E por falar em exportações e importações, um artigo de Gary North
Diplomacia e Relações Internacionais

E por falar em exportações e importações, um artigo de Gary North


Agradeço ao Eduardo, do Rio de Janeiro, esta remessa sempre bem vinda.
Paulo Roberto de Almeida

Qual o benefício de exportar mais do que importar?
por Gary North, segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

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Guido Mantega cumprindo sua função: atender ao lobby dos exportadores, espoliando o poder de compra do resto da população brasileira
Ao longo dos últimos 300 anos, o senso comum reinante entre os economistas convencionais, a mídia e os leigos é o de que um país estará em melhor situação se ele exportar mais bens e serviços do que ele importa.  A crença dominante é a de que, se um país é um exportador líquido, então este país é uma verdadeira usina de prosperidade.
É por isso que, segundo este raciocínio, a China é considerada por esses economistas e seus seguidores na mídia uma potência econômica.  O país é competitivo por causa de sua capacidade de exportar muitos bens para outros países.  Porém, para fazer isso, há uma contrapartida: a China inevitavelmente tem de aceitar notas promissórias dos estrangeiros. 
Quando um país exporta bens, o que ele recebe em troca são meros dígitos eletrônicos contabilizados em moeda estrangeira — atualmente, o dólar.  Como o dólar não é moeda corrente na esmagadora maioria das nações do globo, o que um país exportador recebe, na realidade, é um título da dívida do governo americano.  Os dólares digitais que este país recebe em decorrência de suas exportações são reinvestidos nos EUA, na aquisição de títulos do governo americano.  No balancete do Banco Central, esta aquisição de títulos do governo é contabilizada como "reservas internacionais".
O que realmente ocorre é o seguinte: indivíduos que trabalham no ramo da exportação estão dispostos a aceitar notas promissórias, ou outros tipos de ativos baseados em dígitos eletrônicos, em troca de bens físicos.  O exportador recebe dinheiro eletrônico — no caso, dólares americanos — em sua conta bancária.  Para ele, estes dólares têm valor.  Se não tivesse, ele não teria exportado os bens.  Ele pode trocar estes dólares por sua moeda doméstica (no caso, ele vende dólares ao seu banco, que irá creditar sua conta-corrente com moeda nacional) ou ele pode manter estes dólares no exterior, depositado em um banco estrangeiro.  Talvez ele prefira comprar ações ou outros ativos estrangeiros que são vendidos em dólares.  A questão é que esse exportador está disposto a aceitar notas promissórias — no caso, promessas digitais — em troca de seus bens reais.  Esta é o único princípio por trás da exportação.
Os EUA são o exemplo clássico de um país que importa muito mais bens do que exporta.  No entanto, os EUA também são considerados uma potência econômica.  Por quê?  Porque estrangeiros estão sempre dispostos a investir no país.  O problema é que o investimento favorito é a compra de títulos emitidos pelo Tesouro americano.  Embora alguns investidores estrangeiros comprem estes títulos, quem os compra em sua esmagadora maioria são os bancos centrais estrangeiros.  Os bancos centrais estrangeiros compram títulos do governo americano porque seus respectivos governos querem manter suas moedas nacionais depreciadas em relação ao dólar, de modo a aumentar as exportações para os EUA.  Em outras palavras, o governo chinês é a real fonte do poderio exportador daquela nação, pois é ele quem manipula o mercado de câmbio para favorecer suas indústrias exportadoras.
Utilizar o poder estatal para subsidiar uma pequena porcentagem da população doméstica (os exportadores, cujo lobby é poderoso em qualquer nação do mundo) ao mesmo tempo em que se prejudica a esmagadora maioria da população (os consumidores, que não têm lobby em nenhuma nação do mundo) é a norma atual em todas as grandes economias do globo.  E a retórica utilizada também é a mesma: beneficiar alguns poucos em detrimento de todo o resto é algo que se faz em nome do fortalecimento da nação. 
