Japao: demografia declinante - Alexandre Vidal Porto
Diplomacia e Relações Internacionais

Japao: demografia declinante - Alexandre Vidal Porto


Onde as crianças nascem menos
Alexandre Vidal Porto
Folha de S. Paulo, 5 de janeiro de 2013

População do Japão não para de cair; vendem-se mais fraldas para adultos que para crianças no país

NO JAPÃO, a cada 31 segundos, nasce uma pessoa. A cada 26, morre outra. Ou seja, tem mais gente morrendo que nascendo.

Desde 2007, a população japonesa não para de diminuir. Segundo o governo, de 2011 a 2012, o país perdeu o número recorde de 212 mil pessoas. Nesse ritmo, até 2060, os japoneses, hoje 128 milhões, estariam reduzidos a 86 milhões apenas.

Em 2012, nasceram 18 mil crianças a menos que em 2011. Essa tendência está diretamente vinculada à baixa taxa de fertilidade das japonesas. Hoje, a média de filhos por mulher é de 1,39. Para que a população se mantivesse estável, seria necessário que ela alcançasse 2,1.

A redução do número de filhos é explicada, ao menos parcialmente, por razões econômicas. A conjuntura de recessão desencoraja a constituição de novas famílias. As pessoas se casam menos e mais tarde. A manutenção de um filho é cara: em 2009, os cinco primeiros anos de educação infantil custavam cerca de US$ 73 mil, 2,5 vezes mais que nos Estados Unidos, por exemplo.

Além disso, ter filhos dificulta o avanço profissional das mulheres. Como trabalhar 15 horas por dia - coisa comum no Japão- quando se tem criança pequena em casa? Diante desse dilema, número cada vez maior de mulheres tem priorizado a carreira profissional e decidido não ter filhos.

Com a redução no número de nascimentos e uma das expectativas de vida mais elevadas do planeta, o Japão se transformou no país desenvolvido com a mais alta proporção de idosos. No mercado japonês, vendem-se mais fraldas descartáveis para adultos que para crianças. Hoje, 24% da população total é de idosos. Em 2060, os idosos serão 40%.

Essa tendência é uma bomba-relógio populacional. A cada cem segundos, o Japão tem uma criança a menos. Segundo Hiroshi Yoshida, professor de economia da Universidade de Tohoku, a prevalecer esse quadro, em maio de 3011, não haverá mais crianças no país.

O envelhecimento da população imporá sobrecarga crescente ao sistema previdenciário. Também terá impacto sobre o nível da produtividade e o ritmo do crescimento. Agora, mesmo que a taxa de fertilidade subisse, tomaria mais de uma geração para que a diferença pudesse ser economicamente verificada.

A incorporação de imigrantes poderia ajudar a compensar o deficit demográfico, mas essa hipótese parece não ser considerada pelas autoridades japonesas. O governo está ciente da questão e estabeleceu um ministério específico para o tema. Algumas políticas têm sido implementadas, mas os resultados têm ficado aquém das expectativas.

Contudo, a despeito do que faça o governo, é fundamental que a comunidade empresarial reconheça e assuma seu quinhão de responsabilidade. É importante para toda a nação que a cultura corporativa e o ambiente laboral incorporem regras de proteção ao convívio familiar e protejam o avanço profissional das trabalhadoras com filhos. A contribuição que as mulheres japonesas podem dar ao sistema produtivo de seu país, mais do que valiosa, é necessária. Não deve ser desprezada.

ALEXANDRE VIDAL PORTO é escritor e diplomata. Este artigo reflete apenas as opiniões do autor.



loading...

- Os Idiotas Vao Herdar O Mundo? - Luiz Felipe Ponde
Quem herdará a Terra?LUIZ FELIPE PONDÉ Folha de S.Paulo, 10/02/2014 A emancipação feminina tornou as mulheres inférteis por escolha. Estranho? Nem tantoA sociedade secular moderna está condenada. E por quê? Por uma razão muito simples: as mulheres...

- Ignorancia Mata Mais Criancas Do Que Pobreza E Falta De Esgoto
Mortalidade infantil está diretamente associada à falta de estudo dos paisLucas de Abreu Maia, José Roberto de Toledo e Rodrigo BurgarelliO Estado de S.Paulo, 26/08/2013 Estatística compilada pelo 'Estadão Dados' mostra que, para cada...

- A Diminuicao Da Populacao Economicamente Ativa - Fabio Giambiagi
PÁGINA DA CIDADANIA MILLENIUM EXPLICA SALA DE AULA NAS REDAÇÕESDemografia (VIII): a queda da PEAFabio Giambiagi Valor Econômico, 14/08/2013 Nesta série de artigos que estou escrevendo acerca de temas demográficos, em nossos encontros...

- Que Tal Acabar Com Algumas Mordomias, No Brasil? - Fabio Giambiagi
Na verdade, o autor não pretende acabar com nenhuma mordomia (até deveria, no caso dos funcionários públicos). Apenas chamar a atenção para alguns desenvolvimentos demográficos dramáticos... Paulo Roberto de Almeida  Contrarreforma na Previdência...

- Sintese Dos Indicadores Sociais Do Brasil - Pnad-ibge
Não apenas a tragédia educacional como refletida no título da matéria, mas também a dependência dos programas sociais -- que, como alertado diversas vezes aqui, cria um exército de assistindos "inextinguível" -- e uma maioria de negros e pardos...



Diplomacia e Relações Internacionais








.