueiredo, último presidente da ditadura militar, ficou sem saber exatamente o que fazer com a economia e deu...

- Politica Economica Neoliberal Companheira: Se Renderam Os Aloprados... - Cristiano Romero (valor)
Isso que dá ficar brincando de aprendiz de feiticeiro. Depois é preciso chamar profissionais para limpar o estrago. Paulo Roberto de Almeida Dilma deu autonomia a Joaquim Levy Cristiano Romero Valor Econômico, 26/11/2014 Joaquim Levy ficou surpreso...

- O Espirito De Chicago: Alguns Principios Interessantes
Estou lendo, como distração entre trabalhos, este livro: Johan Van Overtveldt: The Chicago School: How the University of Chicago Assembled the Thinkers Who Revolutionized Economics and Business (Chicago: Agate, 2001) O autor sintetiza o que lhe pareceu...

- Kyenes E A Crise Atual - Rubem De Freitas Novaes
Lord Keynes e a Crise Rubem de Freitas Novaes * A crise econômica atual, com sua tendência depressiva, com seus socorros a instituições financeiras e a empresas e com seus programas de obras e gastos de custeio públicos, traz à baila o grande debate...



Diplomacia e Relações Internacionais








.