O argumento, como em todas as promessas governamentais, é totalmente falacioso.
O que fortalece a população de um país é ter uma moeda previsível.  Isso faz com que os prognósticos de investimento sejam mais fáceis.  A preocupação das pessoas com relação às flutuações do valor da moeda é reduzida.  Mas é impossível obter uma moeda previsível em termos internacionais, pois os governos dos outros países estão continuamente manipulando suas moedas, quase sempre por meio da expansão da oferta monetária.  Em outras palavras, todos os bancos centrais estrangeiros inflacionam.  Sendo assim, uma moeda doméstica cuja oferta seja constante irá se apreciar continuamente em relação às moedas estrangeiras.  Isso significa que seu poder de compra irá aumentar continuamente.  Não haverá taxas de câmbio estáveis entre os países.
Se o Banco Central de um determinado país estivesse operando sob um padrão-ouro genuíno, ele não poderia inflacionar desmedidamente a moeda deste país.  O mesmo valeria para seu sistema bancário de reservas fracionárias.  Qualquer banco que expandisse o crédito enfrentaria uma corrida em seu estoque de moedas de ouro.  Suas reservas de ouro iriam se exaurir rapidamente.  Portanto, o temor de uma corrida bancária, na qual os correntistas apresentam seu dinheiro digital e exigem restituição em moedas de ouro, restringiria a expansão da oferta monetária.  Isso significa que a moeda deste país irá se apreciar em relação a todas as moedas estrangeiras que não estão restringidas por tal ameaça.  Isso significa que os cidadãos que residem na nação sob o padrão-ouro poderiam importar bens estrangeiros a preços decrescentes.  A cada ano as importações estariam mais baratas.  Como consumidores, estes cidadãos seriam beneficiadas e seu padrão de vida aumentaria a cada ano.
Supondo que estas pessoas estão produzindo bens de valor, o que significa que elas estão adquirindo uma moeda denominada em ouro, seu patrimônio líquido está aumentando continuamente.  Por quê?  Porque, com a mesma quantidade de dinheiro, elas podem comprar quantidades cada vez maiores de bens importados.  Elas estão vivenciando aquilo que todos nós adoramos vivenciar: preços cada vez menores para os bens e serviços que desejamos comprar.
Dado que há uma quantidade muito maior de pessoas voltadas para o mercado doméstico do que para as exportações, uma política de moeda estável iria beneficiar aquelas pessoas que são mais produtivas, mais economicamente eficientes e que melhor atendem às demandas da população.  Estas conseguiriam obter um fluxo contínuo da moeda doméstica.  Seu custo de vida cairia ano após ano, de forma consistente, porque os bancos centrais estrangeiros estão inflacionando suas respectivas moedas.  O valor daquelas moedas em relação à moeda estável deste país cairia continuamente.
Logo, uma moeda estável traria um grande benefício para aqueles consumidores que vivem sob este padrão-ouro.  E estes consumidores formam a esmagadora maioria dos consumidores de um país.  Apenas uma relativamente pequena porcentagem dos empreendedores e trabalhadores de uma nação está no setor exportador da economia.  É por isso que a desvalorização da moeda nacional é um subsídio apenas para uma minoria de empresários e trabalhadores.  A vasta maioria dos residentes desta nação é prejudicada.  Ela é obrigada a pagar mais caro por bens importados por causa da política de seu Banco Central de inflacionar a oferta monetária a fim de manter a moeda nacional desvalorizada perante as outras moedas. 
Ao depreciarem sua própria moeda, os planejadores monetários estão prejudicando os interesses da grande maioria dos cidadãos desta nação.  O subsídio beneficia apenas uma minoria.  O fato de haver uma enorme quantidade de pessoas na maioria permite que sua riqueza seja espoliada por meio da inflação da oferta monetária, permitindo ao setor exportador ganhar receitas acima das de mercado ao exportar seus bens.  Uma minoria não pode subsidiar uma maioria.  Sempre tem de ser ao contrário.
