Entre reduzir a pobreza ou a desigualdade, fique sempre com a primeira - Joel Pinheiro da Fonseca (Mises)
Diplomacia e Relações Internacionais

Entre reduzir a pobreza ou a desigualdade, fique sempre com a primeira - Joel Pinheiro da Fonseca (Mises)


É o que eu sempre digo a respeito do livro do Piketty, um talento desperdiçado. O mundo possui, por baixo, dois a 3 bilhões de pobres, sendo que várias centenas de milhões são miseráveis absolutos (não por culpa dos ricos, claro, geralmente por culpa dos governos e suas políticas econômicas). Mas o cara escolhe escrever um tijolo de 700 páginas apenas para se ocupar da desigualdade, em lugar da pobreza, que continua sendo o problema fundamental da humanidade.
Se o punhado de trilionários ganhou sua fortuna por meios legítimos, não há o que objetar, salvo a inveja ou o despeito de alguns, talvez socialistas como esse economista.
Muitos o fizeram por vias não ortodoxas (aí se trata de um problema policial) ou porque foram beneficiados por políticas ou medidas governamentais do tipo "amigo do rei", como no caso do "empresário do PT", que queria ser o homem mais rico do mundo (e aí se trata de um problema político-policial).
Economistas competentes estão perdendo uma grande oportunidade para fazerem o bem à humanidade...
Paulo Roberto de Almeida

Em vez de culpar a desigualdade, pense em criar mais riqueza
por Joel Pinheiro da Fonseca, quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

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Em 30 anos, o crescimento assombroso da China tirou nada menos do que 680 milhões de pessoas da miséria, dando-lhes renda e acessos a bens e serviços nunca sonhados por uma população que passava fome nas plantações de arroz.  Só que, vejam só, a desigualdade chinesa também aumentou nesse mesmo período. 

Além dos miseráveis que subiram de vida, criou-se uma classe política e empresarial de super-ricos que concentra cada vez mais riqueza. Praticamente todo mundo está melhor, ainda que alguns poucos tenham ganho mais do que a maioria. 

Essa é a cara do desenvolvimento capitalista (ainda que a China esteja longe de ser um país liberal): todos ganham, mas nem todos ganham a mesma coisa.  E aí, o que é melhor para os chineses?  Ter renda e consumo sabendo que a elite de seu país é muito mais rica do que eles jamais serão, ou passar fome com o consolo de que sua elite é formada de milionários e não bilionários? Pobreza ou desigualdade? 

Se o nosso objetivo é melhorar as condições de vida humana, dando uma vida digna a todos, nossa preocupação é com a pobreza, e não com a desigualdade.

Pobreza diz respeito às condições absolutas em que alguém se encontra. Tem comida? Acesso a água potável? Habitação? Trabalho? Seus filhos podem frequentar uma escola ou se veem forçados a trabalhar? Os critérios são muitos.

Já desigualdade é uma variável relativa, que nada diz sobre as condições absolutas de vida. Para saber se um país é desigual, é preciso comparar seus habitantes mais ricos e mais pobres e ver a distância entre eles. Um país que tenha uma pequena parcela de milionários e o restante da população passe fome é muito desigual. Já um onde todos passem fome é igualitário. A condição objetiva dos pobres em ambos, contudo, é a mesma. 

Igualmente, se os mais pobres viverem como milionários, e os mais ricos sejam uma pequena parcela de trilionários, a desigualdade é grande.

As duas coisas, pobreza e desigualdade, se confundem facilmente, de modo que muita gente que se preocupa espontaneamente com a pobreza (que se preocupa, por exemplo, com quem não tem acesso a saneamento básico, ou a educação) acaba falando de desigualdade: da diferença entre os mais ricos e os mais pobres. E essa mistura muda nossa maneira de pensar: acabamos pensando que pobreza e desigualdade são a mesma coisa e que, portanto, o melhor remédio contra a pobreza é a redução da desigualdade, o que via de regra significa tirar de quem tem mais e dar para quem tem menos. 

Novamente, a China ou mesmo a história europeia nos últimos dois séculos mostra que não precisa ser assim.

A tendência mundial das últimas décadas tem sido o aumento da desigualdade dentro de cada país. Mas se olharmos para o mundo como um todo, comparando cidadãos de países pobres com os de países ricos como se a Terra fosse uma grande nação, a desigualdade vem caindo. A distância entre o cidadão médio de um país pobre para o de um país rico diminuiu, ainda que, no mundo todo, a classe dos mais ricos venha concentrando mais renda.

O principal índice para se medir a desigualdade econômica dentro dos países é o índice de GINI. Em geral, maior riqueza está associada a maior igualdade; só que há muitas e muitas exceções.  Pelo índice de GINI, os EUA são mais desiguais que o Senegal. O Afeganistão é das nações mais igualitárias do mundo (o Canadá é mais desigual que o Afeganistão).   

O Brasil, mesmo com sua altíssima carga tributária, segue sendo um dos países mais desiguais do mundo (outra ilustração da ineficiência de nosso estado em fazer aquilo a que ele se propõe), mas não é nem de longe o mais pobre. O pobre brasileiro, por pior que seja sua condição de vida, está melhor que o pobre indiano, apesar de viver numa nação muito mais desigual.

Pelo mesmo índice, o Canadá é mais desigual que Bangladesh, a Nova Zelândia é mais desigual que o Timor Leste, a Austrália é mais desigual que o Cazaquistão, o Japão é mais desigual que o Nepal e a Etiópia.

É um fato que a desigualdade desagrada a muitos. Ofende o senso moral de muita gente pensar que uma pessoa tenha riqueza brutalmente maior do que outra sem ter tido o mesmo esforço, ou o mesmo mérito, para consegui-la. Herança talvez de uma ética do trabalho, que não consegue aceitar a riqueza (ou o prazer de maneira geral) exceto como recompensa de privações, esforço, sacrifício. Ou ainda da visão antiga de que é a riqueza dos ricos que causa a pobreza dos pobres.

A transferência de renda, embora talvez útil para aliviar situações agudas de pobreza, é um meio ineficiente para promover a geração sustentável de riqueza. Relações ganha-ganha geram um ciclo virtuoso, aumentando a riqueza total, que nos permite deixar para trás o eterno cabo de guerra por uma riqueza estanque.

Imagine se a China tivesse parado nos anos 1970, brigando para repartir o minúsculo bolo que era sua economia. Hoje o bolo cresceu, mas também os super-ricos. Se conseguíssemos, pela primeira vez em muitos séculos, olhar para fortunas imensas sem sentir indignação, o mundo talvez virasse um lugar melhor.

Texto originalmente publicado no site do Spotniks

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Leia também: "Vamos debater as causas da pobreza!" 

Joel Pinheiro da Fonseca é mestre em filosofia e escreve no site spotniks.com." Siga-o no Twitter: @JoelPinheiro85 



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