Portanto, uma economia com uma moeda estável irá beneficiar a grande maioria de seus cidadãos, os quais poderão comprar a preços continuamente mais baixos.  Essa verdade econômica irrita os defensores do mercantilismo.  Eles dizem que tal política é maléfica.  Eles estão convencidos de que ter um Banco Central depreciando continuamente a moeda como forma de subsidiar o setor exportador é algo extremamente benéfico para uma nação, e que a reduzida quantidade de bens e serviços que estarão disponíveis para os consumidores domésticos (tanto em decorrência das menores importações quanto pelo fato de mais produtos domésticos estarem sendo exportados) é algo sem nenhuma importância.
Os defensores do mercantilismo jamais discutem a realidade econômica desta redistribuição de riqueza.  Eles jamais apontam para aquela incontestável realidade: que a esmagadora maioria dos cidadãos é obrigada a arcar com perdas econômicas, principalmente quando se leva em conta os ganhos que obteriam caso pudessem adquirir bens estrangeiros a preços cada vez menores.
A vasta maioria dos cidadãos de qualquer país não faz a mais mínima ideia da relação entre expansão monetária e redução das importações.  Eles não entendem que estão sendo prejudicados pela política de depreciação monetária feita pelo seu governo.  Se eles entendessem de economia, iriam imediatamente exigir um padrão-ouro puro, e iriam prontamente se beneficiar do crescente valor internacional de sua moeda nacional.  Como iriam se beneficiar?  Podendo comprar uma quantia cada vez maior de bens estrangeiros a preços cada vez menores.
Infelizmente, são tão poucas as pessoas que entendem de lógica econômica, que este subsídio coercivamente extraído de uma maioria para uma minoria não é visto como um programa de transferência de riqueza dos mais pobres (consumidores comuns) para os mais ricos (barões do setor exportador).  Sempre que o governo de um país adota o mercantilismo — algo que ocorre a aproximadamente 100% do tempo —, ele o faz sabendo que praticamente ninguém compreende que aquela política prejudica a vasta maioria dos cidadãos e beneficia apenas uma minoria que está no setor exportador da economia.  Mais ainda: ele o faz sabendo inclusive que contará com o resoluto apoio da mídia e dos desinformados de plantão, que acreditam que um "setor exportador subsidiado fortalece a economia do país".
O mundo está hoje adotando políticas de depreciação monetária competitiva.  Se um país deprecia sua moeda, o outro quer depreciar mais. "Tudo pelos exportadores!" Isso irá prejudicar severamente a vasta maioria dos cidadãos de todas as nações.  Eles não poderão usufruir o benefício de ter uma moeda doméstica forte, algo que os permitiria importar mais bens estrangeiros.  Eles seriam capazes de adquirir os bens e serviços que quisessem, a preços continuamente declinantes, caso sua moeda nacional fosse baseada em um padrão-ouro.  Caso desfrutassem de plena conversibilidade em ouro — isto é, caso pudessem ir a um banco para trocar dinheiro digital por moedas de ouro —, eles vivenciariam um padrão de vida crescente.  Mas como eles não entendem de economia, eles aceitam (e até aplaudem) as políticas mercantilistas de seu governo.  Eles aceitam que sua moeda seja depreciada e seu padrão de vida seja reduzido.  Eles aceitam ser roubados em prol da boa vida dos exportadores.  Eles gostam de ver seus bens sendo enviados para estrangeiros a troco de nada (apenas os exportadores ficam com as notas promissórias).
É lamentável que a maioria das pessoas não entenda de economia.  Para os exportadores, no entanto, que se beneficiam deste assalto ao poder de compra da população, essa ignorância econômica de seus compatriotas é uma dádiva.  Dado que é impossível ganhar algo a troco de nada, o que ocorre é que um pequeno grupo de exportadores ganha muito e, em troca, o restante das massas fica com preços crescentes para quase todos os bens e serviços da economia.  E ainda bate palma.

Não deixe de ler todos os nossos artigos sobre protecionismo

Gary North , ex-membro adjunto do Mises Institute, é o autor de vários livros sobre economia, ética e história. Visite seu website. 



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